Expedição à Montanha da Amizade Israelo-Palestina

Sugerido por Demarchi
 
Da Deutsche Welle
 
Expedição à Montanha da Amizade Israelo-Palestina completa dez anos
 
Grupo de montanhistas dos dois povos em conflito quis provar que convivência pacífica é possível ao escalar cume de mil metros no Polo Sul. Ação histórica dos oito homens ainda repercute nos dias atuais.
 
A ação de paz na Antártida foi planejada e realizada pela organização Breaking The Ice (Quebrando o gelo). Quase mil metros acima do nível do mar, após 30 dias de expedição, em 16 de janeiro de 2004 quatro escaladores israelenses e quatro palestinos alcançaram o topo da montanha, a partir de então chamada “da Amizade Israelo-Palestina”.
 
Metade do grupo pôs-se de joelhos e começou a rezar em direção a Meca; a outra abriu uma garrafa de champanhe para comemorar a vitória. A meta da iniciativa foi mostrar que é possível os dois povos do Oriente Médio conviverem em paz. Por fim, os montanhistas fizeram uma declaração conjunta. “Nós provamos que palestinos e israelenses podem cooperar entre si, com respeito e confiança mútua.”

 
Sentimentos ambivalentes
 
Dez anos mais tarde, o palestino Suleiman al-Khatib relembra a expedição, em sua casa em Ramallah, na Cisjordânia. Aos 42 anos de idade, ele parece um exemplo perfeito do que os seres humanos podem alcançar quando se perdoam mutuamente. Ainda jovem combatente pela liberdade, ele foi condenado a dez anos de detenção por ter ferido um soldado israelense. Na prisão, estudou hebraico, inglês, literatura e história. “Essa época me marcou, e eu comecei a me transformar”, relembra.
 
Após ser libertado em 1997, Khatib se empenhou pela resistência pacífica durante a Segunda Intifada (2000-2005), o segundo levante palestino contra a ocupação israelense. Mais tarde criou, juntamente com o israelense Gadi Kenny, a fundação People’s Peace Fund, a primeira iniciativa israelo-palestina voltada para a solução dos conflitos no Oriente Médio.
 
“Se eu não tivesse participado da expedição, porém, talvez essa organização nunca tivesse sido fundada”, admite. Ao ser convidado pela Breaking The Ice, ele aceitou com prazer, mas com sentimentos antagônicos. A viagem foi a primeira vez em sua vida em que se encontrou com israelenses numa situação pacífica. “Alguns de meus amigos haviam sido mortos por israelenses, por isso meus sentimentos eram assim, ambivalentes.”
 
“Quebrando o gelo”
 
No entanto, logo seu ceticismo se desfez. Até hoje ele mantém amizade com o iniciador da expedição, Heskel Nathaniel. Este, que na juventude cumpriu serviço militar no Exército de Israel, vive como empresário na Alemanha, aos 51 anos. Enquanto seus povos vizinhos se combatem, os dois homens ainda pensam com frequência um no outro, embora separados por milhares de quilômetros.
 
“Eu me afeiçoei imediatamente a Suleiman, porque ele é simpático, gosta de contar piadas e é, simplesmente, uma personalidade incrível”, conta Nathaniel. Também ele não parou de lutar pela paz e promove regularmente ações sob o slogan “Quebrando o gelo”.
 
O jornalista Torsten Sewing, que já ajudou a organizar a expedição à Antártida, dirige os novos projetos. Atualmente, a Breaking The Ice trabalha na criação de uma cooperativa de sabão em Moçambique, para a qual conseguiu coletar mais de 5.500 dólares com crowdfunding (financiamento coletivo). “Todos os dias, 300 crianças morrem em consequência de doenças intestinais, o que poderia ser evitado se lavassem as mãos com sabão.” Para divulgar o projeto, chamando a atenção para o problema, a organização produz uma série de TV.
 
Em 2006, a equipe encabeçada por Sewing e Nathaniel promoveu uma viagem pelo Saara, durante a qual – da mesma forma que os palestinos e israelenses no Polo Sul – cristãos, judeus e muçulmanos se encontraram. “Essas ações têm o objetivo de dar um exemplo”, explica Nathaniel.
 
Crença na paz
 
Ele não sabe dizer o que se conquistou com a escalada, dez anos atrás. Com a maioria dos participantes, mantém contato apenas esporádico. Ainda assim, ele tem prazer em recordar uma repercussão de sua iniciativa: “Em Tel Aviv, inauguraram um restaurante de cozinha israelense e árabe logo depois da nossa expedição.”
 
Torsten Sewing, coordenador do projeto na época, também recorda uma ressonância positiva da expedição. “Eu recebi um e-mail de um grupo americano pela paz, contando que no Chile existiam 300 mil palestinos e uma pequena comunidade judaica que não tinham o menor contato.”
 
Após a experiência na Montanha da Amizade, o rabino procurou os palestinos, e também no Chile houve um encontro sob o slogan “Quebrando o gelo”, quando os escaladores atravessaram a América do Sul, retornando da Antártida.
 
Nathaniel acredita que um dia haverá paz entre israelenses e palestinos. “O conflito é de natureza política. Nós provamos que não é nada entre indivíduos”, afirma. “Mas enquanto só pensarmos em nós mesmos e não nos colocarmos do outro lado, não vamos conseguir.”

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