Interação universidade/empresa cresce, mas não o suficiente

Do Jornal da Ciência / SBPC

Pesquisa inédita da Unicamp mapeia interação entre universidade e empresa

As interações entre pesquisadores universitários, de institutos de pesquisa e profissionais da área de P&D (pesquisa e desenvolvimento) de setores da economia sinalizam crescimento, embora o patamar não seja o ideal. 

É o que mostra uma pesquisa inédita desenvolvida por profissionais da Unicamp e de outras universidades com apoio da Fapesp – via o projeto temático  “Interação de universidades e institutos de pesquisa com empresas no Brasil”.

Desenvolvida no período de 2008 a 2012, a pesquisa ouviu 1.005 pesquisadores de universidades que fazem parte da base de dados do CNPq e 326 profissionais de empresas, por intermédio de questionários.

Analisando os dados, o coordenador da pesquisa, Wilson Suzigan, economista e professor colaborador do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, afirma que a interação entre áreas de pesquisa e setor privado ainda é modesta no País se comparada a economias mais desenvolvidas, como a dos Estados Unidos. O Brasil, porém, está à frente de países em desenvolvimento, como México e Argentina, que têm economias semelhantes à brasileira.

Ilustrando a pesquisa, Suzigan citou dados de matrizes que relacionam áreas de pesquisa científica e tecnológica de universidades com setores econômicos para Estados Unidos, México, Argentina e Brasil. São analisados especificamente os setores nos quais as empresas buscam interagir com as universidades. Sempre que mais de 50% das empresas de um setor consideram uma área de pesquisa como importante, os pesquisadores chamam esse relacionamento de “ponto de interação”.

Nos Estados Unidos, esses “pontos de interação”, medidos pela matriz local, representam 13,8% das células da matriz (cada célula mostra a relação entre uma área de pesquisa e empresas de um setor). É quase o dobro do percentual do Brasil, de 7,9%, que está na frente do México, com 6,4%, e Argentina, com 4,6%.

“Como se pode deduzir, estamos num estágio intermediário de desenvolvimento das interações entre universidades e empresas”, analisou o coordenador da pesquisa. “Notamos um histórico que é uma espécie de processo coevolutivo, tanto da instituição de pesquisa acadêmica quanto da empresa, no aprendizado de como estabelecer relações entre a ciência e a tecnologia e como desenvolvê-las”, complementa Suzigan.

Apoio – O projeto foi apoiado também pelo Centro de Investigação para o Desenvolvimento Internacional (IDRC, na sigla em inglês) do Canadá que se propôs a financiar vários projetos sobre o processo de “catching up” tecnológico dos países em desenvolvimento, buscando um emparelhamento com as tecnologias mais avançadas na ordem internacional em vários setores e em várias indústrias.

Setores mais dinâmicos em P&D – Conforme a pesquisa, os setores que mostram interação mais significativa são os de média/baixa tecnologia, como agronomia e produção agropecuária, florestal e de alimentos. Os destaques são as pesquisas no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), na Esalq da USP e na Universidade Federal de Viçosa.

Há também interações significativas em setores de média tecnologia. Por exemplo, na área acadêmica de química e produtos de petróleo; entre engenharia elétrica e fabricação de equipamentos elétricos; entre engenharia mecânica e produção de veículos; e entre engenharia de materiais e metalúrgica e produtos metalúrgicos.

O estudo revela, porém, que os setores com tecnologias mais avançadas, como indústria farmacêutica e eletrônica, apresentam poucas interações entre universidades, institutos de pesquisas e empresas do setor privado – ao contrário dos Estados Unidos, onde a universidade interage basicamente com setores de alta tecnologia, como a indústria farmacêutica, a de eletrônica e de equipamentos de computação.

O estudo revela também que as pesquisas concentram-se em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina e que, no Brasil, a interação da universidade com as empresas está mais associada a ações de adaptação, melhoramento, mudanças incrementais, produtos e processos nas empresas do que a inovações radicais.

Políticas públicas – Segundo Suzigan, essa pesquisa produziu conhecimentos sistematizados que serão bastante úteis à formulação de políticas públicas na área de C&T, sobretudo porque indicam as áreas do conhecimento científico mais demandadas pelas empresas. O conteúdo do projeto deu origem ao livro “Em Busca da Inovação: Interação Universidade-Empresa no Brasil”, de 463 páginas, publicado pela Editora Autêntica com apoio da Fapesp.

(Viviane Monteiro – Jornal da Ciência)


Luis Nassif

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