A Globo sente saudades do governo Lula, por Roberto Yassuo Shiroma e André Paiva Ramos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Roberto Yassuo Shiroma e André Paiva Ramos*
 
No período que corresponde ao governo Lula, de 2003 a 2010, a Globo Comunicação e Participações S/A registrou um grande salto no seu desempenho. Entretanto, nos períodos subsequentes, referente aos governos Dilma Rousseff, de 2011 ao início de 2016, e Michel Temer, até o final de 2016, esse conglomerado apresentou uma piora significativa no desempenho de seus resultados em relação ao passado recente, sobretudo nos últimos dois anos. Após as acirradas eleições presidenciais de 2014, podemos ressaltar, entre outros fatores, a intensificação da crise econômica, política e institucional e os desdobramentos da operação Lava-Jato, que foram fundamentais para afetar esse desempenho. Relacionado diretamente a essas questões, verificou-se ainda, na grande mídia, principalmente na atuação do jornalismo da Globo, um forte posicionamento contra o governo Dilma, o que impulsionou o impeachment e foi determinante para a deterioração das expectativas e da confiança e, consequentemente, para a piora da recessão econômica. Mais recentemente, um relevante posicionamento da Globo contrário ao governo Temer também pode ser observado. Seriam o desempenho financeiro e os interesses dos negócios da Globo peças chaves para pautarem o tom do seu jornalismo relacionado às áreas política e econômica?
 
 A economia brasileira apresentou um crescimento médio
ao ano de 3,5% no primeiro governo Lula (2003-2006) e
de 4,6% a.a. no segundo governo Lula (2007-2010).
Ressalta-se que em setembro de 2008 houve a eclosão
da crise financeira internacional do subprime que
impactou negativamente a economia mundial. Mesmo
com os negativos desdobramentos dessa crise, na
comparação com os demais países, o Brasil foi o que
apresentou uma das menores quedas do seu PIB em
2009, -0,1% e um relevante crescimento em 2010, 7,5%.
(Gráfico 1).
 
 Os Serviços totais e os serviços de informações
cresceram em média respectivamente 3,5% a.a. e 3,3%
a.a. no período de 2003 a 2006 e 4,6% a.a. e 5,3% a.a.
no período de 2007-2010. (Gráfico 1).
 
 No primeiro governo Dilma (2011-14), enquanto o
desempenho médio da economia piorou em comparação
ao do governo Lula, o segmento de Serviços de
informação apresentou uma melhora no seu
desempenho, alcançando um crescimento anual médio
de 5,7%. (Gráfico 1).
 
 No período de 2015 a 2016, período que inclui o segundo
mandato do governo Dilma até o impeachment e o
governo de Michel Temer, a economia registrou uma forte
retração, chegando a uma queda anual média de 3,7% (-
3,8% em 2015 e -3,6% em 2016). Um relevante resultado
negativo na média anual também foi verificado nos
Serviços, -2,7% e nos Serviços de informação, -1,8%.
(Gráfico 1).
 
 Com base na Pesquisa Mensal de Serviços divulgada pelo
IBGE, no período pós 2012 iniciou-se uma relevante
tendência de queda das receitas nominais no setor de
serviços e no segmento de serviços de informação e
comunicação. O setor de serviços, que registrou um
crescimento de 10% nas suas receitas no ano de 2012,
atingiu um aumento de 6% em 2014 e uma queda de 0,1%
em 2016. Já as receitas dos serviços de informações e
comunicação aumentaram 6,8% em 2012 e 3,3% em 2014
e caíram 0,6% em 2016 (Gráfico 2).
 
 Os valores de ativo circulante e de ativo não circulante
representam os saldos de bens e direitos que podem
ser liquidados em até um ano ou acima de um ano.
Esses valores estão ligados diretamente
à capacidade de realização e geração de recursos futuros em curto
prazo ou em prazo alongado. (Gráfico 3)
 
 No período de 2005 a 2013, observamos um aumento
relevante nos saldos de ativo circulante, passando de
R$ 3,2 bi para R$ 14,9 bi, representando um aumento
de 365,63% nos saldos totais. Os valores registrados
em ativo circulante são representados principalmente
por valores de contas a receber de cliente e os saldos
utilizados em investimentos, usualmente títulos e
valores mobiliários. Para o período de 2013 a 2016,
observamos uma queda de 27,52%, atingindo um saldo
final de R$ 10,8 bi. (Gráfico 3)
 
 Com relação ao ativo não circulante, observamos que
houve uma queda de R$ 13,3 bi para R$ 9,0 bi entre
2005 e 2016. (Gráfico 3)
 
 Os Títulos e Valores Mobiliários são representados por
ativos financeiros registrados no balanço da Globo. De 2006 a 2012, anualmente houve um considerável
aumento na posição desse tipo de ativo, passando de
R$ 0,7 bi para R$ 7,6 bi. Porém, a partir de 2013, constata
-se uma redução nessa posição, atingindo
R$ 5,0 bi em 2016. (Gráfico 4)
 
 Os valores de passivo circulante e passivo não
circulante são os saldos de obrigações com terceiros
que podem ser liquidados em até um ano ou acima de
um ano. (Gráfico 5)
 
 No período de 2005 a 201
6, observamos uma queda na
posição de passivo não circulante e um aumento na
posição de passivo circulante, representando uma
mudança no perfil das obrigações, alterando a posição
de longo prazo para curto. Em 2016 o passivo circulante
foi de R$ 4,0 bi e o passivo não circulante de R$ 3,2 bi.
(Gráfico 5)
 
 O patrimônio líquido apresentou um relevante aumento
na sua posição entre 2005 e 2016, de R$ 5,2 bi para R$
12,6 bi, o que representou um aumento de 142,30%. No
entanto, de 2015 para 2016 houve uma queda de
9,35%, passando de R$ 13,9 bi para R$ 12,6 bi.
(Gráfico 5)
 
 Dado esse relevante aumento da posição do patrimônio
líquido, podemos observar a realização de suas
operações passou a ter menor necessidade de
financiamento através de captação de recursos
externos. (Gráfico 5)
 
 A relação de queda de captação de recursos externos
pode ser claramente observada. A participação de Capitais de Terceiros é medida através do índice
resultante da soma do total de passivo circulante e do
passivo não circulante, dividida pelo total do patrimônio
líquido da empresa. Esse índice indica como vem sendo
realizado o financiamento de suas operações. (Gráfico
6)
 
 Em 2005, esse financiamento representa mais de duas
vezes o valor de seu patrimônio e, dado o aumento
desse patrimônio até 2016, a participação do capital de
terceiro sofre uma redução, passando a representar um
pouco mais de 50%. (Gráfico 6)
 
 O aumento do patrimônio líquido observado no gráfico 5
é resultado direto do aumento de suas receitas
apresentado no decorrer dos anos de 2005 a 2016.
(Gráfico 7)
 
 Em 2005, o total de receitas líquidas foi de R$ 4,1 bi e
em 2016 foi de R$ 15,3 bi, o que representou um
aumento de 273% nesse período. Entretanto, ressaltase
que, após alcançar R$ 19,1 bilhões em 2014, houve
uma queda de 11% em 2015 e de 10% em 2016.
(Gráfico 7)
 
 Como reflexo direto do aumento da receita líquida, o
resultado líquido e o lucro também tiveram um aumento
expressivo entre 2006 e 2016, passando o lucro da
casa de R$ 1 bi para R$ 2 bi, um aumento de 100% no
resultado. Se forem tomadas como base as variações
entre os anos de 2006 a 2010, essa variação
correspondeu a um aumento de 310%. (Gráfico 8)
 
 Observando a variação da LAIR para esse mesmo
período, representa a um aumento de 363%. Assim, o
lucro antes do IR, teve um expressivo aumento,
sobretudo no período de 2006 até 2010, quando
alcançou R$ 5,1 bilhões. No entanto, após 2014, houve
uma forte queda, atingindo R$ 2,6 bilhões em 2016.
(Gráfico 8)
 
 O lucro líquido também apresentou um forte aumento
no período de 2006 até 2010, chegando a R$ 4,1
bilhões. Porém, após 2012, iniciou-se uma diminuição
desse resultado, passando de R$ 3,9 bilhões em 2012,
para R$ 2,8 bilhões em 2014 e para R$ 2,0 bilhões em
2016. (Gráfico 8)
 
 Os resultados com relação ao total do ativo e ao total do
patrimônio líquido, são conhecidos como ROI e ROE,
respectivamente. (Gráfico 9)
 
 O ROI é um indicador do ponto de vista da empresa e
mede o quanto a empresa vem gerando de resultado,
de acordo com o total de ativos. Já o ROE é um
indicador do ponto de vista do investidor e mede o
resultado de acordo com o total investido. (Gráfico 9)
 
 Podemos observar nitidamente que o ano de 2010 foi o
principal ano com relação ao retorno, tendo um ROI de
24% e um ROE de 58%. Ou seja, houve um salto
nesses indicadores em comparação ao ano de 2006,
quando o ROI foi de 7% e o ROE foi de 17%. (Gráfico 9)
 
 Após 2012, pode-se verificar uma piora desses
indicadores. O ROI passou de 17% em 2012 para 10%
em 2016. Já o ROE passou de 37% em 2012 para 16%
em 2016. (Gráfico 9).
 
 Assim como o ano de 2010 foi o ano de melhor
desempenho de acordo com o ROE, com relação a
distribuição de dividendos esse também foi o ano que
apresentou a maior distribuição, ficando na casa dos
R$ 4 bi. Esse valor também demonstra um grande salto
se comparado aos anos anteriores, quando houve a
distribuição de R$ 0,6 bi em 2007, R$ 1,1 bi em 2008 e
R$ 0,9 bi em 2009. (Gráfico 10)
 
 Após 2010, também pode-se observar valores
relevantes de distribuição de dividendos. Em 2016,
houve a distribuição de R$ 2,3 bilhões de dividendos. O
total de dividendos distribuídos de 2007 a 2016 é de R$
16,3 bi. (Gráfico 10)
 
* Os autores são economistas
*Valores corrigidos pelo IPCA.
** Em 2005 e em 2006 as demonstrações financeiras se baseiam na Lei 6404. A partir de 2007, as demonstrações financeiras estão de acordo com a
lei 11.638/07.
*** Foram consideradas as demonstrações do consolidado da Globo Comunicação e Participações S.A..

 

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. Justo Veríssimo

    Parodiando um dos personagens do Chico Anísio: ” Eu quero mais é que a globo se exploda”. Esse coglomerado tabajara sempre foi contra os interesses dos trabalhadores brasileiros e pior, contra os interesses maiores do Brasil. Eu deixei de assistir a globo faz anos -( fez um bem danado à minha saúde)-  e até hoje não consigo entender como seus telejornais que eu chamo de doses cavalares de manipulação para alienar,  ainda consegue  ter  alguma audiência. Talvez culpa de outras emissoras que agem como papagaios. Uma emissora  que eu acreditava seria diferente mas está sendo uma enorme decepção, é a Rede Record. Seus telejornais também esquecem da principal regra de um jornalismo isento,  ouvir a outra parte destinando tempo igual  para o contraditório.

     

    1. As duas (Globo e Record),

      As duas (Globo e Record), rezam para o mesmo santo! Uma inclusive chegou a criar um templo fake do que seria a sucursal do inferno!

  2. traíras

    MP, PF, Exército, Bancos, Empresários, Mídias, Judiciário…

    Muitos a cuspirem no prato, oferecido pelo peão paraíba, em que comeram e se fartaram.

  3. O mais trágico é que Lula deu

    O mais trágico é que Lula deu tudo o que a Globo quis. Já começou não se opondo ao empréstimo do BNDS que evitou da Globo News fechar – a mesma que ficou 24 hs açulando o povo contra o governo Dilma e contra Lula. Lula achou que isso iria comprar a lealdade da Globo. É como alguém pensar que por dar comida á vontade prum escorpião ele não irá te picar quando fugir do cativeiro dele. Agora o leite está derramado. Lula fala contra a Globo mas a inês é morta. Governo de centro esquerda nesse país só quando a China permitir eleição direta pra presidente rsss

     

     

    1. Perfeito seu comentário

      É exatamente isso. O Lulinha paz e amor (o republicano) alimentou a serpente (= PIG) e que ele ganhou foi perseguição 24 horas e a morte da Marisa. Ele tome cuidado que o PIG também vai mandar matar ele. Ele não acredita. As vezes penso que isso tudo é muito abstrato para o Lulinha paz e amor.

      1. Franzebe, acho que os que

        Franzebe, acho que os que mandam no país não vão  matar ou prender o Lula. Pois hoje esse é o único fato que impediria que o plano deles não se concretizasse em 18, com a eleição de um Alkimin ou genéricos pra tocar essas reformas antipovo. Não é falta de vontade de fazer, mas o temor que aconteça o mesmo que houve com o suicídio de Getúlio = no início, os golpistas da época acreditavam que esse era a vitória final, mas aí o povo entrou na jogada, comovido com a morte daquele que pensou um pouco na classe trabalhadora, e impediu a consumação do golpe possibilitou a eleição de JK. 

      2. O pior é que estão circulando

        O pior é que estão circulando  muitos artigos nos blogs e em whatsapp que a Globo está apoiando a volta de Lula. No começo achei completamente impossível e deduzi que era um subterfúgio para a direita explicar porque também não sái às ruas contra a quadeilha de Temer. Mas com um artigo como esse, começo a me perguntar se não tem um fundo de verdade. Além disso, até hoje ninca não li um artigo que tenha me convencido 100%  (nem de Nassif e nem de vàrios outros publicados aqui) explicando a mudança de pisição da Globo em relação ao governo Temer, a partir da delação da JBS. Esseartigo pode ser a chave para a mudança. Gostaria de saber a opinião de vocês.

  4. Acharam que tinha uma tv para chamar de sua

    Deu no que vemos hoje. Ofereceram generosas condições e no final da travessia o escorpião matou o sapo!

    “Cría cuervos y te sacarán los ojos”

     

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