Ítaca, do Poeta Konstantinos Petrou Kavafis

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Sugerido por jns

 

Κωνσταντίνος ΠΚαβάφης (29 Απριλίου 1863 – 29 Απριλίου 1933)

Manuscrito parcial do poema Ítaca

Traduzido por José Paulo Paes

Se partires um dia rumo a Ítaca, 

faz votos que o caminho seja longo, 
repleto de aventuras, repleto de saber. 
Nem Lestrigões nem os Ciclopes 
nem o colérico Posídon te intimidem; 
eles no teu caminho jamais encontrarás 
se altivo for teu pensamento, se sutil 
emoção teu corpo e teu espírito tocar. 

Nem Lestrigões nem os Ciclopes 
nem o bravio Posídon hás de ver, 
se tu mesmo não os levares dentro da alma, 
se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos que o caminho seja longo. 
Numerosas serão as manhãs de verão 
nas quais, com que prazer, com que alegria, 
tu hás de entrar pela primeira vez em um porto 
para correr às lojas dos fenícios 
e belas mercancias adquirir: 
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos, 
e perfumes sensuais de toda a espécie, 
quanto houver de aromas deleitosos. 
A muitas cidades do Egito peregrinas 
para aprender, para aprender dos doutos.

Tens todo o tempo de Ítaca na mente. 
Estás predestinado a alí chegar. 
Mas não apresses a viagem nunca. 
Melhor muitos anos levares de jornada 
e fundeares na ilha, velho, enfim, 
rico de quanto ganhaste no caminho, 
sem esperar riquezas que Ítaca te desse. 
Uma bela viagem deu-te Ítaca. 
Sem ela não te ponhas a caminho. 
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre. 
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência, 
e agora sabes o que significam Ítacas.

Traduzido por Haroldo de Campos

Quando, de volta , viajares para Ítaca

roga que tua rota seja longa, 

repleta de peripécias, repleta de conhecimentos.
Aos Lestrigões, aos Cíclopes,
ao colérico Posêidon, não temas:
tais prodígios jamais encontrará em teu roteiro,
se mantiveres altivo o pensamento e seleta
a emoção que tocar teu alento e teu corpo.
Nem Lestrigões nem Cíclopes,
nem o áspero Posêidon encontrarás,
se não os tiveres imbuído em teu espírito,
se teu espírito não os suscitar diante de si.

Roga que sua rota seja longa,
que, múltiplas se sucedam as manhãs de verão.
Com que euforia, com que júbilo extremo
entrarás, pela primeira vez num porto ignoto!
Faze escala nos empórios fenícios
para arrematar mercadorias belas;
madrepérolas e corais, âmbares e ébanos
e voluptuosas essências aromáticas, várias,
tantas essências, tantos aromaticas, quantos puderes achar.

Detém-te nas cidades do Egito – nas muitas cidades-
para aprenderes coisas e mais coisas com os sapientes zelosos.
Todo tempo em teu íntimo Ítaca estará presente.
Tua sina te assina esse destino,
mas não busques apressar sua viagem.
É bom que ela tenha uma crônica longa duradoura,
que aportes, velho, finalmente à ilha,
rico do muito que ganhares no decurso do caminho,
sem esperares de Ítaca riquezas.
Ítaca te deu essa beleza de viagem.
Sem ela não a terias empreendido.
Nada mais precisa dar-te.
Se te parece pobre, Ítaca não te iludiu.
Agora tão sábio, tão plenamente vivido,
bem compreenderás o sentido das Ítacas.

Ítaca na voz de Sean Connery

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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  1. Alcabideche

    Alcabideche

    Ó tu que habitas Alcabideche! Oxalá nunca te faltem
    cereais para semear, nem cebolas nem abóboras.
    Se és homem decidido precisas de um moinho

    que trabalhe com as nuvens sem dependeres dos regatos.
    Quando o ano é bom a terra de Alcabideche
    não vai além das vinte cargas de cereais.
    Se rende mais, então sucedem-se,
    ininterruptamente e em grupos compactos,
    os javalis dos descampados.
    Alcabideche pouco tem do que é bom e útil.
    como eu próprio quase surdo como sabes.
    Deixei os reis cobertos com os seus mantos
    e renunciei a acompanhá-los nos cortejos…
    Eis-me em Alcabideche colhendo silvas com uma podoa ágil e cortante.
    Se te disserem: gostas deste trabalho?, responde; sim.
    O amor da liberdade é o timbre de um carácter nobre.
    Tão bem me governam o amor e os
    benefícios de Abu Bacre Almofadar
    que parti para um campo primaveril.
     

    Ibn mucana (Alcabideche – Cascais, 1042 — Alcabideche, século XI)

  2. Génesis

    A seguir disse [Deus] ao homem:

    “… porque atendeste à voz de tua mulher e comeste o fruto da árvore, a respeito da qual Eu te havia ordenado ‘não comas dela’, maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida. Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos…”

    Paradise Lost.  Adão e Eva expulsos do Paraíso por John Martin (1789-1854, Reino Unido)   John Martin

    Nesta altura, Adão, não o disse, mas certamente, pela primeira vez, pensou-o: 

    – ‘Foda-se…’

    1. Lembra, corpoCorpo, lembra

      Lembra, corpo

      Corpo, lembra não só quanto foste amado,
      não somente os leitos em que deitaste,
      mas também aqueles desejos que por ti 
      brilhavam nos olhos claramente,
      e que tremiam na voz – e que algum
      obstáculo fortuito frustrou. 
      Agora que tudo já está no passado,
      parece, quase, que àqueles desejos também
      tu te entregaste – como eles brilhavam,
      lembra, nos olhos que te contemplavam;
      como tremiam na voz, por ti, lembra, corpo.

      Θυμήσου, σώμα

      Σώμα, θυμήσου όχι μόνο το πόσο αγαπήθηκες,
      όχι μονάχα τα κρεββάτια όπου πλάγιασες,
      αλλά κ’ εκείνες τες επιθυμίες που για σένα
      γυάλιζαν μες στα μάτια φανερά,
      κ’ ετρέμανε μες στη φωνή — και κάποιο
      τυχαίον εμπόδιο τες ματαίωσε.
      Τώρα που είναι όλα πια μέσα στο παρελθόν,
      μοιάζει σχεδόν και στες επιθυμίες
      εκείνες σαν να δόθηκες — πώς γυάλιζαν,
      θυμήσου, μες στα μάτια που σε κύτταζαν·
      πώς έτρεμαν μες στη φωνή, για σε, θυμήσου, σώμα.

      (Tradução de Ísis da Fonseca)

    2. A Biblioteca de Babel

      Jorge Luís Borges

      Bibliothèques IDEALES.  Bibliothèque Idéale 2.  Por Jean-François Rauzier.  Clique acima para ver a imagem ampliada.

      “Tenho a suspeita de que a espécie humana – a única – está prestes a extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.”

  3. Encontra Entre Cavafy e Pessoa

    The Night Fernando Pessoa Met Constantine Cavafy

    A inspirada película do cineasta grego Stelios Charalampopoulos sobre o encontro de

    duas lendas da poesia no mesmo espaço-tempo fílmico.

    Em 21 de outubro de 1929, o transatlântico Saturnia atraca em Trieste, durante a sua

    viagem à América, embarcando imigrantes dos portos do Mediterrâneo.

    Um jovem grego, que embarcara no navio em Patras, testemunha um encontro inesperado,

    em uma noite, a bordo do navio que transporta os sonhos do Novo Mundo.

    Um encontro, igualmente, de sonho, mas muito real, terá lugar entre dois dos maiores poetas

    do século que apenas terminara: Fernando Pessoa e Constantine Cavafy.

    [video:http://youtu.be/lVu2GBE_uSY%5D

    [video:http://youtu.be/EnLxxyfzBrQ%5D

    [video:http://youtu.be/fThl1hakvxk%5D

  4. Belo poema

     

    Jns,

    Valeu a chamada para este poema.

    Até recentemente, eu não conhecia o poema “Ítaca”. E o poeta Konstantinos Petrou Kavafis, eu só o conhecia em razão de alguma referência a poetas gregos.

    Em 29, entretanto, eu vi uma referência ao poema no post “Concurso do IPEA” de quarta-feira, 06/05/2009, no blog de Na Prática a Teoria é Outra (Celso Rocha de Barros). O post “Concurso do IPEA” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=3786

    No post “Concurso do IPEA”, Celso Rocha de Barros conta sobre a odisseia que acontecia a ele para que uma universidade brasileira pudesse reconhecer título de doutorado que ele fizera no estrangeiro. Quase no final do post “Concurso do IPEA”, Celso Rocha de Barros faz uma referência ao poema “Itaca” de Kaváfis.

    Um pouco depois, isto é, quase um ano depois, eu encontrei por sorte o post “Concurso do IPEA” e enviei um comentário. Em meu comentário, que é o de número #61, enviado segunda-feira, 08/03/2010 às 10:38 pm (para conseguir obter o número da ordem de envio do comentário e o horário em que o comentário foi enviado, é preciso que, no momento em que se abre o endereço, a abertura seja interrompida, clicando no x, evitando-se assim que se baixe o intensedebate), eu digo o que se segue:

    “Na Prática a Teoria é Outra,

    Legal, afável e prestimoso o comentário de And (#60) de 08/03/2010 às 01:31 pm, portanto, hoje, aqui para este post “Concurso do IPEA” de 06/05/2009, que já se aproxima de quase um ano.

    E o melhor, o elogio dele permitiu-me encontrar no seu post a referência ao poema “Ítaca”, e conhecer o poeta grego Konstantinos Kaváfis (1863-1933). Até então, o poeta e o poema eram-me desconhecidos. Lembrei-me de outro poema que talvez tivesse-lhe soado melhor há mais tempo ao chegar. É o poema de Joachim du Bellay “Heureux qui, comme Ulysse” (, a fait un beau voyage). Agora, após enfrentar a sua verdadeira odisséia, o poema de Konstantinos Kaváfis torna-se mais atual”.

    E o poema “Ítaca” fora transcrito por Celso Rocha de Barros em um post bem mais antigo dele intitulado “Kaváfis” de sexta-feira, 21/07/2006 e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://napraticaateoriaeoutra.org/?p=694

    Quanto ao poema “Heureux qui, comme Ulysse, a fait un beau Voyage”, ele pode ser visto no original e recitado no seguinte endereço:

    http://www.bacdefrancais.net/heureux-ulysse-du-bellay.php

    A leitura em francês parece ser mais feita por professor de adolescente. Não me pareceu haver a oratória de um intérprete. E deixo também indicada a tradução do poema de Joachim du Bellay para o português feito por Jorge Sena e que pode ser vista no endereço a seguir:

    http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/traducao/a-poesia-francesa-traduzida-por-js/

    Gosto muito do poema de Joachim du Bellay, mas o poema de Konstantinos Petrou Kavafis parece-me ter um caráter mais cosmopolita enquanto o de Joachim du Bellay ainda que tendo um caráter universal, mais transparece uma pequena homenagem às nossas pequenas cidades do interior.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 08/03/2010

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