Justiça Militar ainda guardava sessões secretas da ditadura: pesquisador descobre e obtém vitória no STF

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Em resposta, a Justiça Militar responsabilizou "tecnologias rudimentares" da época que "comprometeram integridade dos arquivos"

Reprodução das Pautas das Sessões Plenárias de 2 de junho de 1976, nos arquivos do STM

O Superior Tribunal Militar (STM) guardava em segredo, até este ano, áudios de sessões de julgamentos da ditadura do regime militar no Brasil, de 1964 a 1985. A informação foi constatada pelo pesquisador Fernando Fernandes, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e obteve a abertura total dos áudios desses julgamentos.

Fernandes é pesquisador e advogado, criador do projeto Voz Humana, que compila os arquivos de áudio das sessões secretas da ditadura. No site, ele não só divulga a íntegra destes áudios, como traz notícias e relatos destes casos, muitos deles desconhecidos dos registros do período.

No início do ano passado, o advogado percebeu que faltavam gravações de 10 sessões secretas da ditadura, e há pouco, detectou o desaparecimento da sustentação do advogado e dramaturgo Idibal Matto Pivetta.

No STF, o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Francisco Joseli Parente Camelo, responsabilizou “as tecnologias disponíveis à época rudimentares”, que “comprometeram a integridade” dos arquivos.

E ainda afirmou que “não se descarta a possibilidade de o requerente, futuramente, detectar outros arquivos com a integridade comprometida, lastimosamente”. Nestes casos, disse o presidente do STM, o interessado precisaria ir presencialmente aos arquivos na Diretoria de Documentação e Gestão do Conhecimento.

Fernandes alegou que a ausência dos arquivos indica a ocultação proposital dos arquivos da ditadura:

Sob a relatoria de Cármen Lúcia no STF, a ministra concluiu que a Justiça Militar descumpriu decisão do Supremo, de 2017, quando foi determinada a abertura de todos os arquivos sonoros de julgamentos de presos políticos da ditadura brasileira.

A ministra determinou que Justiça Militar disponize todo o material guardado, independentemente do estado que estivesse:

A relatora também ordenou que a Justiça Militar informe “a existência ou não das sessões secretas indicadas pelo reclamante, de forma que seja esclarecida sua suspeita sobre eventual ocultação de parte dos documentos pleiteados”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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