Jeremy Corbyn: a esquerda cresce quando defende o seu programa, por Lindbergh Farias

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jeremy Corbyn: a esquerda cresce quando defende o seu programa

por Lindbergh Farias

Osvaldo Aranha, político gaúcho e chanceler brasileiro, costumava dizer ironicamente que as ideias no Brasil costumam demorar a passar na alfândega. A esquerda brasileira precisa sintonizar as ondas do que acontece no mundo.

As experiências eleitorais recentes nos Estados Unidos (Bernie Sanders), França (Jean-Luc Mélenchon), e no Reino Unido (Jeremy Corbyn), concentram a seguinte lição: em tempos atuais, a esquerda, quando assume um programa de crítica radical do neoliberalismo e do capitalismo financeiro, polariza, aglutina e cresce; quando, ao contrário, assume um discurso envergonhado e conciliador diante do mercado e das elites, definha organicamente, deixa de polarizar, aglutinar e crescer.

Além disso, ao não polarizar, sucede a tragédia das tragédias: a ausência de uma esquerda de verdade cede espaços ao crescimento da direta neofascista. Não se trata de apenas ganhar eleições, embora isto seja fundamental, mas de a esquerda sair fortalecida e largo horizonte de futuro. 

Na semana passada, Guilherme Boulos declarou em entrevista à BBC que “Lula não unificará esquerda se propuser ‘mais do mesmo’”. A provocação de Boulos é interessante, mas a questão de fazer “mais do mesmo”, na realidade, nem se põe. O fluxo da temporalidade é irrevogável. Condições objetivas de conciliação, como as da primeira eleição de Lula em 2002 não se repetem mais, a não ser como miragem saudosista.

As próximas eleições presidenciais brasileiras, em razão de tudo que aconteceu de 2014 para cá – o não reconhecimento do resultado eleitoral pela oposição, o golpe de Estado, as reformas neoliberais radicais, etc. -, sejam elas antecipadas ou em 2018, serão as mais duras de nossa história. O Brasil se encontra em uma encruzilhada histórica: a grande questão para a esquerda, nos próximos embates, não é apenas institucionalmente acumular forças, elegendo mais e melhores bancadas parlamentares. É preciso acumular forças, mas é urgente haver um salto de qualidade na sociedade.

Tratemos de abordar o caso da eleição desta quinta-feira (08/06) no Reino Unido. Desde que se antecipou as eleições parlamentares no Reino Unido, era dado como certo uma vitória folgada da primeira ministra conservadora, Teresa May. A antecipação foi considerada por muitos uma “jogada de mestre” da primeira ministra.

A ideia-força do marketing da campanha conservadora era persuadir o eleitor que Teresa May tinha uma vistosa pose de “estadista””, sendo “a mais preparada” para conduzir o processo do Brexit. O discurso foi bem sucedido pela direita. Teresa May engoliu o UKIP (partido da direita radical) com promessas chauvinistas de medidas duras de biopoder, visando controlar o fluxo de imigrantes à ilha.

Entretanto, para surpresa de muitos, a eleição emparelhou pela esquerda. Eleições não se ganham de vésperas, principalmente no Reino Unido. Basta recordar que nas eleições de maio de 1945, que se deram no exato momento de comemoração de vitória na guerra, um dos estadistas indiscutíveis da vitória, o mito Winston Churchill, amargou a derrota para o trabalhista Clement Attlee, que governou até 1950.

A vitória de Attlee se explica pelo fato, demonstrado por Eric Hobsbawm em a “Era dos Extremos”, que o soldado inglês se sacrificou nos campos de batalha persuadido pelas promessas que o mundo do pós-guerra seria mais justo. Não é à toa que o documento fundamental de montagem do welfare state britânico, o Relatório Beveridge, foi aprovado no parlamento em 1942, um ano após os bombardeios alemães sobre Londres. Para dar sangue, suor e lágrimas, o contrato social precisaria mudar mais na frente.    

Antes dado como candidato fora do páreo, o candidato trabalhista, Jeremy Corbyn, começou a crescer vertiginosamente, fortemente apoiado nos eleitores mais jovens. Corbyn cresceu porque conseguiu girar o eixo do debate de campanha. Em vez de a ordem do dia ser a melhor administração do fato consumado do Brexit, o assunto de campanha passou a ser o welfare state, especialmente o serviço universal de saúde (National Health Service – NHS) e a desprivatização das universidades Britânicas. Além disso, Corbyn não faz de rogado em se afirmar claramente socialista, bem como é corajoso ao declarar que os ataques terroristas em solo britânico são uma esp&eacu te;cie de efeito bumerangue das guerras de conquistas promovidas pelo Império Britânico no mundo árabe e islâmico. O espectro da cobiça de dominação imperialista inglesa continua a cobrar um preço.   

O welfare state tem raízes profundas na sociedade britânica. Não acaba de uma canetada, como escreve Perry Anderson na conferência “Balanço do Neoliberalismo[1]”. Tanto que sobreviveu até mesmo à assunção destrutiva de uma Margaret Thatcher (1979), uma personalidade portadora de uma convicção de tipo religioso na autorregulação dos mercados, até então uma ideologia exótica mesmo entre os conservadores.

O giro de Corbyn se assemelha à capacidade de impor um discurso contra a corrente que tiveram recentemente Bernie Sanders nas eleições americanas e Jean-Luc Mélenchon nas eleições francesas. Sem desprezar as peculiaridades nacionais da política e a história particular de cada eleição, mais que diante de fatos puramente locais, começa a emergir uma realidade política mais global.

Vários analistas interpretam que, caso o adversário de Trump fosse Sanders, em vez da desgastada Hillary Clinton, talvez o resultado das eleições americanas tivesse sido diferente. Hillary representava o “neoliberalismo progressista” – conforme a expressão provocadora de Nancy Fraser em artigo[2] magnífico – onde discutiu o projeto de aliança entre os yuppies cosmopolitas do Vale do Silício e Wall Street e as justas aspirações de identidade. De outro lado estava o velho senador progressista por Vermont, Sanders, que propôs um programa de valorização das questões identitárias, que giravam em torno de uma aliança com o prec ariado, sejam os jovens escolarizados e desempregados ou a classe operária tradicional.

Igualmente, o programa de Mélenchon, e sua coligação “França Insubmissa” percebeu o desgaste do revezamento leopardiano de comadres – “mudar para que tudo fique como está” – entre republicanos e socialistas para ver quem melhor conduz a racionalidade do capitalismo financeiro. Assim, resgatou nas raízes do radicalismo histórico francês, não só de esquerda socialista, elementos de afirmação de um programa radical e sem subterfúgios. Não foi ao segundo turno, mas se posicionou firmemente para novos embates. Enquanto isso, o tradicional partido socialista se esvaiu complemente.

Há um traço de união nos desempenhos de Sanders, Mélenchon – bem como no desempenho que se anuncia de Corbyn. Os três perceberam a novidade – evidente também no Brasil a partir das mobilizações de junho de 2013 – que está ocorrendo no mundo um deslizamento para os pólos do espectro político.

[1] Perry Anderson: Balanço do neoliberalismo: http://paje.fe.usp.br/~mbarbosa/cursograd/anderson.doc

[2] Nancy Fraser: https://www.dissentmagazine.org/online_articles/progressi ve-neoliberalism-reactionary-populism-nancy-fraser

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

19 Comentários

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    1. Mais infantil do que qualquer coisa.

      Como tenho tempo confiro as coisas que são colocadas, mesmo tendo uma premonição que lá vem merd@, pois não deu outra.

      Este tal de Zero hedge é uma daqueles sites escrotos, que existem em toda a rede, dedicado a espalhar lixo para todos os lados, caro Philippe (ou quem se esconde atrás deste nome), não venha nos perturbar com bobagens e vai colocar tuas intervenções lá no AntaGonizante, pois comentários de sites da escola austríaca o pessoal aqui já está de saco cheio. Vá procurar a tua turma.

  1. O que talvez Lindbergh tenha destacado é o que poucos observam.

    Com o artigo centrado no que está acontecendo nos USA, França e Inglaterra alguns comentaristas locais se negam em reconhecer, o capital internacional está sofrendo pequenas fissuras em suas maiores economias que são mais significativas do que querelas locais que tentam tratar o BRASIL como centro do mundo.

     

    Se alguns pensam que é simples movimentos de uma esquerda que questiona os paradigmas liberais, que não é aquela que toda a direita gosta (PSOL, PSTU, MAIS e outros grupelhos diversionistas), atingir o poder não só nestes países centrais como no Brasil, enganam-se muito.

     

    Sanders, Mélenchon e Corbyn vistos isoladamente seriam uma mera bizarrice, entretanto no momento que os três surgem no espectro político internacional como uma força de contraposição de quem deseja o PODER e não desejam eleger uma bancadinha de deputados para proporem belas ações diversionistas parlamentares tais como a que vemos aqui como o “impeachment de Temer” ou coisas equivalentes nos seus países, se vê que a fratura no Imperialismo.

     

    Realmente não enxergar esta realidade e concentrar esforços em querelas paroquiais é algo de uma pobreza na análise surpreendente.

     

    Cada vez se vê mais a ênfase de cientistas sociais em publicar artigos vigorosos sobre falsos problemas ou dar destaque a verdadeiras masturbações intelectuais que procuram negando simplesmente a luta de classes substituí-la por palavreados complexos e enigmáticos, que através das últimas décadas substituíram a simples visão da dinâmica do processo do poder por caminhos tortuosos que não levam a nada.

     

    Provavelmente haverá críticas a um comentário simples que faço neste artigo, pois talvez da mesma forma que um ator da política que é o senador Lindbergh e não “voyeurs” da política criticam-no como “edições” simplificadoras e a escritas sintéticas de artigos.

     

    O artigo é claro e preciso, e talvez por não colocar dezenas de palavras de “socioleguês” não agrade as minorias intelectualizadas, porém vai ao ponto básico, algo está acontecendo e este algo não é mais para crianças brincarem, mas sim para adultos refletirem.

  2. FRANCE INSOUMISE

    Caro Senador Lindbergh,

     

    Franco brasileira que sou, et INSOUMISE com muito orgulho seja na França ou no Brasil, é com prazer que assisto a crescente consciência e comprometimento das lideranças HUMANISTAS com seus valores fundadores….e faz uma excelente analise quando diz que : “em tempos atuais, a esquerda, quando assume um programa de crítica radical do neoliberalismo e do capitalismo financeiro, polariza, aglutina e cresce” gostaria de acrescentar que não se trata, no que se refere à FRANCE INSOUMISE, unicamente de CRITICAS…essas são acompanhadas de um INTENSO MOVIMENTO DE EDUCACAO POPULAR EM TODO O TERRITORIO FRANCES JUNTO A POPULACAO QUE VEM SENDO DESENCORAJADA A PARTICIPAR DO DEBATE POLITICO, SOBRETUDO QUE NA França O VOTO NAO EH OBRIGATORIO – O DESINTERESSE CULTIVADO POR CAUSA DAS INTENCIONAIS INCOERENCIAS DOS DESGOVERNANTES E DOS EVENTUAIS CANDIDATOS A SEGUIR COM O TRATOR DA FILOSOFIA DE AUSTERIDADE -PARA ALGUNS – TORNA MAIS FACIL AO SISTEMA A MANIPULACAO DOS RESULTADOS DAS ELEICOES…LEVANDO A IMPOSICAO DO CANDIDATO FABRICADO PELAS MIDIAS E ENCOMENDADO PELO CHAMADO “ESTADO PROFUNDO” – na França ninguém é “dupe” a respeito do candidato “eleito” – que se prepara para nos dar um espetaculo ainda mais deprimente que o #FORATEMER estah nos “presenteando” no Brasil. – e mesmo se o “sistema” parece ter vencido mais uma batalha….quem viver verah…

    Tendo vivido minha adolescência e uma parte da vida adulta em plena ditadura milita no Brasil, o que mais tenho apreciado é a evolução dos movimentos populares que não se limitam à intelectualismos, mas honrando as teorias de nosso amado Paulo Freire sabe associar Conhecimento e Praxis…e foi a administração do Pais pelo Partido dos Trabalhadores quem tornou possivel esse empoderamento do INTERESSE COLETIVO – O POVO AGRADECE…E RETRIBUE GENEROSAMENTE…E ESPERA SIM, DAQUELES QUE ESCOLHERAM PARA QUE OS REPRESENTE ESSE COMPROMETIMENTO QUE ESTAMOS PRESENCIANDO CRESCER TAMBEM NAS LIDERANCAS INTERNACIONAIS…

    Com essa renovação dos lideres do Partido dos Trabalhadores espero ver a retomada cada vez maior de parcerias sim….MAS COM AS BASES…parafraseando LULA : “O POVO NUNCA FOI O PROBLEMA? O POVO EH A SOLUCAO” o problema começa quando se esquece isso…

    1. Cara amiga, acompanhei nos últimos seis meses antes das ……

      Minha cara amiga, acompanhei nos últimos seis meses antes das eleições francesas praticamente o dia a dia das mesmas via não só notícias de jornais, que são também na França dominadas por sete ou oito grandes grupos financeiros, e vi a luta diária de Mélenchon fazer um discurso pedagógico e sem apelos (apesar da direita o tachar de um populista de esquerda).

      Talvez o que falte nos políticos de esquerda brasileiros e sobre no caso de Mélenchon é a ideia de levar uma “cultura democrática” ao povo, coisa que com os governos liberais socialistas (uma aparente contradição) matou a longa tradição secular de uma esquerda francesa. Mas o pior é que os políticos não enxergam que este trabalho didático leva a criação de uma base de militantes sólida que permanece fiel aos princípios durante décadas.

      A grande pena é que no Brasil atual poucas pessoas sabem francês, e mesmo uma liderança de esquerda brasileira, o Rui Pimenta faz um trabalho semelhante, não com o brilhantismo de Jean-Luc mas com a mesma persistência. E é uma pena também que o próprio Rui Pimenta também não fala nem lê em Francês, pois aprenderia muita coisa com o grande mestre.

      A grande vantagem dos políticos de esquerda brasileiros que não tem (felizmente ou infelismente) os políticos franceses é que aqui as contradições estão a flor da pele, enquanto na Europa como um todo e nos Estados Unidos, como as migalhas distribuídas pelo grande capital são maiores, porque o pão também o era, enquanto no Brasil as migalhas são mesmo migalhas.

      A incompreensão aparente de várias pessoas expressam nos seus comentários é parte pela incompressão dos processos como parte de uma real traição mantida por recursos vindos do exterior.

      Há outra coisa que poucos se apercebem, é que a verdadeira politização das massas populares vem de doloridos e penosos processos de aprendizagem com avanços e recuos. Se os avanços forem maiores do que os recuos, tudo bem, porém o necessário neste processo para a evolução do mesmo evitando os recuos é que falsos líderes oportunistas ou mesmo pagos para isto sejam desmistificados.

  3. Jogo clareia por cima, mas erra por baixo

    Anos atrás, em 2002, o PT precisou da Carta aos Brasileiros para poder ganhar a eleição e convencer a parte da classe media. A direita se escondia atrás da mídia, do Plano Real e da Responsabilidade Fiscal. Havia um jogo de faz de conta, esperando que Lula tropeçasse e acabar assim de vez com o sonho popular. Lula foi tolerado e vigiado. Tentaram a sua queda com o mensalão, mas Lula ganhou o 2º mandato e saiu dele com enorme popularidade. Veio a crise da economia global, mas Lula converteu-a em marolinha. Ajudou a eleger Dilma duas vezes.

    Hoje caíram as máscaras de todas as partes. Aécio e os tucanos foram para a lama. O PMDB mostrou a ferida histórica de corrupção no Brasil. Os poderes meritocráticos mostraram a sua parcialidade elitista A mídia tirou completamente a máscara. Neste choque de realidade, perante o povo, parece evidente que agora a esquerda pode voltar a ser esquerda, sem revestimento, sem puxar o saco de ninguém, sem medo. O jogo agora é aberto e mais simples. A esquerda ganha pelos seus méritos, mas também pode perder pelos seus próprios erros, pois a direita não ganha nada no voto popular.

    O problema estará agora nos nossos erros e o maior deles é o excesso de “esquerdismo” numa hora destas, ou seja, um descuido por baixo, nas nossas próprias bases. Criamos gratuitamente rejeição por causa dos nossos excessos. Também, há ainda muitas bandeiras na rua e isso gera um efeito torre de babel que nos prejudica. A única saída agora é de unificar o discurso e focar em bandeiras mais simples: na nação, na justiça social e nas políticas anticíclicas, com a economia baseada na produção e no consumo interno.

    Esquerdistas modernosos têm polarizado estupidamente com brasileiros mais humildes de perfil conservador, em termos de costumes, família e religião. Isso tem sido aproveitado muito bem pelos inimigos do povo. Rio de Janeiro é o maior exemplo disso. O Bolsonaro surge assim, batizado nas águas do Rio Jordan e dividindo o povo brasileiro em torno de questões que poderiam ser discutidas mais adiante, depois de termos a nação salva.

    Se quisermos unir a esquerda, o PT deverá fazer muito do que Lindbergh sugere em relação à direita, mas, outros grupos de esquerda, no fogo amigo, como o PSol, deverão fazer uma revisão urgente das suas prioridades. O PSol turbina o Bolsonaro cada vez que cuspe na sua cara. A esquerda modernosa perde muitos dos votos que o PT duramente traz para o campo popular.

    1. sobre a tal carta …

      ela não foi decisiva para a vitória, porque o eleitor não aguentava mais a retórica oca dos neoliberais, mas para governar: a carta aos brasileiros foi uma capitulação para governar e, de certa forma, um estelionato eleitoral muito bem representado na figura canhestra de palocci.

      o sucesso de lula foi posterior quando, lá pelos 2005, deu leve e tímida guinada à esquerda.

      um povo que nunca teve nada, aquelas políticas públicas foram recebidas como dádiva.

       

    2. complementando

      o maior erro da esquerda não é o “excesso de esquerdismo”, mas a falta dele.

      esse “esquerdismo” envergonhado, que lindenberg expôs, tem origem nos anos 80 porque as esquerdas perderam seus talentosos porta-vozes; seus ‘demóstenes’.

      foi a época do gorbachov, um revisionista suspeito.

      já nos anos 90, os revisionistas eram ironizados, mas o leite estava derramado, e a esquerda abdicara de seu discurso econômico-social. logo depois, ‘tori’ blair elegia-se, pelo trabalhismo inglês, 1° ministro.

      numa reunião do ‘partidão’, em sts, ainda nos anos 80, foi colocado que os panfletos que seriam distribuídos aos trabalhadores da faixa portuária eram muito simples, irritantemente simples, beirando a pieguice.

      os burocratas – essa praga existe em todos os lugares – por outro lado, defendiam que, caso fosse mais complexo, ninguém entenderia nada.

      subestimavam o povo; sempre subestimaram. isso é o que mais irrita nos burrocratas.

      fez-se um teste em determinado navio e observou-se que todos estivadores leram de cabo a rabo um testo de 1 lauda de depois discutiram-no.

      essa prova empírica foi ignorada.

      enfim, a volta às origens é benfazeja, pois marx continua atualíssimo. o ideal socialista deve e merece ser divulgado.

      deve-se panfletar as saídas das arapucas evangélicas, dos cinemas, os bares, as feiras livres etc porque a palavra escrita é muito poderosa.

      o mais importante, é acabar com essa vergonha de se dizer socialista ou comunista porque o vermelho é a cor da fraternidade. a mensagem socialista é de fraternidade, e cristo era vermelho.

       

      1. Caro amigo, o discurso se reforça e se ganha talento com…..

        Caro amigo, o discurso se reforça e se ganha talento com a prática, e o que se passa é que as lideranças do PT são originárias de bases doutrinárias fracas, Lula é alguém que se formou na luta, mas sem uma base sólida que lhe falta, deverá trilhar os erros do passado para no fim se chegar o que já existia no fim do século XIX e início do século XX.

        Realmente o que escreves de se perder a vergonha de se dizer comunista ou socialista, de basear o discurso em conceitos antigos porém sólidos como o de Luta de Classes é o básico, mas veja se precisou de uma grande derrota para voltar ao substantivo, e o povo, como dizes com clareza está pronto para ouvir, pois quem é oprimido não é necessário explicar o que é opressão.

    3. Caro Alexis, uma abóbora é uma abóbora, um pepino é um pepino.

      Não podemos e não devemos titular a esquerda pequeno burguesa do país como esquerdistas, são na realidade o que são.

      Logo denominar elementos do PSOL, PSTU, MAIS e outros como esquerdismo é errado, são partidos pequenos burgueses que conhecem mais o “proletariado” pelos livros que leêm do que pela vivência pessoal.

      Quando assisti há bastante tempo uma das análises da semana de Rui Pimenta, achei meio exagerada sua posição em denunciar estes movimentos, pois até o momento só tinha perfeita noção das patuscadas da Luciana Genro, porém a pouco caí num de meus zaps na Internet no discurso de encerramento do “grande líder revolucionário”, Professor Valério Arcary (vide em https://youtu.be/ljg5CHSdS2E) é verdadeiramente patético. Porém mais patético ainda são os artigos deste mesmo professor no seu blog pessoal, onde confunde Lenin com Zé Maria, e consignas revolucionárias de 1917 com os balbuciados dos partidelhos de esquerda nos últimos anos.

  4. vencer ou ser iidealista

    O resutado final é a vitoria ou demonstrar que foi idealista ou coerente com seus ideiais. Em um país, onde a maioria do eleitores não entendem que há diferença entre Doria e Lula. O idealismo irá levar a derrota, como aconteceu na França e Eua. 

  5. Muito bom o artigo do

    Muito bom o artigo do Senador; uma excelente reflexão a respeito da conjuntura internacional. O que questiono é o total desprezo dessa pauta, dessa reflexão, no recente Congresso do PT. Mais uma vez a “esquerda brasileira” perde a chance de fugir do personalismo e realmente propor uma pauta de esquerda de verdade, a exemplo do que aconteceu na França e, agora no Reino Unido. O Congresso teria sido muito mais proveitoso se ao invés da discussão de nomes, o PT tivesse proposto ao país um programa de superação da “carta aos brasileiros”, também conhecida como carta aos banqueiros. Um programa mínimo, no mínimo, que recuperasse, um pouco, a autoestima dos militantes. 

  6. Copo meio cheio ou meio vazio, Senador Lindbergh?

    Gosto de ler os textos do Senador Lindbergh. Tanto gosto que costumo, inclusive, comentá-los na sequência.

    Noto, contudo, que têm de ser lidos cum grano salis.

    Ora, evidentemente! O Senador, mais do que um analista, é um ~ator~ político. De se esperar, portanto, que as “edições” simplificadoras – necessárias à escrita sintética de um artigo! – sejam feitas de forma a “prestigiar” a agenda que o autor defende.

    Observa Lindbergh:

    >>Há um traço de união nos desempenhos de Sanders, Mélenchon – bem como no desempenho que se anuncia de Corbyn. Os três perceberam a novidade – evidente também no Brasil a partir das mobilizações de junho de 2013 – que está ocorrendo no mundo um deslizamento para os polos do espectro político.

    Ora, ninguém em sã consciência nega isso. Venho, inclusive, eu mesmo batendo nessa tecla muito antes de Melénchon’s e Corbyn’s “surgirem” eleitoralmente. Mas há algo em comum entre Sanders e Melénchon: nenhum deles chegou, sequer!, à disputa principal!

    Na França – repare que “absurdo”, Senador! – a polarização entre os extremos, com um eleitorado radicalizado, resultou na abertura de uma ~avenida~ para o candidato de… CENTRO!

    Que acabou eleito!

    Também tenho muitas críticas ao “neoliberalismo progressista” da Nancy Fraser, bem como ao nome que se dava a ele “antigamente”: a “Terceira Via” do Tony Blair. O Senador verá isso claramente se me brindar, mais uma vez, com a leitura de um artigo de minha autoria (abaixo).

    Mas… “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.

    Não é porque a “Terceira Via” está em vias de desaparição que a “esquerda integrista” passou a se viabilizar em eleição ~majoritária~ em nível nacional, não é mesmo?

    E isso nem no Brasil, nem em nenhum outro lugar do mundo ocidental – até o momento.

    Pesa-me muito a deselegância ter de observar, por oportuno, que o “integrismo” do Senador não cativou sequer os seus companheiros de Partido, que preferiram eleger a “moderada” Gleisi Hofmann Presidenta do PT.

    Vejamos pelo lado positivo: a falta de viabilidade eleitoral em ~majoritária~ poupa a “esquerda integrista” do ~vexame~ de ter de admitir que ~não~ conseguiu, desde a queda do Muro de Berlim, desenvolver um modelo político-econômico – ~viável~ – alternativo ao “neoliberalismo”.

    Seja esse na sua modalidade “linha dura”, executado pela direita “descomplexada” – aquela que “ousa sim dizer o próprio nome”; seja na modalidade “envergonhada”, “contrabandeada”, de maneira dissimulada, pela socialdemocracia “reformista” pós-anos 80 – com o marco histórico da chegada de Mitterand à Presidência da França em 81, frustrando as “esperanças e sonhos” dos “integristas” de uma “guinada radical” à esquerda na Europa Ocidental.

    (Rá… rá… rááá…)

    Como tenho discutido em artigos, a reação – com viabilidade eleitoral em majoritária! – ao neoliberalismo ~globalizante~, seja ele tocado pela esquerda envergonhada ou pela direita descomplexada, não tem sido a “esquerda integrista” (qual o programa econômico dela, por favor, Senador?), mas sim o “soberanismo”.

    E esse, convenhamos, casa muito melhor com a direita (a extrema!) do que com a esquerda.

     

  7. Retórica

    Suspeito que a preocupação do Lindbergh com a esquerda é meramente retórica.

    Como em tudo o que se passa hoje no PT, faltam proposições densas e de largo alcance, e sobram arroubos de bricolagem avulsa (ou seja, mero ajuntamento) do que parece estar na moda.

    Falta ao Lindbergh dizer como passar da retórica, da performance e da “expectativa de desempenho” (eleitoral) para a organização política, a capilarização de uma nova institucionalidade e a conquista de uma legitimidade discursiva que não seja apenas clientelar (ou seja, que não funcione simplesmente pela lógica do “atendimento ao consumidor” de políticas públicas).

    Juntar no mesmo balaio de uma reivindicação da primazia do público o mote da moda da “valorização das questões identitárias”, para justificar o Sanders, é desconhecer fragorosamente que boa parte da vitória do Trump se deu por conta de uma reação ao paroxismo da retórica identitária, uma reação à redução da política a balcão de negócios dos particularismos.

    A potência do lema “make America great again” está não apenas no “great”, mas no fato de ele se aplicar sobre o “America” como termo do universal, para além da “hifenização” identitária particularista (Black-Americans, Muslin-Americans etc etc etc). 

    De outro modo, como se poderia explicar que as mulheres brancas norte-americanas deram 10% de vantagem a Trump (53%) sobre Hilary Clinton (43%)?

    Ou então, como bem anotou o Glenn Greenwald, no Intercept:
    “Como disse Tim Cartey, do Washington Examiner: ‘Eleitores brancos de baixa renda do interior da Pensilvânia votaram em Obama em 2008 e em Trump em 2016, e sua explicação é a supremacia branca? Interessante’.”

    O particularismo identitário não parece explicar muita coisa… Pelo contrário, sua superação, sim.

    [Eu já insinuei um debate mais teórico sobre essa temática em outro lugar, aqui mesmo neste blog (https://jornalggn.com.br/comment/1103972#comment-1103972).]

    Enfim, me parece que o Lindbergh ainda está perdidinho quanto a uma possível agenda política. Suspeito até que quando o tio da minha ex-esposa (esse sim, um notório “esquerdista”) era coordenador de campanha dele, ele se localizava melhor.
     

  8. Pior do que a retórica é a mixórdia!

    Pior do que a retórica é a mixórdia!

    Política, assim como na justiça, não se deve ser feita com suspeições, ou seja, não se deve transformar o jurídico “eu não tenho provas, mas tenho convicções” no político “suspeito que….”.

    Mãe Dinah já faleceu, restam agora Carlinhos Vidente e outros “cientistas sociais” que trabalham com previsões a partir do Astral ou na interpretação da mente de políticos. Pois não é que estes últimos deixam do lado a ciência para se tornar adivinhões, morre-se, mas não se vê tudo.

    Uma análise concreta de uma situação política internacional se faz com fatos e provas e não com suspeições e convicções. Pretendem alguns ignorar que, num intervalo de meses em três países importantes Estados Unidos, França e Inglaterra, começaram a aparecer discursos muitas vezes mais claros a esquerda do que os das “esquerdas neoliberais” que dominavam o espaço político há dois anos.

    Procurar detalhes internos, que inclusive são e foram amplamente utilizados pelo mainstream mediático, na justificativa aos movimentos mais a esquerda que tentam justificar as derrotas apertadas de tendências mais a esquerda, que por conta da importância dos países são verdadeiras vitórias. Para isto se chama diversos argumentos do mainstream mediático que procuram esconder que a crise do capitalismo com resposta neoliberal começa a fazer água. Isto é bem pior do que fazer uma mera retórica, é simplesmente abandonar a “ciência” da “ciência política” e adotar a mixórdia especulativa.

    O que Lindbergh falou foi o que ele disse, o que ele pensou, ou que habilmente está escondido como uma mera estratégia é algo que tem que ser atacado com fatos para se o mesmo abandonar o seu discurso se possa recrimina-lo. Antes disto, ou sem isto, Mãe Dináh como forma de crítica???

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