Programa Espacial precisa de engenheiros

Se o programa espacial brasileiro realmente irá receber maior atenção no governo da presidente Dilma Rousseff, há muito a ser feito para colocar o país no mercado de lançamento de satélites. O primeiro problema é a falta de pessoal qualificado, questão que atinge diversos setores da economia.

A demanda imediata é por cerca de 2 mil engenheiros, de acordo com Himilcon Carvalho, diretor de  Política Espacial e Investimentos Estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Esse número seria somente para suprir lacunas emergenciais de aposentadorias, e apenas no funcionalismo público.  Se comparada a projeção do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), essa necessidade imediata de engenheiros concursados para a área espacial é cerca de 10% da necessidade nacional traçada pelo conselho, de 20 mil engenheiros por ano.

Último levantamento, realizado em 2005, que contabilizou a força dos recursos humanos empenhada na tecnologia espacial, deu conta de apenas 3.100 pessoas empregadas. Esse número envolve todos os elos do programa espacial, ou seja, o pessoal contratado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), da AEB e da indústria, direta e indiretamente ligada ao programa. A avaliação de Carvalho não é das mais animadoras. Segundo ele, de 2005 até hoje, se a situação não manteve constante, deve ter piorado.

Para se ter uma dimensão do problema, nos Estados Unidos, somente em uma das agências espaciais, a NASA, são cerca de 70 mil pessoas trabalhando. Salvo as devidas proporções, o número de capacitados em apenas uma agência americana é mais de 20 vezes superior a todo corpo de especialistas brasileiros na área devidamente contratados.

A falta de pessoal qualificado tem um impacto direto na capacidade da agência e das demais instituições correlatas em gerenciar mais projetos ao mesmo tempo. Ações importantes, como o projeto Amazônia-1, satélite brasileiro de observação e monitoramento da Amazônia, o primeiro de recursos terrestres totalmente desenvolvido pelo Brasil, previsto inicialmente para ser lançado em 2010, foi adiado para 2013, em parte, por conta deste tipo de problema.

Outra questão gerada pela falta de recursos humanos é o envelhecimento dos quadros. A maior parte dos funcionários qualificados, com expertise na área, está se aposentado ou em idade próxima à aposentadoria. O resultado dessa conta é a necessidade de um número maior de contratações.

“Não estamos conseguindo renovar”, diz Carvalho, explicando as alternativas para contornar o problema envolve o trabalho com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para trazer bolsistas, oxigenar as equipes, ter gente nova. O mais importante, entretanto, é que esses bolsistas em algum momento sejam absorvidos por meio de concursos públicos.

“Temos uma deficiência, mas fazemos parte de um conjunto do funcionalismo público, junto aos ministérios competentes. É um trabalho contínuo que fazemos e mostramos a necessidade em ter mais recursos humanos, mais especialistas”, diz. Ao menos a tônica da declaração de Dilma Rousseff, no mês passado, foi de ampliar o número de profissionais contratados pela AEB.

O trabalho junto às instituições de ensino também auxilia na formação de capacitados.  O Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) abriu no ano retrasado o curso de engenharia espacial em nível de graduação, antes só havia a modalidade nos cursos de pós-graduação. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP) estão entre as universidades que começam a abrir cursos para formar aptos à área espacial, que são basicamente engenheiros que também podem trabalhar em diversas áreas da indústria.

As parcerias internacionais também vislumbram o intercâmbio de estudantes e profissionais para aprender nas instituições dos países parceiros, mas esta opção não tem sido muito usada. Isso porque não há no país a possibilidade de liberar pessoas para este tipo de intercâmbio. “Já temos poucos e essas pessoas vão passar alguns anos no exterior”, diz Carvalho, pode agravar o problema. É preciso ainda encontrar um mecanismo ideal que permita a capacitação no exterior dos poucos profissionais brasileiros, seja em forma de bolsa para o estudante, ou se a pessoa já trabalha pra o governo.

“É uma preocupação constante que haja isso, principalmente no lado da formação. Algumas parcerias são trocas tecnológicas, outras mais outras menos”, ressalta. Somente em capacitação e formação de recursos humanos, o orçamento de 2011 prevê quase R$ 1,3 milhão.

Em revisão, o Programa Espacial Brasileiro deverá apontar novas necessidades e diretrizes para os próximos anos. Isso envolverá a escolha de projetos prioritários, identificação de lacunas e projeção de recursos humanos e investimentos para atingir as novas metas. Já aconteceram duas reuniões, que tem como objetivo atacar os problemas de gestão interna, atrasos e seus motivos.

Na última reunião, realizada no dia 19 de abril, foram chamados vários órgãos do governo para que fossem colocadas as grandes demandas. A última vez em que o programa foi revisado foi entre os anos de 2004 e 2005, e à época as demandas eram diferentes das atuais.  Há uma maior preocupação com mudanças no sistema climático e com a metereologia, que dependem do programa espacial e do lançamento de satélites.

Redação

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