Julho de 2013 em Porto Alegre pode ser mais frio do que 1913

Sugerido por Jorge Nogueira Rebolla

Do blog MetSul

Julho de 2013 pode ser mais frio que julho de 1913

Por:  Julho, 11-07-2013 | 01:41 | Categoria: 

O nosso leitor na fan page da MetSul no Facebook Marcus Quadros observou que sempre ouviu ser normal fazer calor no inverno, mas ressalva que na sua infância se vivia com inverno “três meses direto”. Entra ano, sai ano, sempre que faz calor em pleno inverno há estranheza, mas, de fato, é normal termos períodos ou dias quentes durante a estação mais fria do calendário. O amigo Marcus não deve se recodar, mas, certamente, houve jornadas de calor em junho, julho ou agosto durante a sua infância. Os invernos gelados, contudo, tendem, a ficar na memória. O Rio Grande do Sul está numa zona de transição climática e é alcançado por massas de ar quente no inverno e massas de ar frio em pleno verão. Sempre foi assim em nosso Estado. É da nossa história de “clima anárquico” (Assis Brasil). Conforme o ano, os dias quentes são mais ou menos freqüentes no inverno. É a variabilidade natural do clima. A este respeito, recordo interessante passagem de Gilberto Cunha (Embrapa Trigo) em seus vários livros sobre Meteorologia acerca da “ilusão” dos extremos aqui no Rio Grande do Sul e do “saudosismo meteorológico”.

“Há vários tipos de saudosismo. Um deles é o meteorológico. Quem nunca ouviu expressões desse tipo: Ah, no meu tempo o clima era mais regular e não havia seca assim em Passo Fundo, jamais choveu desse jeito em outubro, calor desse tipo em agosto, não me lembro de ter vivido, ventania como a de ontem, nunca aconteceu’ e tantas outras do gênero. (…) Final de verão e outono seco, em particular março e abril, e primavera chuvosa, especificamente outubro e novembro, foram os principais destaques climáticos no Rio Grande do Sul, em 1997. E foram tão convincentes que suscitam dúvidas se algo parecido já havia ocorrido antes. Os saudosistas meteorológicos, evidentemente, nunca viram nada igual, pois, no seu tempo, o clima não era assim. Para não morrer com essa dúvida, o jeito é conferir. (…) Tampouco, março e outubro de 1997, com seus 33,2 e 550,4 mm de chuva, foram os meses mais seco e mais chuvoso, respectivamente, da história de Passo Fundo, como chegaram a cogitar algumas pessoas. Há registro de que no mês de janeiro de 1933 choveu apenas um dia e o total de chuvas no mês inteiro foi de 0,9 mm. Deve ter sido uma seca terrível, na época, pois no mês de fevereiros desse mesmo ano houve apenas quatro dias com chuva, totalizando no final do período 27,5 mm de água. Por outro lado, nunca houve tanta chuva em Passo Fundo como no distante mês de junho de 1916, quando em 16 dias com chuva foram registrados 853,8 mm. E olhe que esses extremos do nosso clima ocorreram em uma época que não havia Itaipu, não se falava em buraco na camada de ozônio e nem em efeito estufa e, com certeza, havia muita floresta em toda essa região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul. Isso serve para mostrar que o nosso clima possui uma variabilidade climática natural que vai além das mudanças causadas pelo homem no nosso território nesse final de século”.

Vamos viajar um século para trás em segundos ? Para uma época em que o nosso planeta Terra deixava a Pequena Idade do Gelo e o mundo sequer imaginava discutir aquecimento global. Quando o Grêmio tinha apenas 10 anos e o Internacional comemora recém seu quarto aniversário. Um dos maiores tesouros do nosso acervo de dados da nossa riquíssima coleção de clima é a série histórica completa dos primeiros anos de observação de dados de Porto Alegre, cuja estação opera regularmente desde 1909. Se formos viajar no tempo para ver como foi julho há cem anos, encontraremos um mês com muitos dias quentes e de escasso frio intenso. As mesmas máximas acima de 27ºC que agora são registradas da mesma forma eram anotadas nesta época do ano há um século. Veja na tabela as mínimas e máximas dia por dia em julho de 1913.

Dos 31 dias de julho de 1913 (reprodução no alto mostrando um cartão postal de 1913 com a Praça da Alfândega no Centro), nada menos que 12 dias tiveram máximas acima de 25ºC, um número muito alto. Houve apenas um dia com mínimas abaixo de 5ºC no mês. A média mínima ficou em 11,7ºC (1ºC a mais do que a normal das mínimas na Capital na série 1961-1990). Já a média das máximas foi de 22,2ºC, bem acima da normal das máximas de julho da série 1961-1990 de 19,6ºC. Como esperamos uma maior freqüência de ar frio agora na segunda metade do mês, julho de 2013 é forte candidato a ser mais frio que julho de 1913. Para uma era em que somente se fala em aquecimento global e cenários de desastre pela elevação da temperatura do planeta, este dado de um século atrás é mais que relevante. Revelador!

Luis Nassif

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