Marcha do Silêncio no Uruguai alerta para impunidade de hoje

Caminhada que ocorre todos os anos teve significado maior nesta edição, após confissões de repressor e impunidade do governo

Foto: Reprodução

Jornal GGN – Milhares de uruguaios foram às ruas, nesta segunda-feira (20), na chamada “Marcha do Silêncio”, na capital Montevideo, sob o hino: “Nos digam aonde estão! Contra a impunidade de ontem e de hoje!”, um ato que a cada ano é feito em nome da verdade e da justiça. Mas que este ano, ganhou nova força após o discurso do novo comandante do Exército, Claudio Feola, que tentou argumentar as violações de direitos humanos no passado, justificando a atuação militar como “uma consequência amarga” de um “confronto terrível”.

A manifestação é feita todo ano, no dia 20 de maio, em memória do senador da Frente Ampla, Zelmar Michelini, do deputado do Partido Nacional, Héctor Gutiérrez Ruiz, além de Rosario Barredo e William Whitelaw, assassinados em Buenos Aires em 1976, além do desaparecimento de Manuel Liberoff. Nesta 24ª edição, o tempo ruim e as chuvas não impediram uma multidão de caminhar pela avenida Rivera, em frente ao Monumento dos Presos Desaparecidos da América Latina, em direção à 18 de Julho e finalizada na Praça Liberdade.

Todos os anos, essa marcha “é uma cálida demonstração de solidariedade aqueles que sofreram e ainda sofrem as consequências da barbárie do terrorismo de Estado, e principalmente com a luta das mães que buscaram seus filhos e seguem buscando”, destacou o grupo Mães e Familiares de Presos Desaparecidos.

Mas este ano ainda teve um sentido maior: é que o novo comandante do Exército, Claudio Feola, fez um discurso no último sábado, no Dia do Exército, criticando “os excessos e desvios no passado”, mas justificando que teria sido uma “consequência amarga” – como uma resposta a uma guerra interna, destacou Ignacio Errandonea, de Mães e Familiares de Uruguaios Detidos Desaparecidos.

“Recentemente, tornou-se moda que, assim que assumissem, [chefes do Exército] tivessem que falar sobre esse assunto [desaparecidos políticos]. Mantêm palavras que tentam parecer bonitas, mas que, no final das contas, é só mais do mesmo. Entendemos que se eles realmente querem cumprir o que dizem, nos digam onde estão nossos parentes, que forneçam toda a documentação sobre as violações de direitos humanos. Especialmente porque continuam com a ideia de que houve uma guerra aqui”.

Foto: Nicolás González Keusseian – El Pais Uruguai

“Todos aqueles que vivemos naquele momento sabemos muito bem que não houve guerra aqui, foi o Exército que enfrentou todos os cidadãos uruguaios, que aplicou o terrorismo de Estado em todos os seus níveis”, descreveu Errandonea.

A marcha ocorre ainda dias após a confissão do repressor José Gavazzo, que reconheceu no Tribunal de Honra Militar que, em 1973, assasinou Roberto Gomensoro e tentou esconder seu corpo, atirando-o no Rio Negro. As revelações fizeram com que o presidente Tabaré Vázquez derrubasse a cúpula militar e o ministro e subsecretário de Defesa do governo. Claudio Feola substituiu, assim, José González no comando militar.

Redação

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