Marxismo cultural na mira bolsonarista, por Saulo Barbosa Santiago dos Santos

Marxismo cultural é fruto do livro Mein Kampf escrito por Hitler quando preso, obra essencialmente racista, antissemita e anticomunista que fora inserida à população alemã artificialmente.

Marxismo cultural na mira bolsonarista: um assalto delirante aos marxismos através de memes

por Saulo Barbosa Santiago dos Santos[1]

A luta infundada contra o comunismo não é de agora, remete-se desde o século 19 quando alianças burguesas foram criadas para deturpar o conceito, por isso, Marx e Engels redigiram o Manifesto Comunista com o intuito de definir o significado e refutar os ataques ideológicos anticomunistas. Décadas depois o ódio ao marxismo reiniciou com Hitler, difamações foram criadas dentro de um vulcão de pessoas fracassadas e ressentidas, surge uma coisa chamada “Marxismo Cultural”. O objetivo deste texto é identificar o que se entende por Marxismo Cultural, demonstrar um dos meios que se infiltrou na cloaca de um Brasil pós manifestações de 2013 e como influenciou na candidatura da extrema direita.

Marxismo cultural é fruto do livro Mein Kampf escrito por Hitler quando preso, obra essencialmente racista, antissemita e anticomunista que fora inserida à população alemã artificialmente. Segundo Hitler, comunistas manifestam costumes e experiências culturais subversivas, corruptas, imorais, covardes, criminosas, degeneradas e odiosas, por isso, é dever do Estado impedir o contágio sobre os arianos. Na década de 30 foi elaborado uma lista de artistas acusados de marxismo cultural para serem torturados, presos, mortos ou exilados, nada muito diferente da lista de detratores ou dos técnicos da Anvisa que aprovaram a vacina contra a COVID-19 em crianças, Hitler fez escola na terra tupiniquim.

O grande problema em tudo isso é que não existe marxismo cultural, não passa de teoria conspiratória, um espantalho criado para disseminar ódio contra oposicionistas do nazismo ou da extrema direita, geralmente, socialistas e comunistas. Se existisse marxismo cultural, de qual tipo fala? Pois há várias vertentes, nem isso conseguem delimitar.

Antes, quem precisava de munição de festim para atacar os marxismos lia a errática e contraditória obra do líder nazista, mas como o führer não é bem aceito, buscam outras literaturas deturpadas como “o livro negro do comunismo” ou textos de Olavo de Carvalho, Leandro Narloch, Mises, etc. De qualquer forma terão que ler, mas aí surge um problema, nem todos estão disposto a isso. Para salvá-los da empreitada “literária”, o deputado federal Eduardo Bolsonaro deu uma dica que resume bem o bolsonarismo: “Você sabe o que é ser conservador? Não precisa estudar, ler livros ou fazer cursos”. Isso só me faz lembrar da fala do único Lannister sobrevivente na série Game of Thrones: “A mente precisa de livros assim como uma espada requer ser afiada”.

Se não estuda, nem lê ou faz cursos para buscar conhecimento, como sabem tanto sobre o marxismo? De diversas maneiras, algumas delas, a partir de redes sociais cheias de memes falando sobre marxismo cultural, sim, por incrível que pareça, meme se tornou fonte literária da pior maneira possível.

Os memes são figuras presentes nas mídias sociais, seus objetivos são muitos, inclusive passar mensagem simplória e direta. Por ser simples e objetiva, por vezes travestida de cientificidade, generalizam a percepção do senso comum em frases curtas, as pessoas pensam que há fidelidade aos fatos e acham que adquiriram conhecimento sem necessidade de leitura, muitas vezes técnica e especializada. Este tipo de atitude leva a dois problemas: 1) dá ilusão ao leigo, a complexidade do mundo se tornou objetiva e binária, fácil de ser definida: bem e mal, certo e errado, direita e esquerda; 2) ficou fácil culpar o outro, basta não ser uma coisa e será outra.

Desde 2015 Bolsonaro não difere dos nazistas, usa o fantasma do “marxismo cultural” para passar a ideia de que esquerdistas são pedófilos, ladrões, vagabundos, preguiçosos, abortistas, estupradores, enfim, o pior do que há na sociedade. O próprio presidente, em dezembro de 2018, afirmou na sua conta do twitter:

Uma das metas para tirarmos o Brasil das piores posições nos rankings de educação do mundo é combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino. Junto com Ministra da educação e outros envolvidos vamos evoluir em formar e não mais militantes políticos.

Enfim, no ranking da competitividade mundial, estamos em último no quesito “educação”, nenhuma surpresa quando tivemos um ministro da cultura retirado do cargo por ter feito pronunciamento copiado, escrachada e sem medo, do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels. É tudo muito obscuro, contraditório, confuso e ficcional, precisa de exercício mental para entender o que realmente pensam, mas analisando, é possível chegar a três características em comum: 1) Marxismo cultural é uma organização mundial e secreta que busca impor valores e crenças não compatíveis com uma suposta natureza humana (Qual é a natureza humana?); 2) marxistas culturais mandam na grande mídia e almejam normalizar a pedofilia e o aborto; 3) marxismo cultural quer acabar com o cristianismo.

Embora varie de pessoa para pessoa, é importante estabelecer critérios para saber se é possível dialogar com alguém que se diz de direita. Se acreditar que Bolsonaro não errou na pandemia e que não lhe deixaram trabalhar, saiba, é uma bolsonarista sob fé política, fanática e intolerante, portanto, fatos não serão suficientes para convencê-lo, é impossível. Este tipo de gente se sente superior e cheio da razão quando enfrenta alguém ou instituições em choque direto com ideologias da extrema direita, veem o combate como uma glória moral. Um exemplo disso são aqueles que negam a vacina sem qualquer explicação cientificamente razoável, ou mais, não olham para cima enquanto um cometa aponta contra a Terra.

Conclui-se que a estratégia da extrema direita é atribuir culpa aos seus opositores, mesmo que aquilo que se conta não esteja de acordo com a realidade, para isso, criaram o conceito de marxismo cultural, um conjunto de mentiras usadas para denegrir a imagem de pessoas de viés esquerdista com o intuito de colocar a sociedade contra eles. A difusão de tal termo, bem como deturpações sobre comunismo e socialismo, foi muito bem articulada e compartilhada nas redes sociais, muito através de memes, levando ilusões e preconceitos a camadas sociais desinformadas. Não há como conhecermos algo a partir de imagens ou vídeos com mensagens de fundo como vemos nos memes, por isso, é necessário leitura de diversas linhas de pensamento, confrontar ideias e, após muita reflexão, ter sua opinião formalizada.

Obs.: Afinal, o que é marxismo, socialismo e comunismo? Recomenda-se três livros da coleção “Primeiros passos”: O que é comunismo, o que é socialismo e o que é marxismo. Os dois primeiros foram escritos pelo professor Arnaldo Spindel, o terceiro, escrito por José Paulo Netto. Essas obras são didáticas, breves e baratas.


[1]Professor de Filosofia, Guarda Civil e autista

Redação

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