Compartilhado por Glenn Greenwald no Twitter
Novamente, um dos aspectos mais desconcertantes do discurso atual – um sinal de como a dissidência é demonizada – é a afirmação de que é um novo ponto de discussão “pró-Putin” dizer que a expansão da OTAN está ameaçando todos os russos.
Este tópico mostra como essa visão tem sido dominante no Ocidente.
Por Arnaud Bertrand no Twitter
A coisa mais fascinante sobre a guerra da Ucrânia é o grande número de pensadores estratégicos que alertaram durante anos que ela estava chegando se continuássemos nesse caminho.
Ninguém os ouviu e aqui estamos.
Pequena compilação desses alertas, de Kissinger a Mearsheimer.
O primeiro é George Kennan, indiscutivelmente o maior estrategista de política externa dos Estados Unidos, o arquiteto da estratégia americana de guerra fria. Já em 1998, ele advertiu que a expansão da OTAN era um “erro trágico” que deveria provocar uma “má reação da Rússia”.
Depois, há Kissinger, em 2014. Ele alertou que “para a Rússia, a Ucrânia nunca pode ser apenas um país estrangeiro” e que o Ocidente, portanto, precisa de uma política que vise a “reconciliação”. Ele também foi inflexível que “a Ucrânia não deve aderir à OTAN”.
Não sou fã de Henry Kissinger, mas tenho que admitir que ele tem uma compreensão muito realista da dinâmica do mundo. Este artigo que ele escreveu em 2014 sobre a Ucrânia, no Washington Post, incrivelmente se antecipou aos fatos, como vemos hoje.
Este é John Mearsheimer – provavelmente o principal estudioso geopolítico nos EUA hoje – em 2015: “O Ocidente está levando a Ucrânia para o caminho da primavera e o resultado final é que a Ucrânia vai ser destruída […] E o que estamos fazendo é, de fato, encorajando esse resultado.”
Este é Jack F. Matlock Jr., embaixador dos EUA na União Soviética de 1987-1991, alertando em 1997 que a expansão da OTAN foi “o erro estratégico mais profundo, [que encorajou] uma série de eventos que poderia produzir a mais séria ameaça à segurança dessa nação desde o colapso da União Soviética.”
Este é o secretário de Defesa de Clinton, William Perry, explicando em suas memórias que, para ele, o aumento da OTAN é a causa da “ruptura nas relações com a Rússia” e que, em 1996, ele se opôs tanto a isso que considerou renunciar ao cargo.
Este é Noam Chomsky em 2015, dizendo que “a ideia de que a Ucrânia pode se juntar a uma aliança militar ocidental seria bastante inaceitável para qualquer líder russo” e que o desejo da Ucrânia de se juntar à OTAN “não protege a Ucrânia, está ameaçando a Ucrânia com uma grande guerra.”
Stephen Cohen, um famoso estudioso de estudos russos, alertando em 2014 que “se movermos as forças da OTAN para as fronteiras da Rússia, […] obviamente vai ocorrer a militarização e a Rússia não vai recuar, isso é decisivo”:
Este é o reconhecido jornalista russo-americano Vladimir Pozner, em 2018, dizendo que a expansão da OTAN na Ucrânia é inaceitável para os russos, que deve haver um compromisso de que “a Ucrânia, garantidamente, não se torne membro da OTAN”.
Mais recentemente, pouco antes do início da guerra, este é o famoso economista Jeffrey Sachs escrevendo uma coluna no FT alertando que “a ampliação da OTAN é totalmente equivocada e arriscada. Os verdadeiros amigos da Ucrânia e da paz mundial deveriam pedir um compromisso dos EUA e da OTAN com a Rússia.”
É justo dizer que raramente houve um conflito em que tantos pensadores estratégicos do outro lado viram e advertiram por tantos anos, mas tiveram seus conselhos ignorados. Isso levanta a questão: por quê?
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Parabens à autora por sintetizar tão bem as posições desses especialistas em geopolítica. Vou torcer muito para que jornalistas e leitores que aderem com muita facilidade às narrativas ocidentais temperem um pouco suas convicções.
Não poderia concordar mais. Eu mesmo previ o conflito pelas redes sociais caso Biden vencessem as eleições.
E o mais patético de tudo é a histeria russofobica que tomou conta do ocidente graças à mídia ocidental: ao invés de se buscar uma solução negociada para conflito que reconheça a autonomia mas tb a neutralidade da Ucrânia, o que se vê é uma aposta ocidental no acirramento do conflito. Quanto mais acuados se sentirem os russos, mais perigosos eles se tornarão para o ocidente.