Ilegitimidade política por trás da crise dos caminhoneiros, por J. Carlos de Assis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Marcelo Pinto/Fotos Públicas

Por J. Carlos de Assis

Governos competentes são testados nas crises. Quando são incompetentes e não sabem enfrentá-las, colapsam. O governo golpista de Temer demonstra, em face da grave crise dos caminhoneiros, extrema incompetência gerada, em última instância, por sua ilegitimidade. Ninguém o respeita, ninguém o teme, ninguém lhe confere qualquer credibilidade. Suas ordens não são cumpridas sequer pelas forças de segurança e pelas Forças Armadas. O que é uma sorte, já que pela vontade do Presidente poderíamos caminhar para um banho de sangue.

A origem dessa crise está na adoção do receituário neoliberal num setor de alto interesse para o país, ou seja, os transportes e a produção de derivados de petróleo. Para atender a interesses norte-americanos, Pedro Parente cortou em 25 a 30% a produção das refinarias nacionais de petróleo, criando uma situação de “mercado” favorável à importação em larga escala de combustíveis oferecidos pelas petrolíferas estrangeiras, sobretudo dos Estados Unidos. Com isso os preços dispararam.

Nem todos os caminhoneiros sabem disso, mas o aumento do preço não se deve a impostos – que existem há décadas na cadeia do petróleo, sem aumentá-los -, mas na redução da produção nas refinarias. Os neoliberais, que são mestres em lei de oferta e de procura, poderiam explicar à sociedade brasileira que quando a produção das refinarias cai os preços  sobem. Sobretudo quando a fórmula de preços de Parente contém uma  mistura de combustíveis produzidos internamente, mais baratos, com os importados, mais caros.

Portanto, essa greve tem um duplo conteúdo: de uma parte, conteúdo econômico, pela degradação da renda dos caminhoneiros, patrões e empregados, derivada do aumento, até mesmo diário, do preço do diesel; de outro lado o conteúdo político da escravização do país aos métodos neoliberais de “mercado”, os quais abrem possibilidades para a alienação da soberania brasileira em setores vitais como o pré-sal, a água, a terra amazônica, sem falar no esmagamento do valor do trabalho por expedientes infames como a reforma trabalhista.

Há quem pense que essa greve é de natureza estritamente corporativa, portanto com pouco conteúdo político. É um equívoco. A sociedade é composta de corporações. Em situação normal cada corporação busca seu próprio interesse, mas, em situações de crise econômica e política, há uma convergência inevitável de interesses. Estamos num desses momentos. A maior evidência disso é a convergência de interesses de caminhoneiros, patrões, empregados e autônomos, com petroleiros, com professores, e o que mais vier.

As forças políticas, a despeito de seu descrédito, terão de encontrar uma saída viável para essa crise gigantesca que o país atravessa. Este é o único caminho para evitar uma intervenção militar de última instância. Claro que essa saída não passa pela quadrilha que ocupou o Palácio do Planalto para execução da famigerada Ponte para o Futuro, madrinha da estupidez praticada na Petrobrás. É preciso, com a necessária prudência, encontrar uma saída aceitável pelos caminhoneiros, e sem ferir os interesses da sociedade, com algum mecanismo similar ao proposto pela Ação Popular que o senador Roberto Requião enviou à Justiça.

 

P.S. A íntegra da ação popular proposta pelo senador Roberto Requião como contribuição ao fim da crise encontra-se no site www.frentepelasoberania.com.br

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Caro J.Carlos de Assis
    Não há

    Caro J.Carlos de Assis

    Não há crise, há um projeto economico criminosos entreguista sendo implantado e os que se recusam a aceitar esse projeto.

     

    É um jogo de braço. Entre  e inter as classes

    Saudações

  2. competência

    Ao contrário sr. Assis,

    O governo da/o quadrilha, dessa porra, com militares, com congresso, com as igrejas com tudo É extremammente competente.

    Para roubar e destruir, para f. o povo, para entregar o patrimônio do Brasil.

    No lugar que eles pisam não nasce grama!

     

      1. Dos vídeos que eu postei
         

        Chamaram-me a atenção as pessoas e suas impressões da realidade.

        Dos vídeos que você  postou são sempre as mesmas meninas?

        V. sabe, se a gente vê uma vez pessoinhas como aquelas terraplanistas, não precisa ver mais.

        Bastam 5 minutos.

         

  3. TEMERÁRIA ILEGITIMIDADE PREDATÓRIA

    Na minha humilde opinião, além da ilegitimidade originária do governo, decorrente de sua gênese golpista, há o pesado agravante de servir, de maneira espúria e temerária, à construção do caos, para favorecer interesses predatórios.

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