Estagnação crônica e ressurgimento das forças fascistas, por Diogo Costa

por Diogo Costa

UMA NOVA DÉCADA DE 30? – O Crash de 15 de setembro de 2008 não é e nunca foi uma brincadeira ou invenção. A crise já vinha desde 2007 e estourou com a quebra do banco Lehman Brothers no ano seguinte (em 15 de setembro).

De lá para cá as economias desenvolvidas despencaram – foi uma sequência que iniciou nos EUA e passou por Europa e Japão. Hoje – desde 2014 – chegou nos países emergentes.

Vejamos o crescimento acumulado do PIB em alguns países selecionados (entre 2008 e 2016 / ano base de 2007):

-Crescimento acumulado do PIB entre 2008 e 2016 (total de 09 anos)¹

1. China: 104,8% – média de 8,3% ao ano
2. Índia: 80,9% – média de 6,8% ao ano
3. Coreia do Sul: 28,1% – média de 2,8% ao ano
4. Brasil: 14,4% – média de 1,5% ao ano
5. EUA: 10,6% – média de 1,1% ao ano
6. Alemanha: 8,7% – média de 0,9% ao ano
7. Rússia: 6,3% – média de 0,7% ao ano
8. Reino Unido: 6,2% – média de 0,6% ao ano
9. França: 3,2% – média de 0,3% ao ano
10. Zona do Euro: 2,1% – média de 0,2% ao ano
11. Japão: 1,3% – média de 0,1% ao ano
12. Itália: -7,6% – média de -0,8% ao ano

Tirando os fenômenos China e Índia o quadro é de estagnação econômica praticamente crônica. E olhe que tirando Rússia e Brasil as taxas de juros destes países estão abaixo de zero, em zero ou pouquíssimo acima de zero por cento ao ano.

Dentro deste contexto dramático dá para se dizer que o Brasil, em que pese a recessão de 2015 e 2016, ainda foi um dos países que melhor lidou com a crise econômica internacional (pelo menos por enquanto).

A Itália é um caso tenebroso, com grande queda do PIB na última década – há casos piores, evidentemente, como o da Grécia.

Quase ao fim, mais alguns dados:

-China, Índia e Coreia do Sul foram os únicos países que não tiveram nenhuma queda do PIB no período analisado
-A Itália, caso mais dramático, teve queda do PIB em 05 dos 09 anos analisados

Não é de se admirar que estejamos vendo pipocar no mundo inteiro um levante de partidos de extrema direita, fascistas e ultranacionalistas. O cenário da década de 10 do século XXI é muito similar ao que assistimos na década de 30 do século passado.

Enquanto as economias dos grandes países não saírem da estagnação provocada pelo Crash de 2008 o fantasma do fascismo continuará a crescer em maior ou menor grau.

Nem é bom imaginar o que seria do Planeta Terra caso a China não tivesse conseguido se manter no meio da tempestade do Crash de 2008.

Mas mesmo a China, que até 2007 crescia a taxas de dois dígitos anuais (crescimento incrível de 14,2% em 2007), parece estar arrefecendo. Hoje cresce “apenas” 6,5% ao ano com tendência de baixa nos próximos anos.

Pior ainda, aqui no Brasil só existe uma figura pública com capacidade e densidade política suficientes para recuperar a economia.

Essa figura atende pelo nome de Luiz Inácio Lula da Silva e é este cidadão, para desgraça das novas gerações, que uma elite político-econômica colonizada e mesquinha pretende destruir (para todo o sempre).

¹ O PIB de 2016 é uma estimativa do FMI. O PIB dos outros anos tem como fonte também o FMI.

Redação

11 Comentários

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  1. Concordo e complemento
    Concordo com o Diogo Costa, claro. Mas gostaria apenas de fazer uma observação.
    O crash de 2008 fez, de fato, com que as economias tivessem um refluxo em seu desenvolvimento, com a exceção de China, Índia e Coréia do Sul. Lembrando, como está no texto do Diogo, que o crescimento da China diminuiu significativamente.
    Mas, no caso do Brasil, pelo menos, o que foi decisivo para a forte queda da atividade econômica que se instalou por aqui, depois de 2013, foi a enorme queda dos preços internacionais das principais commodities, especialmente do petróleo e do minério de ferro. Essa queda foi particularmente acelerada no segundo semestre de 2014, exatamente durante as votações da eleição presidencial daquele ano.
    Acho importante fazer esta observação porque as forças oposicionistas, na época, que se aglutinaram para dar um golpe no governo recém reeleito da Dilma, se aproveitaram da recessão econômica para, com a fundamental ajuda da mídia oligopolista, criar as condições para o golpe. A narrativa empregada foi criar um clima de pessimismo com a situação econômica, e jogar toda a culpa pela recessão no governo da presidente Dilma, acusando-a de incompetente na administração do país.
    Para fazer isto, a grande mídia ocultou da opinião pública esse fator externo, de queda dos preços das commodities, como fator importante para a queda das receitas no país. Com isso, conseguiu jogar no colo da Dilma a responsabilidade pela crise econômica.

  2. O crescimento do Brasil foi
    O crescimento do Brasil foi engolido pelo vedetismo político. Desarticulados que são, milhões de incluídos e mais milhões a serem, foram quase que totalmente deixados de lado e ainda por cima tiveram seus votos roubados.

  3. Pois é, Diogo, mas inves do
    Pois é, Diogo, mas inves do Lula, o Brasil está optando pelo Moro. Aquele que quer repetir o que foi feito na Itália. Com as consequências que voce mostrou aí em cima

    1. Já repetiu.
      Para constatar
      Já repetiu.
      Para constatar isto é só olhar o estado das maiores empresas do Brasil e a queda do PIB em 2015, 2016 e muito provavelmente, 2017.
      Torço muito para ver o moro e todos integrantes da lava rato presos e condenados à cadeia pelos estragos que causaram ao brasil em todos os níveis que se puder imaginar.
      Nossa economia foi destruída, nossa democracia foi destruída, nosso respeito internacional foi destruído, tudo por obra e graça da parceria lava rato/mídia.
      Tem que se FODER.

    2. O povo Brasileiro pagará caro
      O povo Brasileiro pagará caro por sua mediocridade !!! Dessa vez flertamos com a própria destruição do Brasil.

      Infelizmente estou aqui dentro.

  4. O Brasil até que não estava
    O Brasil até que não estava se saindo mal.

    Entrou numa fria justamente por causa da sabotagem patrocinada pelo vice decorativo que virou golpista e chegou ao poder para destruir o país e seu futuro.

  5. O crescimento econômico da
    O crescimento econômico da China é mais parte do problema do que a solução para a recuperação dos países em crise. O forte crescimento China é ancorado em taxas de exportação que cresciam a mais de 10% ao ano, e em alguns anos superaram a casa dos 20%. Hoje se situam em torno de 6%, o que ainda é considerado altíssimo.
    Este apetite chinês em prover o resto do mundo com produtos baratos resultou em ajustes de emprego e salários por todo o canto do planeta. Empresas encolheram e muitas quebraram. Só foi bom para países exportadores de commodities, enquanto essas se mantiveram em patamares elevados de preços. Em compensação arruinou boa parte da indústria de transformação pelo enfraquecimento do dólar. Hoje a China faz uma política agressiva de desvalorização de sua moeda para contrabalançar o enfraquecimento de suas vendas externas. Enquanto isso o nosso (des)governo continua segurando o dólar a pretexto de enfraquecer a inflação.

  6. O bolo cresceu, é necessário repartí-lo
    Sempre que se fala em crescimento eu me lembro dos anos de chumbo, no qual os torturadores repetiam ad nauseam o seguinte lema:
    “Primeiro, é preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo.”
    O problema do mundo não é a produção, é a super-produção, a qual é causada pelo sobretrabalho. A solução não é o consumismo; o consumismo é um agravante. A solução é reduzir a jornada de trabalho e a a idade mínima de aposentadoria. Isso abrirá postos de trabalho, criando renda.
    Em vez do crescimento econômico, é preferível reduzir o desperdício, que chega a 30% da produção de alimentos.

  7. Faria três acréscimos a esse excelente post

     

    Diogo Costa,

    Ótimo post.

    Eu gostaria que você fizesse dois acréscimos. Aliás, três.

    O terceiro em parte já foi mencionado por Cláudio Freire, quando ele fala em queda do preço das commodities no segundo semestre de 2014. Em parte, porque ele teria que além de mencionar a queda das commodities que houve a partir de outubro de 2014, fazer também referência à queda que houve a partir do final do primeiro semestre de 2015 e que levou a uma segunda rodada de desvalorização do real, postergando a redução da taxa de juro e fazer referência à elevação do juro pelo FED em dezembro de 2015, com a promessa de quatro subida do juro em 2016 e que até agora não aconteceu, mas que levou a uma terceira corrida contra o real (e contra outras moedas de periferia) no início de 2016, postergando mais uma vez a redução da taxa de juro.

    O segundo ponto e que significa uma análise mais pormenorizada da economia em 2013 e para tal requer uma informação mais detalhada consistiria em mostrar como os investimentos foram retomados de forma expressiva a partir do quarto trimestre de 2012 e se mantiveram com alta taxa de crescimento no primeiro e segundo trimestre de 2013 para então cair de forma abrupta no terceiro trimestre de 2013. Por que caiu e qual a consequência dessa queda deveria ter sido matéria de todos os cursos de graduação de economia e com as respostas a essas questões já tendo sido disponibilizadas para todos, mas nada disso foi feito. Muitas das discussões de hoje perderiam sentido se soubéssemos exatamente o que ocorreu lá atrás.

    E o primeiro ponto que considero que faltou nesse seu ótimo post “Estagnação crônica e ressurgimento das forças fascistas, por Diogo Costa” de terça-feira, 25/10/2016 às 07:42, foi uma referência a dois artigos que estudam o crescimento da direita em época de crise. Para o assunto do seu post a referência a esses dois artigos era mais do que necessária, era uma obrigação. Aliás os dois artigos deveriam ser mencionados por todos que discutem sobre o crescimento da direita no Brqasil e no mundo.

    Em comentário que eu envio quinta-feira, 28/04/2016 às 21:45, para junto do comentário de ML, enviado quinta-feira, 28/04/2016 às 15:40, para o post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” de quinta-feira, 28/04/2016 às 15:39, aqui no blog de Luis Nassif, contendo a transcrição do artigo “O mar está para monstros” de Laura Carvalho, publicado na Folha de São Paulo, daquela quinta-feira eu faço menão aos dois artigos. O post “Recessão alimenta a criação de monstros da intolerância, por Laura Carvalho” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/recessao-alimenta-a-criacao-de-monstros-da-intolerancia-por-laura-carvalho

    E os dois artigos para os quais eu deixei o link no meu comentário são

    “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence” e “The political aftermath of financial crises: Going to extremes”. O primeiro artigo, “Economic growth and the rise of political extremism: theory and evidence”, escrito por Markus Brückner e Hans Peter Grüner, é um artigo de 2010 e até que foi mencionado por Laura Carvalho, mas ela infelizmente nem escreveu o título do artigo nem deixou o link que eu transcrevo a seguir:

    https://www.uni-kassel.de/fb07/fileadmin/datas/fb07/5-Institute/IVWL/Forschungskolloquium/WS10/growth-extremism.pdf

    E o segundo artigo “The political aftermath of financial crises: Going to extremes”, de autoria de Manuel Funke, Moritz Schularick e Christoph Trebesch, e publicado em 21/11/2015, no site do VOX – CEPR’s Policy Portal,  pode ser visto no seguinte endereço:

    http://voxeu.org/article/political-aftermath-financial-crises-going-extremes

    E eu acrescentaria a esse primeiro ponto como um problema com repercussões muito forte no Brasil e que tem reflexos até para que o pais possa ter um desenvolvimento mais equitativo, o fato de que, dada a alta concentração de renda no nosso país, a direita é extremamente super-representada.

    Nós ficamos espacialmente desiguais com a força política, econômica e financeira concentrada em São Paulo, ficamos socialmente desiguais dada a extrema desigualdade de renda no pais e ficamos politicamente desiguais com a super-representação da direita em nosso país. E em período de crise econômica, esses problemas se agravam. E tudo isso sem esquecer a escravidão que perdurou aqui até o século XIX.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 26/09/2016

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