Luiz Bernardo Pericás é eleito intelectual do ano

Historiador, indicado pela biografia de Caio Prado Jr, fala da contribuição do pensador no debate político atual
 
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Vídeo: Pedro Garbellini
 
Jornal GGN – O escritor e historiador Luiz Bernardo Pericás recebeu o Troféu Juca Pato, da União Brasileira de Escritores (UBE), concedido ao Intelectual do Ano. O professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo foi indicado pelo livro Caio Prado Júnior: uma biografia política (Boitempo). Outras obras fazem parte do seu currículo, entre elas: Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica, pela qual recebeu, em 2012, menção honrosa do Prêmio Casa de las Americas, e Che Guevara Y el debate económico em Cuba, que o levou a ganhar, em 2014, o Prêmio Ezequiel Martinez Estrada. 
 
O GGN participou da coletiva concedida por Pericás na última quinta-feira (06), pouco antes da cerimônia, realizada na Academia Paulista de Letras, onde o professor falou da obra, curiosidades que aconteceram durante a criação do projeto e, ainda, a importância de Caio Prado e de outros pensadores da época para o debate político atual. 
 
Pericás é um intelectual avesso às redes sociais. Não tem página no Facebook, não usa Whatsapp e nunca se preocupou em ter celular. Simpático, brincou com um jornalista que chegou pouco antes do início da coletiva e o cumprimentou sem reconhece-lo. “Isso sempre acontece comigo. As pessoas não me reconhecem”, arrematou comentando, em seguida, sobre outra ocasião em que era um dos convidados especiais do evento e um jovem se aproximou dele falando a respeito de Pericás, sem saber que o próprio estava na sua frente. 
 
Importantes nomes da literatura brasileira já foram agraciados com o Troféu Juca Pato, entre eles Sérgio Buarque de Holanda, Erico Veríssimo, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles e, até mesmo, Caio Prado Junior, figura emblemática no desenvolvimento do marxismo nas Américas, militante da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e do Partido Comunista do Brasil (PCB).
 
Pericás ressalta que as obras de Caio Prado mostram uma clara preocupação de compreender a condição periférica do Brasil no mundo e formas de elevar a consciência política das massas e, o principal, é que ele procurava viver na prática o que teorizavam em seus escritos.  
 
A biografia sobre o pensador traz centenas de documentos, como páginas de arquivos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), fotos e recortes de jornais de época. “Eu acabo mostrando no livro um Caio Prado Júnior um pouco diferente do que as pessoas estavam acostumadas, um Caio que realmente estava envolvido nas lutas sociais do seu tempo, alguém que estava extremamente dedicado às causas sociais”, ressalta o professor.
 
Outra curiosidade é que Caio Prado é tio bisavô de Pericás. Essa aproximação, inclusive, facilitou o acesso a documentos de acervos pessoais de familiares. “Quando eu já estava terminando o livro, um primo me mandou um e-mail dizendo: ‘olha, eu estava limpando a minha garagem, procurando outras coisas e encontrei uma pasta com documentos da prisão do Caio Prado Júnior, de 1970. Você tem interesse? ’. Eu respondi: é claro, é uma mina de ouro isso aí!”. O achado fez a publicação do livro demorar além do programado, mas valeu a pena. 
 
“Você tinha [ali no material] a receita do médico do Caio na prisão, que era David Rosenberg, membro do PCB, tinha documento do advogado dele, Heleno Fragoso, muito famoso na época. Tinha recortes de jornais, cartas da Anistia Internacional. Tudo isso enriqueceu muito o livro”, conta. 
 
Quando perguntado de que forma a obra de Caio Prado pode contribuir para o debate político atual, Pericás responde que não somente ele, mas outros pensadores como Florestan Fernandes, Nelson Werneck Sodré e o próprio Carlos Marighela podem contribuir muito na construção do pensamento da esquerda hoje. “Estamos falando de personagens que muitas vezes tinham pensamentos bastante distintos, que tinham propostas diferentes, que seguiam por caminhos diferentes. Tudo isso estimula o debate, que a esquerda, que os estudantes e militantes repensem o Brasil de hoje, mesmo se não tiver de acordo com determinadas ideias que são, às vezes, muito pontuais, ou que estão muito engessadas em períodos históricos específicos. O exemplo de vida dessas pessoas já estimula os jovens a discutir, a debater e ir para a rua”. 
 
Quanto ao atual quadro político, o historiador considera difícil fazer um diagnóstico preciso do futuro, mas, sem dúvida, existe a necessidade dos blocos de esquerda se fortalecerem na formação de uma frente ampla. “Se você está lutando contra o inimigo que é muito forte, que tem dinheiro, que tem a mídia, que tem assentos majoritários no parlamento, no Congresso, a única forma de fazer a luta é juntando forças. Se isso vai ocorrer a gente não sabe. Mas que isso é algo necessário, é quase que obrigatório. Para mim não há dúvida, você tem que juntar forças, e essas forças que muitas vezes se digladiam entre si”.  
 
Pericás analisa, ainda, que a juventude de hoje não tem uma forte referência para aglutinar o debate. “Antes você tinha um bloco socialista, você tinha a União Soviética, você tinha uma China que tinha um projeto revolucionário, tinha uma Cuba como que quase um farol de luta. A revolução cubana, por exemplo, foi um divisor de águas aqui na América Latina e as pessoas viam a revolução como um exemplo a seguir. Hoje, com o fim do socialismo real, sem a União Soviética, sem um bloco socialista, com o avanço a direita em várias frentes, em vários países, você tem que começar a construir algo novo sem uma retaguarda e sem exemplos”, pondera, pontuando em seguida a mudança de paradigmas que ocorreu dentro da própria esquerda levando a criação de várias correntes como o ecosocialismo. 
 
“Quando você discute reforma agrária [por exemplo, vai ter que considerar um modelo diferente, porque a gente está falando do Século 21”, conclui. 
 
 
 
 
 
Redação

2 Comentários

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  1. Injustiça…

    “Meritocracia” não tá valendo mais? Não acredito que deram o prêmio para essa “topeira” e esqueceram do Marco Antonio Villa…

    Tudo bem, Villa. Vamos tentar o Innovare da Globo ou aquele da SBT que o Silvio dá todo ano….

    Mas vai ter que concorrer com a Sherahaze!

    1. Na sua opinião tosca…

      Raquel Sherazade deve ganhar o prêmio Nobel de química, por amalgamar bosta com lodo dentro da sua própria boca. Uma façanha! Já o Vilas ficaria melhor recebendo o prêmio “Hitler vive!” da associação internacional de neonazistas pentecostais. Seus feitos pela humanização da política são notáveis. Naturalmente o intelectual do ano vai para Silvio Santos. tudo a ver com os seus conceitos…

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