Nações Unidas à lá Virado Paulista, por Magali Romboli

Os sofisticados que conservam as aparências não recorrem às armas, mas seus jogos vorazes matam aos poucos o respeito

Ilustração: Mel Romboli

Nações Unidas à lá Virado Paulista

por Magali Romboli

Neste final de ano, se você não está estressado, cansado neuronial ou sofrendo de algum tipo de transtorno mental é hora de celebrar, você é extraordinário. Já tem um tempo que a OMS diagnosticou um bilhão de gente como a gente que (sobre)vive(u) om algum transtorno mental.

Acompanhar histórias e histerias individuais, coletivas, nacionais e transnacionais, como aquelas que envolvem o first world alimentando guerras no quintal dos outros e as lá de casa, espantosamente foi possível experienciar a incapacidade da racionalidade externada em ódio.

Este tipo de disfunção por ausência de inteligência emocional, não tem remédio, seria necessário inventar um ‘curédio’ que materializasse uma outra forma de alteridade hominal.

Desde o primeiro tacape este padrão de comportamento é um saco. A ideologia capitalista ou aquilo que dizem que é coisa de comunista e até a lambança neoliberal pode ser cruel, mas é rasa e decadente, seriam incapazes de inventar um fulano que odeia o outro gratuitamente. Isto é cosa nostra, um habitus familiar.

A diferença é que os hegemônicos ganham dinheiro, prestígio e poder tocando medo e estimulando o ódio. Antes da Ucrânia e Palestina, a indústria do armamento faturou em um ano de pandemia, mais de quinhentos bilhões de dinheiros estado-unidenses. 

Os sofisticados que conservam as aparências não recorrem às armas, mas seus jogos vorazes matam aos poucos o respeito, esmagam a dignidade e alimentam a inveja contra aqueles que se alegram com as coisas simples da vida. Haja visto, a quantidade de crianças mortas por familiares, no ambiente do lar. 

A ideia de supremacia de uns sobre os outros faz lembrar a condição animalesca, em que para se ter o que comer e preservar a própria espécie, é preciso caçar e depois disto, enquanto se come ficar atento para não ser comido.  A tecnologia não mete medo, mas conviver com milhões de leviatãs da pós-modernidade líquida, que não se libertam do passado de suas cavernas e culpabilizam os outros como um inferno próprio, isto justifica tantos ódios.

Ao longo das últimas décadas foi possível elaborar uma espécie de corredor humanitário de sobrevivência, das Nações Unidas, por onde passam filhas, parentes estimados e amigos que aprenderam com seus pais e avós vindos da Argentina, Uruguai, Portugal, Polônia, Itália, França, Espanha, Inglaterra, Áustria, Alemanha, Síria, Israel, Líbano, Rússia, Coréia do Sul, Japão, que o Brasil é refúgio para encontrar um amor baiano, mineiro, pernambucano, com brasileiro de todo canto. 

Neste território não narcisista, tem ainda, os 100% originais, filhos de povos ancestrais brasileiros e do continente africano. Recentemente, com o uso da tecnologia, o corredor humanitário ficou digital e foi possível ter um amigo chinês, que nem fala o português nacional.

Se a agenda de todos não fosse tão desencontrada seria incrível combinar uma trégua nas divisas dos bairros da Liberdade, Bela Vista e Bixiga, lá no espaço cultural Al Janiah. No cardápio não tem Virado ala Paulista, mas o sabor gostoso se dá pela ausência de ódio contra a própria família: a humanidade. São refugiados das micro, pequenas, médias e grandes zonas de guerra, mantidas pela irracionalidade.

Um salve à amizade libertadora, que não é teórica e é insistentemente praticada por humanos todos os dias.

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Redação

1 Comentário

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  1. Magali, seu texto é uma brisa apesar do conteúdo pesado, você nos convida a ler, sem tirar is pés da realidade.
    Escreva, escreva sempre!
    Bjs,

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