Joaquim Barbosa, a antítese de Milton Santos.

Infelizmente temos poucos cidadãos negros proeminentes no Brasil atual (talvez o Militão me corrija em termos de denominação), retirando uma plêiade de artistas virtuosos e jogadores brilhantes restam poucas referências nas últimas décadas. Por mais paradoxo que possa parecer, tínhamos no Brasil Império figuras como Machado de Assis, Engenheiro Rebouças e outros, que numa sociedade da época carente de grandes mentes, representariam proporcionalmente aos dias de hoje centenas de referências, mas isto já é outra história.

Pois bem, comparando duas personalidades negras do Brasil atual, uma o saudoso Milton Santos e outra o atual ministro do supremo Joaquim Barbosa. Se procurarmos no Google por imagens destes dois homens veremos uma grande diferença, um em quase todas as suas imagens está sorrindo e outro o sorriso é difícil de encontrar.

Milton Santos não era sorridente porque era inconsequente, muito ao contrário, colocava opiniões fortes que contrariavam as elites dominantes tocando nos pontos cruciais dos problemas nacionais. Mesmo contrariando o status quo dominante, Milton Santos se firmou em mundos muito mais ferozes e destrutivos que a maior parte da sociedade, no mundo acadêmico e no mundo político.

Milton Santos, apesar de ter sofrido mais discriminações que Joaquim Barbosa devido à anterioridade e a uma sociedade que era ainda mais racista que dos dias atuais, jamais perdeu o sorriso, Milton Santos foi perseguido politicamente e exilado durante 13 anos e na sua volta ainda sofreu golpes políticos que o impediram lecionar na Universidade Federal da Bahia. Não era um sorriso leviano, era um sorriso de quem tinha a consciência que estava contribuindo para um mundo melhor, com opiniões fortes, com críticas sérias, mas sempre com o sorriso.

Por que alguns, vencendo as adversidades, perseguições políticas e os preconceitos, consegue com a luta, escrever mais de vinte e seis livros e incontáveis artigos e outras publicações, receber dezenas de prêmios e distinções nacionais e internacionais e nunca perder o sorriso.

Milton Santos não obteve isto por ser negro, ao contrário, obteve isto apesar de todas as restrições por ser negro. E tudo conservando o sorriso.

E agora, Joaquim Barbosa? Na realidade ia escrever algo comparando os dois, porém vendo a alegria nos olhos de Milton Santos, prefiro ficar por aqui em tributo ao grande mestre que soube mostrar firmeza e capacidade sem perder o sorriso.

Compara-se o comparável!

Redação

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