Indecisos cordões darão lugar aos blocos de luta de classes
por Francisco Celso Calmon
Não haverá narrativa capaz de impedir o avanço do bolsonarismo como golpe continuado.
Não é na refrega de narrativas que reside o ponto fraco das forças democráticas. Nesse terreno temos nos saído bem, com mais competência e inteligência. Mas este é um item na comunicação, que não é de massas, mas para a elite política.
Na comunicação de massas estamos pior do que no período da ditadura militar, guardada as devidas diferenças e proporções.
Desde a prisão de Lula que o eixo jurídico assumiu a principalidade e ficou secundarizado o eixo da luta de classes, seja no campo institucional, seja no campo social.
A militância de esquerda passou a acompanhar os passos e procedimentos do processo legal, virando quase uma novela e algumas vezes até um flaxflu nos embates entre ministros dos tribunais. Ficava nos sofás da vida, na expectativa e na torcida das decisões judiciais, imobilizada, anestesiada, impotente, e com o passar dos tempos foi ficando enferrujada no exercício da militância. Por osmose captou sobre lawfare, guerra híbrida, e desaprendeu sobre luta de classes, de como se opera e do principal instrumento para conquistar empoderamento e ir alterando a correlação de forças, ou seja; da agitação e propaganda para formar, organizar e agir.
Os juristas ampliaram as análises para além do domínio jurídico e adentraram para a esfera política, com análises de conjuntura e previsões de cenários futuros, mais como fruto de conhecimento teórico e bem menos por experiência política. Alguns ocuparam espaços, em decorrência da maestria nas cátedras, como intelectuais orgânicos sem serem e passaram a consultores, levando à política o viés do direito, como instância através da qual a realidade será alterada e a democracia será reconquistada.
Ocorre que, como sabemos, o direito é produto da política, assim como a política é produto da correlação de forças.
Algumas lideranças políticas afastadas pelo mensalão e pelo lavajatismo estão retornando à arena e com conteúdo renovado. Apreenderam ou reaprenderam que dentro do capitalismo não há alternativa de vida digna para o povo e que o socialismo é o caminho a percorrer; sentiram na pele que a democracia institucional é limitada pelo poder das classes dominantes e que a construção de uma democracia sustentável é a que nasce de baixo para cima, é a democracia de raiz.
Desfizeram de suas ilusões quanto as Forças Armadas, da Justiça (Judiciário e MP), e do perigo permanente das instituições armadas (PM, PC, PF). E reaprenderam que só o povo organizado e consciente conseguirá a sua própria emancipação. Portanto, as lideranças são guias e não salvadoras.
No tempo certo o PT, com orientação do Lula, tirou como resolução colocar o bloco da luta de classes nas ruas. O Haddad evoluído, como qualificou Lula para si e para ele, vão marchar pelos chãos de nossa pátria e fomentar que os corsos e indecisos cordões de militantes e segmentos sociais de base rompam com a inercia e letargia e construam um imenso mutirão para derrotar o bolsonarismo antes que torne o Brasil uma terra arrasada por permanentes tragédias.
A luta tem que sair do papel, ultrapassar a narrativa, e criar formas que leve o povo a emparedar o projeto totalitário que o presidente-miliciano acalenta para o país.
Pregar o socialismo como contraponto ao capitalismo de desastre, marca do bolsonarismo, responsável pela tragédia econômica, social e parcialmente pelo drama sanitário.
Pregar a democracia popular como antítese à democracia institucional, controlada pelo poder dominante.
O povo tem que se indignar com a realidade e compreender que a saída está na construção do socialismo democrático, via revolução social.
Francisco Celso Calmon, ex-coordenador da Rede Brasil Memória, Verdade e Justiça e membro da coordenação do canal Pororoca.
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