Escutas aumentam suspeitas sobre corrupção no futebol sul-americano

Do Esporte Fino

O fantasma de Grondona e a autópsia na Conmebol

Fábio Chiorino

No domingo, o canal argentino América trouxe à luz uma série de escutas telefônicas da Justiça do país com conversas entre Julio Grondona, ex-presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), e Abel Gnecco, diretor da Escola de Árbitros da AFA e representante da AFA na Comissão de Arbitragem da Conmebol.

Grondona morreu no ano passado, aos 82 anos, mas há outros personagens que devem ser investigados a partir de agora sobre a escolha dos árbitros, especialmente a Copa Libertadores da América, que teria prejudicado o Santos, em 1964 (eliminado nas semifinais pelo Independiente, presidido à época justamente por Grondona), e o Corinthians, em 2013, eliminado nas oitavas de final pelo Boca Juniors, após uma sequência inacreditável de erros do árbitro paraguaio Carlos Amarilla.

A imprensa local já chama o caso de “máfia do futebol argentino”. As escutas também revelam negociações sobre tabelas de jogos, tentativas de fraudar o pagamento de impostos e até mesmo um incentivo ao Colón para ajudar o Independiente a escapar do rebaixamento.

“Sou o maior interessado em que isso se esclareça. Querem sujar meus 18 anos de carreira”, disse Amarilla, um dos citados, em entrevista à rádio AM 970, de Assunção. O Corinthians já se pronunciou e garantiu que acompanhará de perto as investigações. A Associação Paraguaia de Futebol se adiantou e suspendeu Amarilla e o auxiliar Rodney Aquino, para que possam se defender das acusações.

Para os clubes brasileiros, que historicamente esbravejam – com razão – contra as arbitragens em partidas da Libertadores disputadas na casa dos adversários, não existe melhor hora para arrombar de vez a caixa preta da Conmebol. A Libertadores é um campeonato mais importante e desejado pelas equipes sul-americanas, mas, moralmente, é uma competição falida. A cada edição, sempre surgem episódios que desintegram o pouco que resta de dignidade a ela. São comuns os casos de violência entre torcidas, interdição de estádios e falta de critérios, que resultam em punições brandas.

Para citar casos mais recentes, em 2013, um sinalizador disparado no meio da torcida do Corinthians provocou a morte de um garoto de 14 anos em uma partida em Oruro. O torneio continuou como se nada tivesse acontecido. Esse ano, um torcedor do Boca Juniors colocou gás de pimenta na entrada do vestiário do River, em La Bombonera. O Boca foi eliminado, mas a interdição do estádio já foi revogada pelo Tribunal de Contravenções de Buenos Aires, cujo prefeito é Mauricio Macri, ex-presidente do Boca Juniors.

A Libertadores é hoje estigmatizada pelo descontrole. A imagem de policiais protegendo com escudos jogadores na marca de escanteio já se tornou uma espécie de rubrica do torneio. Além disso, financeiramente, também há motivo para revolta. Esse ano, Corinthians e São Paulo esboçaram uma rebelião contra as altas taxas pagas à Conmebol e à Federação paulista De Futebol – 10% e 5% do valor bruto da bilheteria, respectivamente.

José Maria Marin, pouco antes de deixar a presidência da CBF, josé maria marin, quem este ano vai deixar a presidência da cbf, foi nomeado membro de honra da ?Conmebol? (Crédito: Facebook Conmebol)

José Maria Marin, pouco antes de deixar a presidência da CBF, é nomeado membro de honra da Conmebol (Crédito: Facebook Conmebol)

As escutas acabam com qualquer resquício de credibilidade da Conmebol, que também já foi presidida por Nicolás Leoz, ex-membro do Comitê Executivo da Fifa e um dos 14 réus acusados de extorsão, fraude e conspiração para lavagem de dinheiro em investigação do Departamento de Justiça norte-americano. A solução mais imediata seria os clubes brasileiros se unirem e boicotarem a competição, até que existam garantias reais de uma disputa leal. A ausência do Brasil, segundo maior vencedor da competição (17 títulos, contra 23 da Argentina) certamente não seria o desejo da Conmebol, que possivelmente perderia receitas milionárias com transmissões dos jogos e patrocinadores.

Mas, para transformar a utopia em algo concreto, existem duas duas barreiras: a dos próprios clubes, que defendem apenas seus interesses individuais, e a falta de respaldo da CBF, que poderia ser punida pelo “abandono” de seus filiados.

O caminho para enxergar a Libertadores como um espelho da Liga dos Campeões é longo e hoje fantasioso. Para se atingir esse estágio, é necessário deixar de lado a selvageria revestida de charme e sacudir os fantasmas que habitam as marcas de cal sul-americanas.

Redação

17 Comentários

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  1. Quem já acompanhou o

    Quem já acompanhou o campeonato brasileiro vai lembrar de como a CBF, a Globo e os árbitros sempre favoreceram os clubes do eixo Rio-São Paulo.

     

    Isso não é coincidência. Lá como aqui.

    1. Disso não há dúvidas…

      O que o Corinthians pensa ter sido prejudicado, os demais times fora do eixo Rio-SP sentem anualmente.
      A começar pelos narradores que hipervalorizam os jogadores de qualquer time paulista ou carioca!

      Basta um jogador qualquer fazer um gol que o narrador já faz juras de amor pelo “craaaqueeee”, um “golaaaçoooo”.

      O resultado de tudo isso acontece na venda de jogadores “hipervalorizados” pelos narradores do dito eixo e através da venda de transmissão da TV.

      Como um time nordestino vai concorrer com um time paulista de forma justa, levando-se em conta esses fatos?

      95% dos narradores e apresentadores da TV torcem para times do eixo Rio-SP. 

  2. Provando do próprio veneno…

    Quem diria, 

    Depois de 10 anos o Corinthians prova do mesmo “veneno” que se beneficiou no brasileirão de 2005.
    Só que agora, o prejudicado, caso haja ilegalidade, seria o próprio Corinthians. 

    Em 2005 a injustiça lhe rendeu uma taça, com direito a poder repetir jogos pela primeira vez na história, pênalti não marcado com direito a expulsão do que sofreu e tudo mais! 

    E agora pedirá justiça?

    Meu avô sempre dizia “não cospe pro alto que um dia volta na sua cara”!
     

    http://placar.abril.com.br/materia/dossie-do-apito-tudo-sobre-a-mafia-que-anulou-jogos-do-brasileirao-2005/

    Se for prá falar de justiça, que se reveja o campeonato de 2005 em primeiro lugar. Senão, recolha-se e aceite! Assim como todos os outros times brasileiros tiveram que acatar em 2005.

    1. Anti corintiano destilando seu ódio

      O árbitro Edilson Pereira Carvalho foi réu confesso e chegou a ser preso por participar de um esquema comprovado de manipulação de resultados do torneio para favorecer apostadores na internet.

      A decisão de anular as partidas foi tomada pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

      Não foi somente os dois jogos do Corinthians que foram cancelados e sim todos aqueles (11) que o tal árbitro apitou, inclusive um jogo do Internacional contra o Coritiba em que o Inter não tinha capacidade para vencer.

      Vc se pega em um único lance (o penalti) para definir um campeonato de 380 jogos. O Inter poderia se sagrar campeão, caso ganhasse um dos dois jogos que fez no Paraná nas últimas rodadas, mas perdeu os dois jogos. O Corinthians perdeu o seu último jogo em Goiânia, bastava uma vitória colorada, mas o Inter era muito ruim e não conseguiu.

      Lembre-se da final do Paulistão entre Palmeiras e Corinthians, que um tal de Aparecido deitou e rolou em cima do Corinthians para o Palmeiras ser campeão. E também dos anos que o Corinthians ficou sem ser campeão. Teve inclusive que trazer um árbitro da Argentina para apitar o jogo contra o Santos e quebrar um tabu de 12 anos, pois com árbitros da FPF isso seria impossível.

      Nada disso te interessa saber. Teu objetivo é denegrir o Corinthians. Conheço esse tipo de gente.

      1. Pois é, lembro bem: bastaria

        Pois é, lembro bem: bastaria ao Inter ter vencido um time fraco nas últimas rodadas para ser campeão. Felizmente pra eles apareceu esta desculpa para justificar o fracasso. Além do mais este papo de 2005 dos colorados e anti corinthianos parece aquela encheção de linguiça dos uruaguaios que em todo jogo contra o Brasil carregam algum cartaz escrito maracanazzo.

      2. “Vc se pega em um único lance

        “Vc se pega em um único lance (o penalti) “

        Penalti + expulsão….

        Quase nada, né? 

        Essa “capacidade” de vencer é muito relativa. E para alguns times ela pesa mais do que pros outros.

        2 anos depois, (2007) o “timão da capacidade”, mesmo tendo o maior patrocínio Global, a maior torcida e os maiores investimentos, e ainda a maior torcida de narradores e repórteres esportivos do Brasil, teve uma certa dificuldade e enfrentou um campeonato em que foi testada sua “capacidade” de permanecer entre os 20 melhores. 
        Infelizmente, nem a torcida de todos os repórteres ajudou a mantê-lo na série principal. 

        É como se o carro com o melhor motor da F1 largasse em primeiro e terminasse a corrida na última posição. 

        Talvez essa seja a melhor definição de “capacidade”. Que só é possível de ser feita com Corínthians e Flamengo, que injustamente recebem os maiores recursos da TV e ainda recebem um reforço dos narradores para alavancar a fama e o passe dos seus atletas!

         

        1. Cadê a ajuda

          Caiu porque não tinha time no momento e contou com a entrega do próprio Inter contra o Goias, além do árbitro fazer repetir a cobrança de penalti. Aí tudo bem, o prejudicado foi o Corinthians, então é justo conforme teu desejo. E cadê a tão falada ajuda?

          Teu problema eu ja notei, vc torce para algum time nanico.

      3. Falou bobagens. O Inter

        Falou bobagens. O Inter depois do jogo com o corinthians, ganhou do palmeiras em casa e no último jogo perdeu para o coritiba fora. Sendo que o coxa precisava de uma vitória para tentar se livrar do rebaixamento (o que acabou não acontecendo). Então o empate em SP foi crucial para a perda do título, pois além de tirar 2 pontos do inter, deixou Tinga, o melhor jogador, de fora da partida final.

  3. Ora, foi por causa dessa

    Ora, foi por causa dessa roubalheira na Libertadores que o Santos abandonou a competição nos anos 60 e preferia ficar excursionando mundo afora. Depois todos os times brasileiros fizeram o mesmo. Era muito mais vantajoso e rentável participar de torneios na Europa, Asia, EUA, Africa, Oceania.

    O mesmo deveria voltar a acontecer nos dias atuais. Mas para isso os clubes teriam que peitar a Globo. E os clubes brasileiros vivem pendurados no departamebnto financeiro da Globo.

    Coisa de Máfia. 

  4. molezinha conduzir a manada…

    Escutas escolhidas a dedo. Um jogo atual e outro de 1964.

     

    Brasileiro gosta mesmo de ser manipulado. Aqui é moleza…

  5. Um nome: Marcio Rezende de

    Um nome: Marcio Rezende de Freitas.

    Dois jogos:

    Santos x Botafogo-1995

    Internacional x Corinthians- 2005.

    Concidências….

  6. Qurendo ou não querendo o

    Qurendo ou não querendo o Brasil ficou sem pai nem mãe na fifa depois da saida do teixieira (na tal comebol sempre dominada por argentinos nunca apotou nada), de lá pra cá só noticia ruim tanto para os clubes como para a seleção, ou alguem acredita que futebol só se ganha no campo?

  7. e no brasil?

    só têm vestais no futebol brasileiro?

    em 80% dos jogos de futebol daqui, ocorrem erros de arbitragens graves, que não é pouco.

    as arbitragens são tendenciosas em favor de certas equipes, cujas audiências, na monopolizadora das transmissões, aumentam diretamente em relação à melhora do “desempenho” delas.

    isso há décadas.

  8. Errado

    Escutas não aumentam as suspeitas… Só confirmam.

    O futebol sul americano e mundial (em menor medida) convive com a corrupção, a promiscuidade de dirigentes e a manipulação de resultados desde a década de 60.

    PS: Escandalo fresquinho, das últimas horas: Dirigentes e empresários de jogadores do clube Catania na Itália estão presos por envolvimento na compra de resultados para fugir da série B

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