Economia chinesa ganha novos rumos para estimular consumo

Jornal GGN – O Partido Comunista chinês já deixou bem claro: não haverá nenhuma reforma política que possa ameaçar o governo. A informação foi divulgada por meio de um documento publicado em um jornal local no último dia 08 de novembro, véspera do início de uma reunião para estabelecer a agenda econômica da próxima década no país.

Apesar de os líderes do partido terem prometido reformas inéditas no encontro de quatro dias que acontece a portas fechadas, o foco do debate deve se concentrar em questões econômicas. Contudo, as mudanças podem ser consideráveis no modo em que a China passará a cuidar de sua economia e a maneira com que a população estará diretamente envolvida no processo.

O analista de relações internacionais do Conselho Empresarial Brasil-China, Tulio Cariello, explica que a reforma proposta tentará mudar o perfil de investimento chinês. “Antes tínhamos uma economia baseada nos investimentos internos, que era o que impulsionava a economia doméstica. A partir de algum momento, eles terão que parar com obras públicas e transformar esse motor em estímulo ao consumo da população. Menos focado no papel do estado e mais focado na população em si, o que levaria a economia pra frente”, prevê. “Para que se tenha uma ideia das prioridades, a quem espera a abertura política: em outubro passado, os chineses abriram uma zona franca em Xangai. Mas já no segundo dia de funcionamento, fizeram questão de esclarecer que haveriam medidas restritivas”, conta.

Números dissonantes

Roberto Dumas, professor do Insper que ministra um curso sobre economia chinesa, concorda que os números locais são “dissonantes”. “Eles não podem abrir todas as informações como nós fazemos e muitas outras nações fazem por causa do partido comunista. Sempre ficaremos à margem das interpretações”. Mas o economista alerta que o país não passa dos 6% já em 2013, contrariando as expectativas do mercado.

As dúvidas sobre os números chineses e o desencontro de informações muitas vezes prejudica os analistas a concluírem suas previsões. Em menos de uma semana, o mesmo país que anunciou o crescimento de 7% do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano também divulgou sua supercapacidade na produção de aço, vidro e outros artigos e viu a exportação de seus produtos cair vertiginosamente. Mas, afinal, em quem devemos confiar e por que isso acontece?

“Há algumas dúvidas sobre as estatísticas chinesas, em algumas áreas. Em qualquer lugar, os números podem ser revisados. Nos EUA, por exemplo, passarão por duas este ano. Neste tipo de estatísticas, a revisão é comum. Existem mudanças dependendo das características de cada país. Em longo prazo, os números são mais razoáveis. A China tem uma economia gigante em termos operacionais. Colher informações ali é muito complicado, até por uma falta de capacidade do governo de recolher informações para estes cálculos. Por isso, muitas vezes cometemos erros de grande magnitude: quando falamos em 7,5%, podemos contar com distorções. É um trabalho hercúleo de amostragem, difícil de fazer”, diz o presidente da consultoria Inter. B e consultor do Conselho Empresarial Brasil-China, Claudio Frischtak.

Transição

Ao contrário de Dumas, Frischtak ainda aposta nos 7,5% do PIB chinês. “Tivemos uma aceleração no segundo semestre, mesmo com os questionamentos de estabilidade. Qual a fragilidade maior? Setor financeiro, parte dos recursos que não são monitorados pelo BC. Probabilidade de crise é alta, mas não cremos nisso”, afirma.

O maior desafio é a economia política: como transitar para um outro tipo de economia? Ter mais consumo doméstico, menos exportações, menos alicerce na estatais, e um sistema financeiro mais liberalizado? É o que a liderança chinesa está decidida a fazer nos próximos anos. “A China deve partir para o estímulo do consumo interno. Aceleraram o investimento, mas estão tendo retornos descrescentes de capital. O mundo não voltou a consumir, ela precisa se ajustar. Precisa ligar o outro motor, que é o do consumo. De 1990 a 2012, o consumo caiu de 49% pra 34% do PIB chinês, e os investimentos subiram de 36 pra 51%. Estão tentando mandar seu excedente no Brasil e na África, sem muito sucesso”, diz Dumas.

Queda no consumo 

E por que o consumo caiu? “A renda do trabalhador caiu, já que o governo subsidia produção tirando riqueza da população, que despencou de 62% para 52% do PIB, em pouco mais de 20 anos”, explica Dumas, ressaltando que outro vilão da renda chinesa é a repressão financeira: a rentabilidade do dinheiro dos investidores locais é tabulada, e existe uma alta taxa para depósitos.

A solução para “rebalancear” a economia, segundo os analistas, é fazer com que o consumo cresça mais do que o PIB. Nos últimos anos, cresceu 9% ao ano, mas a produção consegue chegar aos 13%. O PIB precisa crescer menos do que o consumo,  ou a diferença de 3% – ou seja: 6%, segundo os economistas. A conta não bate.

 

Redação

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