Moralidade e eleições presidenciais, por Fábio de Oliveira Ribeiro

No Brasil, o Presidente da República é chefe de governo e chefe de Estado. Os poderes lhe conferidos pela CF/88 são imensos. Se quiser, o Presidente pode eclipsar a atividade do Poder Legislativo abusando da edição de Medidas Provisórias (FHC). Pode também gerar conflitos que irão aflorar no Judiciário (Lula) e até modificar de maneira sutil e para melhor a orientação jurisprudencial do STF ao indicar os novos membros da Corte (Dilma). A hipertrofia do presidencialismo brasileiro é um fenômeno bem conhecido e estudado.

Em sua excelente dissertação “DOMESTICANDO O LEVIATÃ: litigância intragovernamental e presidencialismo de articulação institucional”, publicada na internet, o professor Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy afirma que:

“Dispõe o texto constitucional vigente que compete privativamente  ao Presidente da República exercer, com o auxílio dos Ministros de  Estado, a direção superior da administração federal. O conceito de  direção superior da administração federal apela para um sentido de  coordenação, a ser realizado no plano objetivo em regime de intensa  aproximação e colaboração com os vários ministérios; isto é, “é uma função do chefe do Poder Executivo que só pode ser cumprida com o  auxílio dos Ministros de Estado, que são os chefes de Ministérios que desempenham as funções de governo”.

A direção superior da administração federal é locução constitucional de interpretação nada problemática. Qualifica substancialmente o poder (e a prerrogativa) presidencial de indicação de caminho, rota, de um sentido objetivo de ação, que corresponda a um programa, originariamente sufragado nas urnas. 

Dirigir a administração federal significa, simplesmente, o poder  e a prerrogativa da condução dos negócios públicos, naquilo que afeto às atribuições do Poder Executivo. No sistema presidencialista é o  presidente quem fixa as orientações do governo, no que conta com o  auxílio de seus ministros, pelo que a higidez do sistema exige ambiente  de articulação de propósitos.

O sistema de governo presidencialista, no qual o Presidente da República chefia o Poder Executivo e “enfeixa as funções de Chefe  de Estado e as de Chefe de Governo” é o tema que se apresenta. O  presidencialismo, numa percepção ideal, suscita a compreensão de um  Executivo forte, no sentido de que se tenha articulação e coordenação dentro do Governo.”  (O texto na íntegra pode ser facilmente localizado e acessado na internet)

Além do poder institucional que exerce, o presidente é um dos principais focos de atenção da opinião pública e, principalmente, da opinião publicada. Se o Presidente brasileiro viaja demais para o exterior é censurado por abandonou o país (FHC), se é fotografado embriagado numa festa é intensamente criticado pelos jornalistas (Lula), se usa um vestido vermelho durante eleições municipais é considerada suspeita de fazer propaganda para o PT (Dilma).

Liderar através de uma conduta moral exemplar não é obrigação constitucional imposta ao Presidente. Política e moral são coisas distintas e no Brasil o Presidente só pode ser julgado e afastado do cargo nos casos prescritos no art. 85, da CF/88. Isto explica porque Lula não foi submetido a um processo de impedimento por bebericar demais numa Festa Junina e porque Dilma não foi removida do cargo porque a imprensa e a oposição detestavam seus trajes vermelhos.

A moralidade é um requisito da atividade administrativa (art. 37, da CF/88). Mas há que se fazer uma distinção entre a moral privada e pessoal do presidente e a moralidade dos atos que ele pratica no exercício do cargo. É desta ultima que trata o texto constitucional. 

Mesmo assim, há coisas que um presidente e um candidato a presidente não deveria fazer. Aqui mesmo no GGN critiquei Dilma por ter ido à inauguração do Templo de Salomão porque o Estado é laico. Além disso, a obra foi construída de maneira irregular e ficou parecendo que a presidenta legitimou uma ilegalidade http://www.jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-estado-laico-e-os-evangelicos . Também não posso deixar de criticar Marina Silva e Aécio Neves.

A candidata do PSB tem sido vista ostensivamente ao lado de uma das donas do Banco Itaú, empresa que deve uma fortuna à União http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/08/16/receita-federal-autua-itau-unibanco-em-r-187-bilhoes-por-fusao.htm . Aécio Neves, por sua vez, deu entrevista ao Estadão aparentemente embriagado http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2014/08/01/entrevista-estadao-aecio-balanca-mas-nao-cai-e-tem-gente-maldosa-acusando-o-de-estar-bebado/ . Em outra oportunidade o candidato tucano também foi gravado em condições lastimáveis https://www.youtube.com/watch?v=PzdD8P-83wk . Marina Silva não pode ser legalmente condenada por incentivar a sonegação fiscal. Aécio Neves certamente tem todo o direito de fazer uso de bebidas alcoólicas, pois as mesmas não são proibidas.

O Estado só existe porque arrecada tributos. Em razão disto, o combate à sonegação fiscal deve ser constante e implacável. Sem dinheiro nada pode ser feito para resolver os problemas atuais, nada será construído em benefício das gerações futuras. Se o dinheiro público for mal utilizado por um administrador acostumado a trabalhar bêbado as carências públicas se multiplicarão e a própria existência do Estado será colocada em risco. Vem daí a crítica que se pode fazer aos candidatos Marina Silva e Aécio Neves.

Os exemplos que ambos já deram durante a campanha contradizem a própria essência do Estado que eles pretendem governar. Além disto, qualquer um dos dois que for eleito será imediatamente transformado em foco de conflitos públicos e jornalísticos em razão dos hábitos inadequados que demonstraram durante a campanha. Melhor Marina Silva se afastar da dona do Itaú e Aécio Neves aposentar a garrafa. Caso contrário, um deles pode colher em breve a tempestade que semeou durante a campanha (isto se Dilma Rousseff não for eleita, é claro).

Fábio de Oliveira Ribeiro

9 Comentários

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  1. “Se o dinheiro público for

    “Se o dinheiro público for mal utilizado por um administrador acostumado a trabalhar bêbado as carências públicas se multiplicarão”:

    So as de Minas.  O incidente foi no Rio.

    As do Rio nao vao ter “carencia” nenhuma…  Eh que os cariocas adoram o Aecioporto…

    Juro!

    Sim, gente, eh exatamente isso que voces estao pensando tambem.  Aecio “representa” os interesses do Rio de Janeiro mas nem sequer um desses “interesses” eh o da populacao do Rio de Janeiro.  Eh que tem uma briga invisivel entre os milionarios do Rio e de Sao Paulo.

    Quem a paga?

    Voces.

  2. Três corporações que tiveram o mesmo problema que Al Capone

    E a Natura que também foi multada em R$ 628 milhões – por ter calculado  impostos de 2008

    sobre a base de preços incorretos – e forneceu o vice-presidente na Chapa da Marina

    na eleição de 2010, e agora fornece assessoria e bufunfa.

    E  a Globo  também multada em 665 milhões  pela Receita Federal desembarcou ou desembarcará com suas armas na

    campanha de Marina.

    Banco Itaú e Natura são grandes anunciantes da Globo e outros veículos, por isso a docilidade dos entrevistadores

    ontem da candidata  que carrega a bíblia.

    O fardo de Marina está pesado demais. Nem muita oração e a aliviará.

     

    1. Grato pela colaboração. As

      Grato pela colaboração. As relações de Marina com sonegadores são mais profundas e graves do que eu imaginei. 

  3. O caso dos pneus poderia

    O caso dos pneus poderia servir de tema para o próximo debate de Dilma contra Marina, pois é gritante a incoerência da acreana.

  4. [  Liderar através de uma

    [  Liderar através de uma conduta moral exemplar não é obrigação constitucional imposta ao Presidente  ]  exigir isso seeria discriminação cointra a maioria e todo tipo disto é crime.

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