Registros da Davati são controversos e já teve certificado negado

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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GGN investigou os registros da Davati Medical Supply, suposta vendedora de vacinas da AstraZeneca

Jornal GGN – A polêmica sobre a suposta propina para a venda da de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, denunciada por um vendedor de uma empresa que se diz distribuidora de vacinas, trouxe novos episódios. Além das polêmicas já denunciadas no vídeo O Modelo do Golpe dos Remédios, a empresa Davati Medical Supply traz em seu histórico outros indícios que denotam outras possíveis irregularidades.

A Davati não só não estava autorizada pela AstraZeneca a vender suas vacinas contra a Covid-19, como a mediação, que poderia ser “ilegal”, será investigada pela farmacêutica britânica. Herman Cardenas, o dono da Davati, que tem sede em Austin, Texas, chegou a admitir publicamente que não é “distribuidor da AstraZeneca”.

Reportagem da Folha de S.Paulo publicou que a empresa foi criada somente no ano passado, em 2020. E-mails obtidos pelo jornal mostraram que, ao contrário do que afirmou Cardenas, a empresa negociou a venda das vacinas AstraZeneca com o governo federal e obteve resposta positiva:

“Precisamos de uma carta do representante ou algum documento que mostre a Davati Medical como representante da Astra Zeneca. Depois disso, podemos ir em frente, uma vez que essa proposta comercial parece boa diante de outras recebidas até agora”, escreveu, em um email, o ex-diretor de Logística da Saúde, que foi demitido, Roberto Ferreira Dias.

Desde quando existe a Davati Medical Supply?

O GGN averigou que a Davati Medical Supply não tem CNPJ, não sendo registrada no Brasil. Nos Estados Unidos, a data de abertura da companhia é controversa. O GGN apurou junto à Controladoria de Contas Públicas do Texas e, oficialmente, as informações mais atualizadas confirmam que a empresa foi registrada no dia 15 de junho de 2020:

A mesma informação pode ser conferida em outras páginas de dados corporativos abertos, como a “OpenCorporates”, com base no que é fornecido pela Controladoria do Texas, publicando o certificado de formação:

Entretanto, a ferramenta “SignalHire”, que rastreia informações públicas de companhias e profissionais para possibilitar os contatos de vendas e contratações, divulga que a data de fundação da Davati Medical Supply foi no ano de 2014.

Por fim, a plataforma de negociação em comércio internacional “TradeWheel”, também com uma base de dados de companhias de todo o mundo para o acesso a fornecedores e compradores, informa que a data de criação da Davati Medical Supply ocorreu no ano de 2008.

A página caracteriza a Davati como “distribuidora de equipamentos de proteção individual (EPI) de qualidade”m que “projeta, fabrica e importa produtos” em diversos países “há mais de 22 anos”:

Diante das divergências, com o número de contribuinte no imposto de pessoa jurídica do Texas, o GGN solicitou ao órgão estatal oficial a íntegra do Relatório de Informação Pública da Davati Medical Supply e aguarda o retorno.

Instituição desacredita e nega certificado

Os questionamentos sobre a data de criação e a confiança da empresa, contudo, não são recentes. Uma reconhecida agência credenciadora de empresas, que atua nos Estados Unidos, Canadá e México, o BBB (Better Business Bureau), fez uma revisão da Davati Medical Supply em março deste ano, publicou um alerta e negou o certificado à companhia.

Na revisão da empresa, o BBB informa que contestou as alegações divulgadas pela própria Davati Medical Supply de que “operava em seu setor por mais de 22 anos e que tinha uma parceria com um fabricante farmacêutico de longa data estabelecido em 1961”.

A instituição que certifica empresas disse que “encontrou registros do Secretário de Estado do Texas indicando que a empresa foi criada em 2013 e não conseguiu encontrar nenhuma informação sobre quaisquer parcerias ou relacionamentos que tinha com empresas farmacêuticas”.

“O BBB contatou a empresa solicitando que comprovasse as alegações feitas em seu site, porém nenhuma resposta foi recebida”, acrescentou. Com a falta de informações confiáveis, a Davati Medical Supply não foi acreditada pela instituição.

Após as denúncias com a CPI da Covid, a Davati retirou o seu site do ar. Ao justificar “as razões para a classificação”, o BBB elenca “há quanto tempo a empresa está operando”, que não foi confirmado, e “problemas de publicidade encontrados pelo BBB”.

Vende ou não vende AstraZenenca?

Logo após a polêmica do vendedor das vacinas Luiz Paulo Dominguetti Pereira, a Davati chegou a dizer que o vendedor que compareceu à CPI da Covid no Senado não era nem seu representante, nem seu empregado.

Logo após o depoimento de Dominguetti, na última quinta (01), a AstraZeneca enviou nota à imprensa afirmando que “não disponibiliza a vacina por meio do mercado privado ou trabalha com qualquer intermediário no Brasil” e que “todos os convênios são realizados diretamente via Fiocruz e governo federal”.

Em seguida, Herman publicou uma nota no site da Davati tentando se blindar: “Não somos distribuidores autorizados da AstraZeneca, e nunca dissemos que éramos”. Segundo a empresa, o trabalho que eles faziam era o de receber pedidos dos clientes e, depois, tentar encontrar os fornecedores das vacinas e que eles tinham “acesso a pessoas” que seriam distribuidores da AstraZeneca.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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