Pós-Verdade: A Semente do Extremismo

Faço aqui uma singela reflexão sobre o comportamento popular diante da crise política em voga, sobretudo, a escancarada falácia, tão notória nas redes sociais, dos que, em tom de empáfia, proclamam uma rejeição explícita à corrupção. Isso é, a corrupção é do “outro”. Se a corrupção vier do lado com o qual simpatizam, eles se calam. Acreditam ser uma injustiça e atacam os críticos e aqueles que se posicionam ao contrário. Mas comemoram em tom de festa caso a oposição seja acusada de corrupção.

Os conflitos extrapolam as esferas individuais, para se tornarem conflitos entre grupos. Formam-se coligações inconscientes, armam-se defesas contra o desequilíbrio, a cisão e a desunião, criam-se saberes inconscientes à deriva, sintoma de um conflito polarizado. Trata-se dessa nossa incapacidade, uma insanidade, no modo de agir neste mundo em que cada um se vê dono da verdade e defensor da moral e da ética, mas ao assumir o compromisso em relação às mesmas, os gestos se calam e as costas se voltam, quando trata-se de nossos desafetos. Daí, fingem, criam intrigas, lançam fel sobre as cabeças, furtando-se a serem um pouco mais humanos e honestos.

O poder e o dinheiro fácil estão por trás da ambição desmedida e transviada, que produz e reproduz a corrupção. A moral escorre vermelha pelas sarjetas. Em todos os segmentos da sociedade, em todos os poderes percebe-se um discurso falacioso. Vemos um apontando o dedo contra o outro. O tempo é de espetáculo, encenado até mesmo por aqueles que têm como missão profissional arbitrar com justiça e imparcialidade.  Vivemos numa sociedade que já escolhe o pior como antídoto para suas próprias angústias.

Essa polarização dissimulada que iniciou-se com a ascensão do Partido dos Trabalhadores, foi potencializada com a crise política no governo Dilma e nos movimentos pró-impeachment da ex-presidente, mas não se dissolveu mesmo após as denúncias, os indiciamentos e prisões de políticos da grande maioria dos partidos. Nenhum partido político expressivo está completamente impune. Esse comportamento popular insano empobrece ainda mais a consciência política do país e favorece a alienação intelectual. Um exemplo é essa apatia popular diante das vergonhosas manobras políticas daqueles que estão no poder para evitar ou abafar qualquer possibilidade de investigação.

O que vemos é uma escancarada indiferença em relação às verdades e uma tendência de “pós-verdade” de pessoas que passaram acreditar na volta do horror do totalitarismo típico das ditaduras militares, depositando todas as suas fichas em candidatos que revelam simpatia com essas tendências retrógradas. O conceito de “pós-verdade”, a grosso modo, é um neologismo que descreve uma determinada situação, na qual a opinião pública é modelada por discursos falaciosos, de promessas extremistas, baseadas em argumentos débeis, sem fundamento, fazendo uma sutil manipulação das emoções e crenças pessoais dos ouvintes. Nesse caso, os fatos objetivos têm pouco valor.

No Brasil, o crescimento da “pós-verdade” é fruto de uma descrença na política e nos políticos e assim as pessoas se agarram naqueles que apresentam soluções imediatas, geralmente extremistas, prometendo sanar a curto prazo todos os problemas que afligem o povo brasileiro.

Aristóteles, um dos maiores filósofos de todos os tempos, já nos alertava sobre necessidade premente de disciplinarmos os nossos interesses individuais em favor do interesse coletivo, pois a luz que ilumina cada um brilha muito mais quando todos se abraçam. O momento é de união popular contra a corrupção, independentemente do lado em que ela surja e, pelo visto, ela está impregnada na política em geral. Não existe salvação a não ser através de um povo mais consciente e responsável.

 

Luiz Claudio Tonchis é autor do livro A Arte de Ser Feliz: Na Visão da Ética Aristotélica, 2017 – publicado pela Paco Editorial. É Professor de Filosofia e Gestor Escolar, com pós-graduação em Filosofia e Ética (Redefor) pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Gestão Escolar pela Uniararas (Centro Universitário Hemínio Ometto) e Gestão Escolar Empreendedora (MBA) pela UFF (Universidade Federal Fluminense). 

Redação

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