Falas de Lula foram abertura para atuação diplomática internacional

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Hoje, diplomata brasileira repetiu teor das palavras de Lula no Tribunal de Haia, assim como outros 50 países

Lula na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro de 2023, discutindo a guerra na Ucrânia – Foto: Michael M. Santiago/Getty Images/AFP/IMAGES NORTH AMERICA

As críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à violência e ataques de Israel em Gaza não foram pronunciadas ao acaso [relembre a íntegra abaixo]. Elas precederam uma série de gestos ativos da diplomacia brasileira para pressionar pelo fim da guerra.

Ainda que com a ampla repercussão nacional negativa, pelo mundo as declarações do presidente brasileiro foram vistas de forma otimista por países que defendem a rápida resolução do conflito, como uma voz ativa e determinante, que destoa do que a conivência internacional vem alimentando para o caso.

Falas de Lula devem ajudar, introduz Celso Amorim

Foi o ex-chanceler do Brasil e atual assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, quem deu o tom do que as declarações de Lula significam para as relações internacionais.

“A fala de Lula sacudiu o mundo e desencadeou um movimento de emoções que pode ajudar a resolver uma questão que a frieza dos interesses políticos foi incapaz de solucionar”, resumiu Amorim à Mônica Bergamo.

Ele criticou, também, a reação do governo israelense, que declarou Lula “persona non grata” e reprimiu o embaixador em Tel Aviv, Frederico Meyer.

Brasil na Corte de Haia

Nesta terça-feira (20), já estava agendada no Tribunal Internacional de Haia a participação do Brasil na denúncia de mais de 50 países contra Israel por considerar ilegal a ocupação de territórios palestinos desde 1967, na Guerra dos Seis Dias.

Apesar de provavelmente o território não ser modificado no resultado da Corte Internacional de Justiça (CIJ), o julgamento visa evidenciar um tipo de perseguição do Estado de Israel contra os palestinos ao longo de décadas, desaguando no atual confronto. Entenda mais aqui.

As falas de Lula neste domingo (18) abriram caminho para a diplomacia brasileira iniciar gestos mais ativos no conflito e o que se viu no julgamento de Haia foi um duro discurso da delegação brasileira do Itamaraty.

No julgamento, o governo brasileiro foi representado pela diplomata Maria Clara Paula de Tusco, que afirmou que a ocupação israelense no território palestino “é inaceitável e ilegal”.

Reproduzindo o que o próprio presidente brasileiro expressou no final de semana, a diplomata falou na tribuna que as violações de direitos humanos atualmente empregadas por Israel “não podem ser aceitas ou normalizadas pela comunidade internacional”.

Em fala “polêmica”, Lula pediu “senso humanitário do planeta”

No domingo, Lula havia criticado a inação dos países, principalmente os mais ricos, com o confronto, criticando o “senso humanitário dos dirigentes do planeta” e a “falta de instância de deliberação” e de “governança”, e confirmou que o Brasil iria defender o reconhecimento do Estado palestino como “pleno e soberano”.

“O Brasil disse que vai defender na ONU o Estado palestino ser reconhecido definitivamente como pleno e soberano. É importante lembrar que, em 2010, o Brasil foi o 1º país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem que ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, foi a íntegra da comparação do presidente brasileiro.

E continuou: “Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai retribuir a vida de 30.000 pessoas que já morreram, 70.000 que estão feridos? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber por que estavam morrendo? Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos do planeta? Então, sinceramente, ou os dirigentes políticos mudam seu comportamento com relação ao ser humano, ou o ser humano vai terminar mudando a classe política. O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação. Nós não temos governança.

A diplomata Maria Clara Paula de Tusco pediu que Israel coloque fim à ocupação da Palestina, que a gravidades dos fatos são “indiscutíveis” com ataques israelenses “desproporcionais e indiscriminatórios” e que o Tribunal de Haia precisa se posicionar a respeito.

“O Brasil espera que o tribunal reafirme que a ocupação israelense dos territórios palestinos é ilegal e viola obrigações internacionais por meio de uma série de ações e omissões de Israel”, afirmou a representante do Brasil.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Lula deu um salto de qualidade política ao condenar Israel pelo desastre humanitário realizado em Gaza. Mostrou ao mundo que nada justifica o que Israel fez matando milhares de cidadãos e milhares de crianças ao bombardear Gaza. E deu nome correto às ações dos israelenses: extermínio de população civil. MAIS INACREDITÁVEL FOI VER A ONU INERTE SEM REAÇÃO A UMA AÇÃO DELIBERADA E MODERNA DE LIMPEZA ÉTNICA NUMA PARTE DO MUNDO.

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