Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Eletricidade: o motor das cidades do futuro, por Renato Queiroz

Enviado por Ronaldo Bicalho

Do Blog Infopetro

Eletricidade: o motor das cidades do futuro

por Renato Queiroz

O relatório “World Population Prospects- 2017 Revisions” (ONU 2017), divulgado em junho deste ano pelo Departamento dos Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, apresenta novas revisões das projeções demográficas dos países. Os números nos levam a pensar. Até 2030, ou seja nos próximos 13 anos, haverá um acréscimo de 1 bilhão de indivíduos no mundo e a população global alcançará 8,6 bilhões. As projeções para 2050 chegam a mais de 11 bilhões de habitantes.

Em 31 de outubro passado, Dia Mundial das Cidades, o chefe do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) (1), Joan Clos, ressaltou a necessidade de discutir e repensar as novas formas de administração das cidades, com inovações, já que mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas. Essa proporção deve atingir a 66 % em 2050, segundo a ONU. Vale destacar que, já em 2012, o Programa ONU-Habitat em seu relatório “Estado das Cidades da América Latina e Caribe” destacava que em 2020 a taxa de urbanização no Brasil deveria chegar a 90%.

De fato, a urbanização vem ocorrendo com muita rapidez. A população urbana cresce em progressão geométrica. Assiste-se ao fenômeno das megacidades com mais de 20 milhões de habitantes. As estatísticas mostram que cidades como Tóquio (38 milhões de habitantes), Nova Deli (25 milhões), Xangai (23 milhões) lideram esse ranking. Logo atrás tem-se: Cidade do México, Mumbai, São Paulo, Osaka e Pequim. Importante assinalar que, nos próximos 20 a 30 anos, haverá um aumento de cidades com mais de 10 milhões de habitantes.

Esse rápido crescimento da população urbana traz inúmeros desafios para os gestores dessas cidades. Hoje há um número significativo de pessoas que moram em comunidades pobres, favelas. As cidades não conseguem adicionar habitações rapidamente. E, cada vez mais, nesse cenário, a necessidade do uso da eletricidade é crescente. Assim, há que se ter um planejamento eficiente para suprir energeticamente o sistema de transporte urbano e o setor de serviços sob a tônica das mudanças climáticas, o que traz uma complexidade enorme para muitos países. Isso sem focar em outras necessidades que essas metrópoles demandam como novos empregos, escolas e postos de saúde.

Os especialistas em transporte estimam que cerca de 1 bilhão de veículos circulam, atualmente, nas áreas urbanas. A Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) divulga periodicamente informações sobre transporte. Segundo seu guia da indústria automobilística (ACEA (2016/2017), a taxa mundial de motorização (número de veículos por 1.000 habitantes) aumentou em 25 % na última década. A figura 1 abaixo apresenta a taxa e o aumento entre 2014 e 2016 por grupos de países selecionados.

Figura 1: Taxa de Motorização / Região

Fonte: ACEA – European Automobile Manufactures Association

Segundo a ONU (ONU-HABITAT), os efeitos da urbanização e das mudanças climáticas estão convergindo perigosamente. As cidades contribuem fortemente para tais efeitos no clima, embora cubram menos de 2% da superfície terrestre. As cidades consomem cerca de 80 % da energia mundial e produzem mais de 60% de todo o dióxido de carbono. Ainda emitem outros gases de efeito estufa, seja através da geração de energia, o uso de veículos, o funcionamento das indústrias. Alertam os Organismos voltados aos estudos do clima que, como as cidades são fortemente vulneráveis ​​às mudanças climáticas, milhares de pessoas em áreas urbanas em todo o mundo serão cada vez mais afetadas pelo aumento do nível do mar, inundações, tempestades mais frequentes e mais fortes e períodos de calor e frio mais extremos.

Um dos maiores especialistas em economia urbana da atualidade, o professor da Universidade Harvard, Edward Glaese, afirma em seus livros que ideias inovadoras de planejadores das cidades do futuro serão concretizadas pela indústria de tecnologia.

Que questões, no caso do Brasil, nesse contexto, pode-se fazer? O país está preparado para enfrentar os problemas de um desenvolvimento rápido de megalópoles? Há avaliações dos planejadores e/ou formadores de políticas públicas sobre esse novo tempo de cidades inteligentes?

Há já uma realidade ocorrendo no mundo. As cidades de Seul, Barcelona, entre outras são exemplos a serem observadas. O futuro já chegou nessas e em outras cidades.

Os estudiosos apontam que desenvolvimento de tecnologias, disponibilidade de eletricidade e um planejamento e gestão coordenados compõem um tripé fundamental na implantação das metrópoles inteligentes.

As tecnologias de “smart cities” envolvem sensores e câmeras para monitoramento do deslocamento dos habitantes, de seus hábitos, de seus usos da energia, do fornecimento de água e de eletricidade. Abrangem ainda o gerenciamento de dados que correm nas redes de cabos de fibra óticas, o uso de aplicativos para facilitar os deslocamentos da população, etc.

A iniciativa privada e os incentivos públicos para implantação de “startups” têm um papel importante nesse pé do tripé. Essa transformação, cumpre assinalar, baseada em inovações irá caminhar irreversivelmente sob a tônica das tecnologias sustentáveis e eficiência energética.

Mas tudo isso necessita de eletricidade que será cada vez mais o vetor estratégico para mover toda a parafernália de equipamentos. É o outro pé do tripé que dará suporte à transformação de grandes cidades brasileiras em metrópoles inteligentes conectadas. A eletricidade é o motor das cidades inteligentes.

O sistema elétrico brasileiro terá que estar preparado para suportar essa revolução urbana. Mas o foco das políticas públicas no campo da energia, no entanto, parece estar distante desse caminho. Atualmente o cerne das discussões intragoverno sobre o setor elétrico é a venda de ativos estatais existentes. Esse tema vai na contramão das políticas públicas do mundo desenvolvido e não deveria ser, inclusive, o assunto principal das questões energéticas no Congresso Nacional. Por que não debater sobre a perda da competitividade da indústria brasileira face ao alto preço das tarifas de energia elétrica? O setor industrial cativo, por exemplo, ou seja, as pequenas indústrias, tem tido aumentos nas suas contas de energia elétrica nos últimos anos que ultrapassam 130 % (Pereira 2017). Desde 1995, quando um novo modelo do setor elétrico foi implantado, os aumentos tarifários foram significativos (ILUMINA 2017). Como corrigir essa distorção? Uma boa questão para Brasília colocar na mesa de discussões.

A Agência Internacional de Energia (AIE), em seu novo “Outlook”, indica como tema principal a generalização do uso da eletricidade através de energias limpas para limitar o aquecimento global pelos países. O tema continua como o mais importante da pauta desses conceituados relatórios que analisam o futuro do mundo energético. Para países que atualmente dependem muito do carvão para geração de eletricidade, como China e Índia, o relatório destaca a importância do uso do gás. Mas o ponto de realce é dedicado à eletricidade que deverá ter um papel ainda mais importante nas matrizes energéticas dos países.

O outro pé do tripé para a implantação das metrópoles inteligentes é a gestão coordenada e o planejamento dessas cidades. Um ponto a ser avaliado, considerando que o Brasil apresenta incertezas periódicas nos rumos de sua economia, é a participação do Estado no comando dessa gestão. O planejamento energético governamental poderia estar envolvido nesse contexto, sinalizando as políticas públicas. E deverá se engajar em prospectar os avanços tecnológicos para a implantação de cidades inteligentes no Brasil com um levantamento exaustivo de dados sobre o comportamento dos consumidores brasileiros montando um grande banco de informações. 

(…) Continua no Blog Infopetro.

 
Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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