Reciclagem da poupança e os milionários brasileiros

Coluna Econômica

Um dos pilares do atual momento econômico brasileiro é a chamada reciclagem da poupança. Fundos de pensão, fundos de investimentos, famílias que venderam empresas, gestores de recursos estão empenhados em um movimento profundo de reestruturação da economia.

Novos setores têm surgido em áreas de infraestrutura, energia, tecnologia da informação, com uma vitalidade poucas vezes vista – a não ser em períodos de “bolha”, como no caso da Internet do início da década.

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OnteOntem, a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) divulgou a relação de milionários brasileiros, aqueles com pelo menos R$ 1 milhão em aplicações. São 63.224 pessoas. Em 2010 seus ativos somaram R$ 351 bilhões investidos nos bancos.

E nem se trata da parte mais substanciosa do processo. A maioria dos grandes investidores têm recursos aplicados no exterior, entrando no país como capital estrangeiro.

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Nos últimos anos, o mercado de capitais brasileiro desenvolveu uma boa metodologia de análise de empresas e setores e de precificação (definição de preços) de ativos. Há departamentos técnicos em um sem-número de instituições financeiras, não-financeiras, em novos fundos que começam a pipocar em todos os setores.

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Mesmo com as perspectivas da economia, grande parte desses recursos fica esterilizado em títulos públicos, sem nenhuma função produtiva, a não ser enriquecer os chamados rentistas – os que vivem de juros, sem pretender correr riscos.

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Segundo a instituição, R$ 162,2 bilhões desses recursos ficaram em fundos de investimento, R$ 118,6 bilhões dos quais em renda fixa, a maior parte dos quais, títulos do governo. Ações de empresas lançadas em Bolsa ficaram com apenas R$ 68,2 bi.

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Essa é uma das facetas negativas da atual política monetária e cambial.

Aumentam-se os juros para combater a inflação – em vez de aumentar depósito compulsório ou outras medidas que não impactam as contas públicas. O governo é obrigado a emitir mais títulos para bancar os juros.

Aí, a alta das taxas atrai dólares do exterior. Para impedir a apreciação da moeda, o Banco Central vai emitindo mais títulos para adquirir mais dólares.

Com mais juros e maior oferta de títulos, parcelas expressivas da poupança nacional são desviadas para esse processo do cachorro se alimentar do próprio rabo.

Todo esse movimento faz com que a poupança fique empoçada nesse círculo sem fim, de uma dívida autoalimentada. Desviam-se recursos de infraestrutura, de capitalização de empresas, gastos de saúde, educação, para alimentar uma política monetária cujo único objetivo é o de alimentar esse rentismo improdutivo.

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Em 2009 a taxa Selic bateu abaixo dos 9%. Começou o ensaio dessa reestruturação da poupança. Agora volta para nívels estelares, impactando o desenvolvimento em vários níveis:

Desvia recursos de investimento real para financiamento da dívida pública.Aprecia o real, reduzindo a competitividade da economia brasileira.Aumenta a taxa de retorno dos investimentos em infraestrutura – ou seja, o investidor passa a exigir maiores taxas de retorno, encarecendo o investimento. 

Luis Nassif

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