MPEs de olho no pré-sal

Não só de números exorbitantes e contas bilionárias se faz a previsão de movimentação pela exploração de hidrocarbonetos do pré-sal. As micro e pequenas empresas (MPEs), de variados serviços e operações, estão com as atenções voltadas para o novo horizonte exploratório, que se apresenta como uma oportunidade para inserir e desenvolver diferentes cadeias.

Se preparar e articular para atender as demandas do setor, principalmente da Petrobrás, principal contratante, é um desafio para os pequenos. Além das reivindicações por meio de órgãos representativos de classe, a parceria com o Sebrae, é umas dos alicerces das  pequenas para se preparar para o aumento na demanda.

Por enquanto, explica a coordenadora do Projeto de Petróleo & Gás do SEBRAE, Maíra Campos, os anúncios das promissoras reservas abaixo da camada de sal estão estimulando os pequenos a investir no futuro aumento de escala. Por enquanto, o trabalho nas reservas é exploratório, em sua maioria, logo a demanda deverá crescer expressivamente quando a produção ganhar escala. A principal lacuna, para estas, ainda é a gestão.

Com o trabalho em rede, o Sebrae auxilia na formação de preço, fluxo de caixa, delimitação de clientes e demais trâmites burocráticos. Essa capacitação é favorecida por meio das Redes Petro, estabelecidas em 11 estados, responsável pela capacitação de cerca de 2,5 mil empresas desde sua implementação. Os estados de Pernambuco, Santa Catarina e Maranhão são alguns que se articulam para instalação da Rede.

De acordo com o Sebrae, com informações das 27 empresas-âncora, a expectativa de negócios na Rodada de Negócios nacional da Rio Oil & Gas 2010, realizada em setembro deste ano, é de R$ 138 milhões para os próximos 12 meses. Esta estimativa é 16% superior à registrada na edição de 2008, que foi de R$ 119 milhões. Participaram 233 ofertantes, a maioria de micro e pequenas empresas.  

Já na Rodada de Negócios internacional, da qual participaram 36 empresas estrangeiras da Arábia Saudita, Argentina, Canadá, Colômbia, Espanha, Holanda, Escócia e Itália, e 82 brasileiras do ProInter (Programa de Internacionalização da Cadeia Produtiva de Petróleo, Gás e Energia). Até o próximo ano, a rodada internacional deve gerar operações comerciais da ordem de US$ 300 milhões. O número supera as expectativas do evento anterior, que foram de US$ 287 milhões.

Uma antiga reivindicação dos fornecedores de bens e serviços à Petrobras é a clareza nas demandas da petroleira, a maior contratante do setor. O problema, que atinge principalmente os micro e pequenos empresários, começou a ser solucionado no ano passado com o portal de oportunidades do Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural). A página funciona como uma espécie de classificados, em que os fornecedores podem verificar os produtos vendidos por seus pares para atender a demanda da estatal no curto prazo, favorecendo a integração no setor. De acordo com Campos, o trabalho do Sebrae ao longo de 2010 foi de divulgar a iniciativa, que auxilia a desmistificar a demanda as demandas.

A previsibilidade das demandas das empresas do setor petróleo auxilia na inovação dos processos produtivos das empresas fornecedoras e ao planejamento da escala de produção. Como os pequenos não são os primeiros elos de contratação, podem ser até o oitavo elo da cadeia, acabam ficando desnorteados sobre as necessidades do setor. Muitas dessas empresas são familiares e não possuem o know how das grandes empresas para compreender o recado e saber como devem se preparar para conseguir uma fatia no bolo.

Recentemente a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) lançou um documento com sugestões de políticas públicas e ações para impulsionar a competitividade das empresas fornecedoras e a geração de emprego. Muitas das reivindicações, embora não sejam proporcionais a escala de produção das micro e pequenas empresas, aderem às necessidades das mesmas, de acordo com Campos.

Crédito e Tributos

Ponto de reivindicações para qualquer porte de empresas, a questão tributária ainda precisa ser trabalhada, na avaliação dos representantes do Sebrae e da Onip. A equalização tributária pode ser abarcada em uma política setorial, específica ao setor.

No crédito as pequenas empresas são as mais vulneráveis, por não conseguir apresentar as garantias necessárias, podem ser vítimas de spreads elevados, tornando a alavancagem mais onerosa.

Também é intuito da Petrobras expandir créditos maleáveis aos fornecedores. Para isso foi lançado em setembro o Progredir, linha de crédito desenvolvida em parceira com seis bancos de varejo (Banco Bradesco, Banco do Brasil, Banco Santander (Brasil), Caixa e HSBC), com o BNDES, o Prominp e com entidades de classe representativas da indústria fornecedora de bens e serviços no país.

De acordo com a Petrobras,  o Progredir é baseado na concessão de crédito à cadeia de fornecedores, lastreado nos recebíveis ainda não performados (resultantes de contratos futuros de entregas ou prestação de serviços) em cada um dos contratos firmados entre os participantes da cadeia. Os recursos não são advindos da Petrobras, mas a petroleira atua como âncora, pois os seus recebíveis dão suporte ao crédito.

Em fase piloto, o Programa abrange todos os fornecedores da Petrobras, diretos e indiretos, com foco nos que têm maior dificuldade para levantar financiamentos. O programa deve atender todos os fornecedores a partir de fevereiro de 2011.

Campos ressalta que demais fatores devem ser alinhados para garantir uma maior inserção de empresas brasileiras, de diferentes portes, nas cifras bilionárias que devem envolver a produção no pré-sal. Uma delas, por exemplo, diz respeito ao conteúdo nacional. Embora o mecanismo favoreça as compras internas, é preciso garantir que todos os elos da cadeia comprem internamente. A subcontratação de serviços e produtos, em uma cadeia complexa como a do petróleo, pode abrir espaço para que subcontratados adquiram produtos fora por questões de preço. No entanto, ela alerta que é necessário também, antes de estabelecer novas regras, garantir que tais contratações possam ser feitas no país.

No que tange as intenções do governo federal, de fomentar a indústria nacional, a representante do Sebrae acredita que tais pontos devam ser solucionados antes da produção tomar maior escala. “O primeiro passo já foi dado”.

Redação

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