Empreiteiro da Mendes Junior conta tudo, por Miguel do Rosário

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Pedro Penido dos Anjos

Empreiteiro abre o jogo sobre corrupção (em 1996…)

de O Cafezinho

Empreiteiro da Mendes Junior conta tudo

por Miguel do Rosário

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Um dos problemas da mídia brasileira é que ela inventa uma narrativa que não corresponde à realidade.

Apenas serve a um propósito político.

Segundo esta narrativa, a corrupção começou agora, com o PT.

É uma coisa esquizofrênica, porque no momento em que a Polícia Federal e o Ministério Público iniciam grandes investigações, que não poupam ninguém, nem membros do governo, nem gente da cúpula dos partidos governistas, ou seja, quando há efetivamente, combate à corrupção, pinta-se um quadro de descontrole administrativo que, na verdade, pertence ao passado.

A corrupção em grande escala sempre acontece nos bastidores do poder. Por isso, investigações que não atingem o próprio governo e os próprios partidos no poder não são objetivas.

Era o que acontecia antes. Não havia investigação. A Polícia Federal era uma ferramenta de partido, e suas atividades não poderiam jamais afetar a imagem do governo.  Ao final do governo FHC, chegou-se ao cúmulo do diretor da Polícia Federal ser um militante filiado ao PSDB.

Hoje, não. Hoje a Polícia Federal tem independência. Tanta independência que alguns setores são, inclusive, acusados de estarem à serviço da oposição.

Isso também não pode acontecer. A PF não pode servir nem ao governo, nem à oposição.

De qualquer forma, ninguém hoje nega que a PF tem muito mais autonomia do que jamais teve no passado. Investiga mais, possui mais estrutura (mais gente e mais recursos), e tem mais autonomia.

Dito isso, publico abaixo uma entrevista concedida à Istoé, em fevereiro de 1996, por Murilo Mendes, então presidente de uma das maiores empreiteiras nacionais, a Mendes Jr.

É uma entrevista com valor político e literário. Político, porque Mendes Jr. abre o jogo, às vezes diretamente, às vezes com insinuações, sobre a corrupção generalizada que existia na relação entre as empreiteiras e os governos.

A própria Istoé, no editorial daquela edição, deixa bem claro que a corrupção era a regra:

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Eu falei em “valor literário” da entrevista porque Murilo Mendes usa uma linguagem solta, cheia de palavrões, que expressa uma época que hoje parece tão distante do padrão politicamente correto que rege nossa imprensa.

Trechos com insinuações interessantes:

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“Serjão” era o apelido de Sergio Motta, o homem forte do governo FHC na relação com o congresso, acusado de ter sido o operador do esquema de propinas para a aprovação da emenda da reeleição. Esse é o homem com quem Murilo Mendes admite ter “conversa de empreiteiro”.

Além de operador político, Motta também era ministro da Comunicação, o homem que lidava diretamente com os grandes grupos de mídia, enchendo-os com dinheiro da publicidade institucional. Não existia esse negócio de “mídia técnica”. A grana era para Globo, Abril, Folha, Estadão, Istoé, e ponto final.

Trechos com confissões do presidente da Mendes Jr, sobre existência da cultura de propina:

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Entretanto, é de se notar a simpatia da Istoé pelo entrevistado, e pelas empreiteiras de maneira geral, mesmo sabendo que elas pagavam propina a funcionários do governo.

A entrevista é feita com explícito objetivo de defender o ponto-de-vista do presidente da Mendes Jr, cujos negócios sofriam com uma dívida de R$ 3 bilhões que o governo não queria pagar.

Ainda não havíamos chegado ao vale-tudo de hoje, em que, na ânsia de derrubar um governo eleito, a mídia não mais se preocupa com o destino das empresas e dos milhões de empregos agregados às suas atividades.

A íntegra da entrevista, e o editorial da Istoé podem ser vistos abaixo:

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Por onde andavam os

    Por onde andavam os prestigiosos Ministério Público, Polícia Federal e Judiciário?

    O que fizeram?

    E tem gente que fala que as ações que estão ocorrendo em vários níveis é por causa do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário!

    É por causa do PT e contra ele!

    1. Engavetador geral da republica

      O ministério público  ficou marcado nessa época  pela figura de seu procurador geral GERALDO BRINDEIRO , o engavetador geral da república .

      Se é para relembrar , veja o que VEJA falava sobre o procurador geral GERALDO : 

       

      Quase parando

      Brindeiro tem 4 514 processos
      na gaveta e – incrível – quer 
      um quarto mandato

      Malu Gaspar, de Brasília

       

      Ana Araujo
      Geraldo Brindeiro, procurador-geral da República: em campanha para ser reconduzido

      Edição 1 703 – 6 de junho de 2001

      Com seu terceiro mandato às vésperas do fim, o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, já está em campanha para ser reconduzido ao cargo mais uma vez. Nos últimos dias, foi visto pelos corredores do Congresso aliciando apoio entre parlamentares do PMDB e do PFL. Em seu périplo eleitoral, Brindeiro está enfrentando uma nova dificuldade nestes tempos em que a opinião pública dá sinais de exaustão com a impunidade. Sua célebre compulsão por engavetar processos, que outrora pareceu ao governo uma garantia de tranqüilidade, agora virou o principal entrave a sua recondução. Um dos articuladores políticos do governo resumiu o drama: a idéia é trocar Brindeiro por alguém mais dinâmico, mas, ao mesmo tempo, teme-se substituí-lo por alguém que exponha o governo ao “risco da surpresa”. Até agora, o nome da subprocuradora Maria Eliane Farias tem aparecido bem na bolsa de apostas. Se for mesmo indicada, e tiver de mostrar dinamismo, que ela se prepare: a gaveta de Brindeiro é uma enormidade.

      Na semana passada, VEJA concluiu um levantamento sobre os processos que passam pela mesa de Brindeiro. Pela primeira vez, tem-se uma idéia precisa daquilo que lhe valeu o apelido de “engavetador-geral da República”. Na gaveta de Brindeiro, existem nada menos que 4.514 processos, todos à espera de algum parecer seu. Para limpá-la até o fim do atual mandato, que acaba em 28 de junho, Brindeiro teria de analisar 161 casos por dia, sem direito a folga nos sábados e domingos. Dos 4.514 processos, a maioria é formada por pedidos de intervenção em Estados por descumprimento da Constituição estadual ou de ordem judicial. São 2.176, ou 48% do total. Os demais processos referem-se a uma infinidade de questões diferentes: inquéritos, ações civis, ações que contestam a constitucionalidade de alguma medida do governo, cartas criminais, problemas de extradição, prisões preventivas, mandados de segurança, habeas-corpus, embargos, petições.

      Cinco velinhas – O que mais chama a atenção, no entanto, são os inquéritos. Eles tratam de investigações criminais contra autoridades estaduais ou federais, como governadores, deputados, senadores, ministros e presidente da República. É um tipo de processo que só anda se tiver um parecer de Brindeiro. Do contrário, fica parado – e a denúncia, não importa se correta ou leviana, pode chegar à prescrição sem que o processo tenha trocado de escaninho na Justiça. Desde que assumiu o cargo, em junho de 1995, Brindeiro já recebeu 626 inquéritos. A maior parte, 242, até hoje não mereceu a deferência de um parecerzinho do procurador-geral, seja contra ou a favor, sendo que a maioria tem deputados federais como réus (veja tabelas).Há inquéritos que já assopraram velinhas de cinco anos na gaveta, como o que acusa o atual senador Iris Rezende, do PMDB de Goiás, e o atual presidente nacional do partido, Maguito Vilela, de terem cometido crime eleitoral no pleito de 1996.

      A gaveta de Brindeiro é democrática, não faz distinção de cores ideológicas. Está lá, por exemplo, um inquérito em que o deputado verde Fernando Gabeira é acusado de plantar maconha. Estão lá os dezenove processos contra a deputada Angela Guadagnin, do PT paulista. Também dormiram em sua gaveta os 27 inquéritos contra o ex-senador Ernandes Amorim, do PPB de Rondônia – até que a maioria dos casos acabou sendo remetida para a Justiça comum porque Brindeiro demorou tanto para analisá-los que o senador já deixou de ser senador. Outro sinal da inapetência do procurador aparece na quantidade de vezes em que contestou alguma medida do governo federal: em seis anos, foram apenas seis contestações. Ainda que se imagine que o governo atual cometa menos deslizes que os anteriores, basta consultar o currículo de seu antecessor no cargo, Aristides Junqueira, para ver que o desempenho de Brindeiro é pífio. Em seis anos de mandato nos governos de Fernando Collor e Itamar Franco, Junqueira apresentou 56 contestações.

      Sem gosto por saber o que passa por sua mesa, Brindeiro tem demonstrado muito gosto por saber o que se passa na China, na África do Sul ou na Irlanda. Só de 1998 para cá, o procurador fez nove viagens ao exterior, gastando 42.790 reais em diárias. A maior parte delas foi para presenciar eventos promovidos pela Associação Internacional de Promotores, conhecida pela sigla em inglês IAP. Essa conta não inclui as viagens pessoais que o procurador fez, dentro do Brasil, a bordo de um jatinho da Força Aérea Brasileira (FAB). Depois que foi pilhado, junto com uma penca de autoridades, usando jato oficial para tratar de assuntos particulares, Brindeiro nunca mais cometeu o mesmo deslize. Passou a utilizar dinheiro público apenas em viagens a trabalho, como a que realizou para Porto Alegre num fim de semana de dezembro de 1998. Levou quase 500 reais de diária mais a passagem de avião. Por coincidência, naquele fim de semana Brindeiro foi padrinho do casamento de um casal de procuradores realizado na capital gaúcha.

      Brindeiro não é o único com apetite por novos ares. A subprocuradora Maria Eliane Farias, um dos nomes cotados para substituí-lo, também é do time. No ano passado, entre viagens nacionais e internacionais, ela retirou 150 diárias – o que equivale a ter passado cinco meses em viagem. Outra subprocuradora, igualmente próxima de Brindeiro, Sandra Cureau, passou 118 dias fora no ano passado. Uma terceira subprocuradora, Helenita Acioli, retirou 88 diárias. Passou quase três meses do ano em viagens no Brasil e no exterior. Com seus funcionários nessa vida agitada ao redor do mundo, não admira que sobrem processos nas gavetas da repartição.

       

  2. LAVA A JATO, SWISSLEAKS, PETROLÃO

    O que a mídia faz:

    “Um dos problemas da mídia brasileira é que ela inventa uma narrativa que não corresponde à realidade.”

    Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?

     

    Nove procuradores compõem força-tarefa que destrincha a Lava Jato

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1612392-nove-procuradores-compoem-forca-tarefa-que-destrincha-a-lava-jato.shtml

    Brasileiros com mais de US$ 50 mi no HSBC usaram 97 contas e 68 offshores

    http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2015/04/05/brasileiros-com-mais-de-us-50-mi-no-hsbc-usaram-96-contas-e-68-offshores/

    Recusar propina no Carf dava ‘castigo’, aponta investigação da Polícia Federal

    http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/04/1612415-recusar-propina-no-carf-dava-castigo-aponta-investigacao-da-policia-federal.shtml

  3. Mendes Jr.???
    Por favor, essa
    Mendes Jr.???

    Por favor, essa já quebrou e é carta fora do baralho há tempos.
    Esqueçam a Mendes Jr. Pois este depoimento, que não li, não vale nada.

    1. *

      Athos, e os que aquiesceram à “delação premiada”, também não podem, na esteira do seu pensamento, ser considerados “os bandidos quebrados”? Por que, então, dá-se crédito a eles? E se a empresa em questão está, agora, quebrada, como afirmas, na época, não estava, consoante a reportagem! 

    2. Nada, esse cafezinho

      Nada, esse cafezinho requentado é só para mostrar que corrupção vem de longe. No caso, no governo FHC. Poderia ser no de Juscelino, ou Vargas, Sarney, milicos variados, Collor , ops, Collor não, que esse xinga o PGR.  Como se alguém dotado de um mínimo de conhecimento não soubesse disso. Mas é melhor que lembrar da carta do Pero Vaz de Caminha.

      Como se os jornalões não soubessem disso.

  4. Interessante

    A reprtagem deixa claro duas coisas :

    – O MPF e o Juiz Moro não estão inventando nada, a reportagem confirma como funcionam as relações entre empreiteiras e governos no Brasil desde sempre e porque isso tem que acabar. Mas com certeza algum esperto aí vai perguntar onde estavam Moro, Janot e Zavaski há 20 anos. 

    – A Istoé já era golpista quando o governo ainda não era petista.

  5. Deixa eu ver se entendi…

    O fato de existir corrupção na pré-história (sim, pq segundo o Lula o Brasil começou em 2003) melhora em alguma coisa a situação pro governo atual?

    Foi mal aí, mas não posso pedir o impeachment do FHC. Ele não é o presidente.

  6. MAIOR FORTUNA DO HSBC TEM ELO

    MAIOR FORTUNA DO HSBC TEM ELO COM PRIVATIZAÇÃO DE FHC

    Família Steinbruch, capitaneada pelo empresário Benjamin, aparece com a maior fortuna brasileira no HSBC e, provavelmente, uma das maiores do mundo: nada menos que US$ 543 milhões; dono do grupo Vicunha, que enfrentava dificuldades no setor têxtil, Benjamin deslanchou depois de contratar como assessor, ainda em 1995, o filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique, como assessor especial; na era das privatizações, Benjamin comprou a Companhia Siderúrgica Nacional, a Light e até a Vale, sempre com apoio do BNDES ou dos fundos de pensão estatais; em nota, a família Steinbruch afirmou que não irá comentar “vazamentos ilegais”

    5 DE ABRIL DE 2015 ÀS 20:01

    (…)

    FONTE: http://www.brasil247.com/pt/247/economia/175923/Maior-fortuna-do-HSBC-tem-elo-com-privatiza%C3%A7%C3%A3o-de-FH.htm

     

     

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