Janio: “a criminalidade das Rocinhas não é subproduto da delinquência engravatada?”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Francisco Proner Ramos
 
 
Jornal GGN – Em artigo na Folha deste domingo (24), Janio de Freitas faz um paralelo entre a criminalidade na Rocinha e os crimes de colarinho branco protagonizados por políticos que estão ou estavam, há pouco tempo, no poder, como Geddel Vieira Lima – suposto dono de R$ 51 milhões em espécie apreendidos pela Polícia Federal.
 
“O tráfico proveniente das Rocinhas é uma desgraça. Há, porém, um tráfico mais devastador. O tráfico de drogas destrói indivíduos, o tráfico de influência nos gabinetes e salões do poder arrasa multidões, mais de 200 milhões de seres roubados em dinheiro e em direitos pelos negócios do suborno e da influência.”
 
Para Janio, “a insegurança urbana é indignante e injusta. Até filas de emprego são assaltadas, bandidos pobres roubando pobres trabalhadores. Mas a delinquência que sai das Rocinhas, e transtorna as suas cidades, generaliza espantos e horrores. Uma caverna com R$ 51 milhões tomados pela delinquência armada de poder político, ah, essa excita o bom humor. E a criminalidade das Rocinhas não é subproduto da delinquência engravatada, indiferente às suas vítimas tal como a delinquência urbana? Ambas tão comuns, tão antigas, consanguíneas, diferentes apenas na extensão em que infelicitam o presente e o futuro país.”
 
Por Janio de Freitas
 
Na Folha
 
O País das Rocinhas
 
O espanto generalizado com a guerra na Rocinha só pode vir do vício de espantar-se com os atos todos da violência urbana, não importa se maiores ou minúsculos, se astuciosos ou vulgares. Rocinha não é mais do que uma celebridade (a palavra-símbolo do jornalismo deslumbrado) entre milhares de assemelhadas pelo país afora.
 
Na Rocinha há fuzis modernos, sim. Em Brasília, os equivalentes aos criminosos da Rocinha têm a mais abrangente e terrível das armas: o poder –de governar em benefício de grupos, de legislar em causa própria e dos subornadores, de queimar uns poucos comparsas e preservar o grosso da bandidagem engravatada.
 
Se é assim no cimo do país, onde também se travam lutas por mais domínio, o que esperar dos que têm a mesma índole sem, no entanto, receberem da vida as mesmas oportunidades? Assalto por assalto, dos cofres públicos é roubado muito mais, nem se sabe quantas centenas de bilhões, do que o dinheirinho de passantes, o troco das caixas de lojas, os celulares, relógios e carros.
 
Há as drogas. Todas as Rocinhas são dadas como entrepostos de droga. São vendedoras. Inclusive para os consumidores armados de poder e seus sócios no elitismo. Nas Rocinhas, vem em papelotes. Nas festas da fortuna, a droga vem em bandejinhas de prata. Elegância e poder não costumam andar juntos, mas às vezes coincidem.
 
O tráfico proveniente das Rocinhas é uma desgraça. Há, porém, um tráfico mais devastador. O tráfico de drogas destrói indivíduos, o tráfico de influência nos gabinetes e salões do poder arrasa multidões, mais de 200 milhões de seres roubados em dinheiro e em direitos pelos negócios do suborno e da influência.
 
Os delinquentes de todas as Rocinhas matam. Muito. E o fazem, é verdade, com indiferença e perversidade. Pensar que a airosa Fortaleza é a quinta entre as dez cidades mais violentas das Américas, sendo o Rio a décima e última, parece estatística de economista.
 
O homicídio originário das Rocinhas cresce e se espalha, incontrolável. Em paralelo ao homicídio que não leva esse nome, para proteger seus culpados. E que assassina com as armas letais que são a ausência de remédios para transplantados, HIV, diabéticos, tuberculosos, cardíacos, e tantos mais, por “falta de verba” que ricaços no poder cortaram.
 
Quando não é a morte assim, é a tortura pela espera de leito hospitalar, pelos meses à espera de um teste de câncer, pelos meses à espera da cirurgia. Pela espera impiedosa da morte. Decretada nas altitudes luxuosas de Brasília, nas roubalheiras cabralinas não só fluminenses, e muitas vezes autorizadas pela maioria de travestis do Congresso –bandidos passando-se por representantes do povo. Os homicídios dos delinquentes das Rocinhas em geral são muito menos numerosos.
 
A insegurança urbana é indignante e injusta. Até filas de emprego são assaltadas, bandidos pobres roubando pobres trabalhadores. Mas a delinquência que sai das Rocinhas, e transtorna as suas cidades, generaliza espantos e horrores. Uma caverna com R$ 51 milhões tomados pela delinquência armada de poder político, ah, essa excita o bom humor. E a criminalidade das Rocinhas não é subproduto da delinquência engravatada, indiferente às suas vítimas tal como a delinquência urbana? Ambas tão comuns, tão antigas, consanguíneas, diferentes apenas na extensão em que infelicitam o presente e o futuro país.
 
COMO SEMPRE
 
Apesar das muitas críticas ao governador Luiz Fernando Pezão, ao proibir a intervenção policial na guerra de bandos, domingo passado na Rocinha, ele por certo evitou uma mortandade inútil no que seriam os três lados do tiroteio. E, pior, nos alvejados pelas ditas balas perdidas.
 
Na intervenção agora consumada, mais uma vez o Exército mostra, desde as primeiras decisões, que ainda não compreendeu o problema e, portanto, as suas possibilidades. Erros que se repetem desde a cúpula ambiental Rio-92. É demais.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. janio…

    A violência não e resultado do Poder. É resultado da falta de Poder. É a face mais nítida do abismo entre a Sociedade e o Controle do Estado. A violência tem hora e local para acontecer. Não existe “Bala Perdida”.Isto é conversa fiada como reagir a assalto. É passar para a vítima a responsabilidade pelas consequências da violência. É como culpar a mulher e seu modo de se vestir, pelo estupro ocorrido. É a face mais canalha da farsa de Democracia e Estado que nunca tivemos. Como disse certa vez, Sérgio Cabral: O RJ não está todo tomado. A Barra da Tijuca tem índices de violência semelhantes aos europeus. Obrigado pela verdade uma única vez, Governador. Tem Copa do Mundo e Olimpíadas. E a Guerra do Tráfico? Tirou férias. Por que? Campeonato Brasileiro corre solto. Os criminosos vão passear? Alguém no Rock’n Rio, que pagou de mil a cinco mil reais pela entrada, está preocupado com a Guerra do Crime, que continua “normalmente” nos bairros do Rio de Janeiro, que servem para este propósito? Tirou a tranquilidade dos Artistas Internacionais? Vamos alimentaresta farsaaté quando? Até porque o as drogas, o dinheiro, o poder, e seus verdadeiros donos passam de “helicoptero” por cima disto tudo. Na Criminalidade deles não existe Bala Perdida. 

  2. A pec do teto de gastos por
    A pec do teto de gastos por 20 anos, a reforma trabalhista que vai foder o trabalhador, a possivel reforma da previdencia, a quebra da construçao civil no pais, desemprego, venda de campos de petroleo brasileiro, Temer no poder, Etc não são subprodutos do golpe contra Dilma onde o cafajeste foi principal ferramenta?
    Cale a boca, cafajeste.

  3. As ibagens são

    As ibagens são impressionantes.

    Pegaram três carinhas numa boca qualquer e mostraram o quanto de droga apreenderam.

    Na boa, a quantia era o suficiente para ser preso por tráfico, mas não se compara com aquela meia tonelada de cocaína em que a notícia virou pó.

    E desbaratinar quadrilha que trafica droga sintética pra festa de playboy golpista, nunca…

  4. Matou a charada

           “Ora, quais as “partes” ou “instituições” do Estado brasileiro que foram “capturadas” pelo crime organizado? Nenhuma explicação, nada. Apenas uma nuvem de desconfiança para a população: sua Polícia, sua Justiça, sua Administração, ou seriam seus próprios dirigentes que teriam se unido ou sido capturados pelo crime organizado para formar o “Estado Paralelo”? Ou talvez o Ministério da Justiça, que não consegue explicar como “Nem”, numa Penitenciária de Segurança Máxima em Porto Velho, comanda o tráfico no Rio de Janeiro?”

          Matou a charada. O Estado brasileiro foi capturado pelo crime organizado. Enquanto botam a polícia e o exército para matarem pretos e pobres de favelas, os senadores dos helicópteros com 400 kg de cocaína continuam operando impunemente. Quantos helicópteros e aeronaves com toneladas de cocaína esses políticos e seus aliados nos altos escalões do poder já transportaram sob os céus do Brasil e inundaram favelas em todos os cantos do país?

           Como perguntou outro dia o jornalista Jânio de Freitas: “a criminalidade das Rocinhas não é subproduto da delinquência engravatada?”. Alguém tem dúvida da resposta a essa pergunta? Assim como acontece em outros países do mundo, o Estado brasileiro foi capturado pelo crime organizado. O Estado brasileiro é o tal Estado Paralelo? Como explicar o comportamento da maioria do Congresso Nacional em manter no poder um presidente com quase 100% de reprovação popular e acusado de chefe de organização criminosa?

          Como explicar que ministros da suprema corte estejam mancomunados com o presidente acusado de chefe de organização criminosa? Como explicar que o ex-senador Torres Cachoeira tenha sido absolvido e retomado suas funções no Ministério Público?  Como explicar tantos descalabros encetados por banqueiros e seus comparsas para capturarem o Estado brasileiro e manter as profundas desigualdades sociais desse país tão profundamente injusto? Parece óbvio de mais para se esperar explicações mais sofisticadas do que o óbvio ululante.

           Faz sentido fazer “acordo nacional” com essas organizações criminosas que controlam portos e aeroportos, como fazem as máfias em todos os lugares do mundo, que controlam a política brasileira e que alguns articulistas bem intencionados propõem fazer o “acordo nacional”? Ah! Se Lula entrar no acordo nacional todos devemos apoiar a clássica solução por cima. Beleza. Afinal, sempre foi assim no Brasil: tudo deve permanecer como sempre foi. Quando iremos entender que um país sem soberania popular, um país que não conquistou a soberania popular jamais será salvo por acordos feitos entre elites corruptas?

     

     

    https://jornalggn.com.br/noticia/janio-a-criminalidade-das-rocinhas-nao-e-subproduto-da-delinquencia-engravatada

    1. matou….

      Caro sr.Josias, este Estado que em nada te representa, está preocupado com sua segurança ou atento em manter as fortunas geradas pela criminalidade? Roubo de Bancos, Tráfico de Drogas, Roubo de Cargas e Automóveis? O sr. já respondeu. Realmente o Estado Brasileiro foi tomado pelo Crime Organizado: Exceutivo, Legislativo e Judiciário. abs.  

  5. Máfia fhc! Esgoto a céu aberto desde 2002…antes era na moita!

    Siiiiimmmmmm!!!!….

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    …. mas alguns não usam gravata de jeito nenhum.

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  6. A Criminalidade das Rocinhas são fruto das desigualdades sociais

    A criminalidade das Rocinhas e a delinquencia engravatada são ambas frutos das abissais desigualdades sociais sem base em meritocracia.

    Qual é, Jânio?

    O problema é essencialmente econômico, não político.

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