Fórum Econômico de Davos já não é mais o mesmo para o Brasil

Por Paulo F.

Do SwissInfo

Em 2013, Brasil acentua seu “divórcio” com o Fórum de Davos

O Fórum Econômico Mundial de Davos já não é mais o mesmo. Ao menos, no conceito dos brasileiros.

No WEF de 2005, o presidente Lula abraça o roqueiro Bono, sob o olha do empresário Bil Gates.

No WEF de 2005, o presidente Lula abraça o roqueiro Bono, sob o olha do empresário Bil Gates. (Keystone)

Por Maurício Thuswohl, swissinfo.ch
Rio de Janeiro

Após ser tratado como ponto culminante da agenda diplomática do país durante o período de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), de orientação econômica mais neoliberal, e também nos primeiros anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), com perfil mais desenvolvimentista, o evento anual realizado nas montanhas suíças veio perdendo o prestígio do qual desfrutava junto a autoridades, industriais e empresários no Brasil.

Essa tendência se agravou nos últimos três anos, fortalecida pela persistente crise financeira que castiga o centro do mundo industrialmente desenvolvido – e, em particular, diversos países da Europa – e pelo aparente desprezo da atual presidente do Brasil, Dilma Rousseff, pelo encontro que reúne as cabeças coroadas do capitalismo mundial.
 
Na edição deste ano, sua quadragésima terceira, a relevância do Fórum de Davos parece ter passado despercebida pelos diversos setores da sociedade brasileira. As entidades representativas mais importantes da vida econômica do país não enviarão delegações à Suíça em 2013. Estão nesse grupo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional do Comércio (CNC) e até mesmo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban): “Pode ser que algum banco associado envie representante por conta própria, mas a Febraban não terá delegação oficial ou participação em alguma mesa de debate”, informa, por intermédio de sua assessoria, a direção da entidade.
 
No governo, a fila dos ausentes será puxada, mais uma vez pela presidente Dilma, que já havia deixado de ir a Davos nos dois primeiros anos de sua gestão para participar de eventos como o Fórum Social Mundial (FSM) realizado em Porto Alegre. Em 2011, recém-eleita, Dilma frustrou a organização do Fórum de Davos, que havia programado um painel de discussão especialmente para analisar o novo governo brasileiro: “Todos em Davos queriam ouvir o Brasil para saber quais serão as mudanças que o novo governo promoverá”, lamentou, na ocasião, o suíço Klaus Schwab, presidente e fundador do Fórum Econômico Mundial.
 
Desta vez, a presidente, por intermédio de sua assessoria, afirma que não irá a Davos porque cumprirá agenda no Brasil e, em seguida, participará da reunião de cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) com representantes da União Europeia, que acontecerá em Santiago, no Chile, entre os dias 24 e 26 de janeiro: “A presidenta priorizará a Celac, onde serão discutidos temas de suma importância para a relação entre os grupos de países e estarão diversos chefes de Estado ou de governo”, informa a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto.
 
Além de Dilma Rousseff e outros presidentes latino-americanos como Sebastian Piñera (Chile), Enrique Peña Nieto (México), Juan Manuel Santos (Colômbia) e Ollanta Humala (Peru), a Celac contará com significativa participação de dirigentes europeus. Já confirmaram presença em Santiago os primeiros-ministros Angela Merkel (Alemanha), Mariano Rajoy (Espanha), Pedro Passos Coelho (Portugal) e Jean-Marc Ayrault (França). Também estará no Chile o inglês Ken Clarke (ministro sem pasta do Reino Unido) e o português José Manuel Durão Barroso (presidente da Comissão Europeia).

Aposta na OMC

Em Davos, a figura brasileira de maior destaque nos debates será o embaixador Roberto Azevedo, em quem o governo deposita suas fichas como futuro diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Chefe da delegação brasileira na OMC, em Genebra, desde 2008, Azevedo goza de bom trânsito entre diversos países e se consolidou nos últimos anos como liderança diplomática no grupo conhecido como BRICs, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China. Também representará o governo brasileiro em Davos o subsecretário geral para Assuntos Econômicos e Tecnológicos do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Valdemar Carneiro Leão.
 
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que comandou a delegação do Brasil em Davos no ano passado, desta vez acompanhará a presidente Dilma à reunião da Celac com a União Europeia em Santiago. Comandantes de outros ministérios que já prestigiaram com numerosas delegações o Fórum Econômico Mundial no passado, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) também não irão à Suíça.
 
O principal nome do governo brasileiro nesta 43º edição do Fórum de Davos será o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que também já representara Dilma nos anos anteriores. Os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e da empresa Petrobras, Graça Foster, são outros que devem comparecer ao evento.

Relevância

Com a crise financeira e a perda relativa de poder do G-8, analisa Flávio Aguiar, o declínio da relevância do Fórum Econômico Mundial é inevitável: “Tanto a moldura de apoio do Fórum de Davos quanto os alicerces do pensamento nele hegemônico entraram em crise, e sua perda de prestígio tornou-se inevitável, tanto no Brasil quanto em outros países. O ideário que alimentava o Fórum de Davos permanece ainda vivo e hegemônico na União Europeia, mas é contestado por economistas de peso – como Paul Krugman e Joseph Stiglitz – e pelo descontentamento crescente no continente”, diz.

Declínio

Escritor, professor da USP e correspondente na Europa de diversos veículos de mídia brasileiros, Flávio Aguiar afirma que “não foi só perante o governo brasileiro ou setores de nossa sociedade que Davos perdeu prestígio”. Ela aponta as razões: “A queda de prestígio do Fórum de Davos se acentuou com a eclosão da crise econômico-financeira de 2007-2008, que solapou as bases de confiança de boa parte de seu ideário e a credibilidade de muitos dos seus freqüentadores. O mesmo se deu com o aprofundamento da crise da Zona do Euro, e da União Europeia como um todo, além dos Estados Unidos e do Japão”, diz.
 
Aguiar lembra que o Fórum de Davos não está sozinho em seu inferno astral: “O prestígio do G-8 também entrou em parafuso descendente: dos seus oito membros, cinco viveram e estão vivendo ainda crises profundas. Um (a Alemanha) consegue sobrenadar a duras penas graças a sua pauta de exportações. O Canadá depende dos outros para mergulhar ou não na crise. A Rússia passou a atuar também em função de outras referências, como os BRICs. Além disso, duas das oito maiores economias mundiais, Brasil e China, não estão formalmente representadas no grupo, e a partir de 2008 o G-20 passou a ser o fórum mundialmente mais importante para discussão da pauta econômica internacional”.

Maurício Thuswohl, swissinfo.ch
Rio de Janeiro

Luis Nassif

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