Nesta sexta, intelectuais lançam livro sobre o rumo das esquerdas

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Imagem: Divulgação

Jornal GGN – A fim de esclarecer as diversas questões que envolvem a esquerda brasileira, Aldo Fornazieri e Carlos Muanis reuniram textos e entrevistas de diferentes personalidades em “A crise das esquerdas”. A obra, que chega ao público pela Civilização Brasileira,  será lançada nesta sexta (23), na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.Ontem, Tarso Genro participou de um debate sobre a obra na Livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro.

Fazem parte do livro intelectuais e ativistas como Cícero Araújo, Guilherme Boulos, Renato Janine Ribeiro, Ruy Fausto, Sérgio Fausto, Tarso Genro, Aldo Fornazieri, Carlos Muanis, Carla Regina Mota Alonso Diéguez, Carlos Melo, Moisés Marques e Rodrigo Estramanho de Almeida. A orelha da obra ficou por conta do cientista político Leonardo Avritzer. 

“A crise é ideológica, política, ecológica, ética, de valores, lideranças e sentidos, ou seja, uma crise civilizatória. (…) Há um abismo perigoso e crescente entre a sociedade e o mundo político. Estamos paralisados pela desconfiança da capacidade de os Estados cumprirem suas promessas básicas de serviços públicos”, destacou Carlos Muanis, na apresentação da obra. 

Confira a orelha de “A Crise das Esquerdas’, por Leonardo Avritzer

“A crise das esquerdas reúne importantes intelectuais brasileiros, em ensaios e entrevistas, e tem o mérito de abordar sob diferentes enfoques temas relevantes, como o que significa ser de esquerda na atualidade.

Entre os entrevistados estão o professor na Universidade de São Paulo (USP) e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro; o diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Fausto; e um dos mais importantes líderes de movimentos sociais no Brasil, Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto. O livro reúne ainda três ensaios: um do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro; outro assinado por dois importantes intelectuais paulistas, o professor emérito na USP Ruy Fausto e seu colega de universidade Cícero Araújo; além de um último, escrito à maneira de conclusão da obra, de Aldo Fornazieri, um de seus organizadores.

Todos os autores do livro concordam que seguir a tradição de esquerda implica certa valorização de temas cruciais — por exemplo, a igualdade e sua relação com a liberdade. E aí parece se esgotar o consenso entre eles, que discordam a respeito do balanço específico entre igualdade e liberdade ou mesmo sobre a relação entre esquerda e democracia.

A segunda importante contribuição do livro é refletir sobre o papel da esquerda no debate de temas que tornam o Brasil uma grande arena de ideias. Assim, a questão das cotas raciais é analisada na entrevista com Renato Janine Ribeiro, o bolivarianismo aparece com Guilherme Boulos e os programas de proteção social e a questão da desigualdade são tratados na conversa com Sérgio Fausto. A partir dessas discussões mediadas pelos organizadores, pela professora Carla Diéguez e pelos professores Carlos Melo, Moisés Marques e Rodrigo Estramanho de Almeida, o leitor pode formar uma opinião sobre as tensões políticas envolvidas no pensamento de esquerda.

O mesmo é possível afirmar em relação aos ensaios presentes no livro. Tarso Genro fala da mudança do lugar da soberania na sociedade brasileira e Ruy Fausto e Cícero Araújo tratam da reconstrução de referências comuns no campo da esquerda no Brasil. Em cada um dos artigos, o leitor encontrará não apenas uma discussão sobre a crise, mas sobre como entender as relações entre seus diversos atores e a política, que se misturam na tentativa de criar alternativas para a democracia e para instituir novas formas de igualdade no país.”

Saiba mais sobre os intelectuais, professores e ativistas que compõem a obra:

Aldo Fornazieri – Graduado em Física pela UFSM, mestre e doutor em Ciência Política pela USP. Diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Coordenador do livro “Conversas políticas – desafios públicos”, lançado pela Civilização Brasileira em 2014, em conjunto com Carlos Muanis.

Carla Regina Mota Alonso Diéguez – Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas. É docente e pesquisadora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e coordenadora do curso de Sociologia e Política.

Carlos Melo – Doutor em Ciências Políticas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pesquisador e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa. Autor do livro “Collor: o ator e suas circunstâncias”.

Carlos Muanis – Sociólogo, formado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Psicanalista, formado pelo Centro de Estudos de Psicanálise. Sócio-diretor da CDN Relações Institucionais. Coordenador do livro “Conversas políticas – desafios públicos”, lançado pela Civilização Brasileira em 2014, em conjunto com Aldo Fornazieri.

Cícero Araújo – Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (1984), com mestrado em Filosofia pela mesma universidade (1989) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1994). É professor titular do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, onde defendeu sua tese de livre-docência (2004). Na Ciência Política, suas pesquisas concentram-se na área de teoria política, em especial a teoria normativa: moralidade política, pensamento republicano clássico e contemporâneo, democracia, justiça e cosmopolitismo. Mais recentemente, tem feito investigações no campo da teoria da representação política, por meio da qual vem abrindo um diálogo com os estudos das instituições e da política brasileira.

Guilherme Boulos – Ativista político e social, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. É formado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Especializado em Psicologia, disciplina que atualmente leciona. Colunista semanal do site do jornal Folha de S.Paulo.

Moisés Marques – Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, docente e coordenador do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Autor do livro “Quebra de protocolo – a política externa do governo Lula (2003-2010)”.

Renato Janine Ribeiro – Professor titular da Universidade de São Paulo, na disciplina de Ética e Filosofia Política. Foi ministro de Estado da Educação, de 6 de abril a 5 de outubro de 2015. Concluiu o doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1984. É autor de 89 capítulos de publicações e 18 livros editados. Atua na área de filosofia política, com ênfase em teoria política. Foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq (1993-1997), secretário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (1999-2001).

Tarso Genro – Advogado, jornalista, professor universitário, ensaísta, escritor, poeta e político brasileiro. Foi duas vezes prefeito de Porto Alegre e ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011). Foi governador do Rio Grande do Sul.

Rodrigo Estramanho de Almeida – Bacharel em Sociologia e Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, mestre e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP. Autor de “A realidade da ficção” (Alameda, 2012) e “Maria das Almas” (B4, 2014), entre outros livros, artigos e ensaios.

Ruy Fausto – Professor emérito da US P (Filosofia), como também ex-maître-de-conférences da Universidade de Paris VIII. Possui graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1956), graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1960) e doutorado em Filosofia pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne (1981). Atualmente é professor titular da Universidade de São Paulo e membro de corpo editorial de Cadernos de Ética e Filosofia Política (USP).

Sérgio Fausto – Cientista político e superintendente da Fundação Instituto Fernando Henrique Cardoso. É codiretor do projeto Plataforma Democrática e da coleção “O Estado da Democracia na América Latina”. Organizador de “Difícil democracia” (Paz e Terra, 2011) e coautor, pela mesma coleção, de “Brasil y América del Sur: Miradas Cruzadas” (2011) e “Brasil e América Latina: que tipo de liderança é possível”(2012). Escreve regularmente para o jornal O Estado de São Paulo e para Infolatam – Información y Análisis sobre América Latina. É expert contribuitor do Latin American Program do James Baker Institut da Rice University e membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo. Em 2012, recebeu o prêmio Gus Hart do Chicago Council on Global Affairs, concedido a políticos ou intelectuais públicos com destaque na América Latina.

Assine
 
Serviço
 
Debate de “A Crise das Esquerdas”, com Tarso Genro
Local:  Livraria Leonardo da Vinci
Endereço: Marquês do Herval – Av. Rio Branco, 185 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20040-007
Quando: 22 de junho, quinta feira, às 18h30
 
Lançamento de “A Crise das Esquerdas”
Local: Livraria Cultura do Conjunto Nacional
Endereço:  Av. Paulista, 2073 – Consolação, São Paulo – SP, 01311-300
Quando: 23 de junho, sexta-feira, às 19h
 
 
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Sobre o livro 
 
“A Crise das Esquerdas”
 
Organizadores: Aldo Fornazieri e Carlos Muanis
 
Páginas: 266
 
Preço: R$ 39,90
 
Editora: Civilização Brasileira

 

 

 

 

 

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

6 Comentários

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  1. A primeira ação é terminar

    A primeira ação é terminar com a ingenuidade “republicana”.

    A escolha da Deise como presidente do PT ao invés do Lindbergh Farias mostra que continua. Em sua primeira atuação foi pedir desculpas a Miriam por um ato não perpetrado pelos petistas. Ridiculo!

    Foi a repetição do omelete fracassado na Maria Braga.

    Me senti ofendido e não representado. Ato infantil.

  2. Efeito “torre de babel”

    Todas as semanas nós lemos neste blog e discutimos artigos do Aldo Fornazieri. Trata-se de uma esquerda refinada, cujo escopo consegue até colocar o Fernando Henrique como sendo um sujeito de esquerda.

    Hoje, na forma de um livro, a esquerda intelectual se coloca ao serviço do Brasil como alternativa ideológica. Como bons intelectuais, botam o livro na frente e convidam o povo para caminhar atrás, mesmo sabendo que nenhum deles irá ler o livro. Há pouco simbolismo real; falta projetar a imagem do que está escrito no livro e fincar dentro da alma do povo brasileiro.

    O povo brasileiro, mesmo o chamado “povão”, não é de esquerda nem muito menos de direita, mas apenas um povo com pouca instrução que está com a sua mente dormida há 500 anos esperando desenhar dentro dela a silueta de uma nação. Dentro da nação, do Brasil com “s”, o povo deve enxergar os caminhos da justiça social e do progresso material dele, da sua família, vizinhos e amigos.

    Nada naquele livro do Fornazieri (que não li e já não gostei) irá gerar mais um voto nesta luta de voltar ao planalto com um governo popular. Por agora, nestes tempos – e por um bom tempo ainda pela frente, é o Lula quem possui as melhores condições para voltar (ou indicar o seu sucessor) e retomar esta caminhada, com bandeiras simples de nação com viés social e ações econômicas anticíclicas. Lula escreveu por muitos anos o melhor livro que o povo poderia guardar no coração.

    Nestes tempos de traição, corrupção, entreguismo, atropelo aos direitos trabalhistas e previdenciários, desta burla ao voto popular, da violência policial, da manipulação da justiça, …..(poderia seguir com uma enorme listagem)……nada melhor para o poder golpista financeiro que o surgimento de novos “líderes” e a edição de mais um livro, dentro do efeito torre de babel, para distrair intelectuais de esquerda num bar de Leblon.

    1. Oi Alexis. Essa de colocar o

      Oi Alexis. Essa de colocar o livro na frente pro povareu seguir atrás. Me remeteu de volta ao pessoal das vanguardas que não conseguiam liderar nem um gato pingado sequer…

      Seu comentário me fez lembrar também, de notícia recente, gerada em evento ocorrido num festival, salvo engano, lá na Noruega. Ali, no tema, palestrava-se sobre viagens espaciais, em que Stephen Hawking participou por Skype. Isso, estou falando de ter ouvido dizer.

      Em dado  momento da conferência, o genial físico faz este alerta: “Estamos a ficar sem espaço, nem recursos. Temos de deixar a terra.” Num primeiro momento, imagino  o susto. Não obstante, o cientista prossegue, incentivando os líderes presentes a investir para construir uma base lunar em 30 anos,  e, para chegar a Marte até 2025.

      Não sei, mas pra pensar grande desse jeito, só estamos habituados a não refugar, quando vindo das crianças. Mas…deixa pra lá né? Vai que dá certo, e os poderosos resolvem cooperar, solidarizando-se pra salvar a carcaça da raça. Ao invés de persisitirem competindo feito patetas, na direção do buraco.

      Enquanto isso, nossos sábios intelectuais, ainda com o pé enganchado no alpendre da casa-grande, dedicam-se a procurar pelo em ovo. Quem sabe, pra fazer omelete sem quebrar, os propriamente ditos. Não é o que parece?

      Orlando

  3. Antes de tudo, a crise é valorização capital

    “A crise é ideológica, política, ecológica, ética, de valores, lideranças e sentidos, ou seja, uma crise civilizatória.” (…) Há um abismo perigoso e crescente entre a sociedade e o mundo político. Estamos paralisados pela desconfiança da capacidade de os Estados cumprirem suas promessas básicas de serviços públicos”. – Carlos Muanis

    No texto de título a Privatização do Mundo, do saudoso Roberto Kurz, consta o trecho abaixo transcrito:

    “(…) A PRIVATIZAÇÃO DO PÚBLICO

    Por um período de mais de cem anos, os sectores do serviço público e da infra-estrutura social foram reconhecidos em toda parte como o necessário suporte, amortecimento e superação de crises do processo do mercado. Nas últimas duas décadas, porém, impôs-se no mundo inteiro uma política que, exactamente às avessas, resulta na privatização de todos os recursos administrados pelo Estado e dos serviços públicos. De modo algum essa política de privatização é defendida apenas por partidos e governos explicitamente neoliberais; há muito ela prepondera em todos os partidos. Isso indica que NÃO SE TRATA AQUI SÓ DE IDEOLOGIA, mas de um PROBLEMA DE CRISE REAL. Seguramente, desempenha um papel nisso o facto de a arrecadação pública de impostos retroceder com rapidez por conta da globalização do capital. Os Estados, as Províncias e as comunas super-endividadas em todo o mundo tornaram-se factores de crise económica, ao invés de poderem ser activos como factores de superação da crise. Uma vez delapidadas as “pratas” dos sistemas socialmente administrados, as “mãos públicas” acabam por assemelhar-se fatalmente às massas de vítimas da velhice indigente, que nas regiões críticas do globo vendem nos mercados de segunda mão a mobília e até a roupa para poderem sobreviver. Porém o problema reside ainda mais no fundo. NO ÂMAGO, TRATA-SE DE UMA CRISE DO PRÓPRIO CAPITAL, QUE, SOB AS CONDIÇÕES DA TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, ESBARRA NOS LIMITES ABSOLUTOS DO PROCESSO REAL DE VALOR(-IZAÇÃO). Embora ele deva expandir-se eternamente, pela sua própria lógica, ele encontra cada vez menos condições para tal, nas suas próprias bases. Daí resulta um duplo acto de desespero, uma fuga para a frente: por um lado, surge uma pressão assustadora para ocupar ainda os últimos recursos gratuitos da natureza, por fazer até mesmo da “natureza interna” do ser humano, da sua alma, da sua sexualidade, do seu sono o terreno directo da valorização do capital e, com isso, da propriedade privada. Por outro, as infraestruturas públicas de propriedade do Estado devem ser geridas, também, por sectores do capitalismo privado.”

     

    Se a Terceira Revolução Industrial gerou todas essas crises, imagina a Revolução Industrial 4.0?

     

    Diria Karl Marx que:

    “Logo que o trabalho, na sua forma imediata, deixe de ser a fonte principal da riqueza, o tempo de trabalho deixa e deve deixar de ser a sua medida, e o VALOR DE TROCA deixa portanto de ser a medida do VALOR DE USO. O trabalho excedente das grandes massas deixa de ser a condição do desenvolvimento da riqueza geral, tal como o não-trabalho de alguns poucos, deixa de ser a condição do desenvolvimento dos poderes gerais do cérebro humano. Por essa razão, desmorona-se a produção baseada no valor de troca, e o processo de produção material imediato acha-se despojado da sua forma mesquinha, miserável e antagónica, ocorrendo então o livre desenvolvimento das individualidades. E assim, não mais a redução do tempo de trabalho necessário para produzir trabalho excedente, mas antes a redução geral do trabalho necessário da sociedade a um mínimo, correspondendo isso a um desenvolvimento artístico, científico, etc. dos indivíduos no tempo finalmente tornado livre, e graças aos meios criados, para todos.”

  4. Quando, lá no longo prazo,

    Quando, lá no longo prazo, nossos intelectuais  encontrarem algum rumo, aí é que vão descobrir que o país que conheciam não existe mais.

     

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