Renovação se faz com ideias, não com idade.

O texto de Fernando Rodrigues de hoje (18/05) na Folha de São Paulo – “Troca geracional na oposição” traz um exercício de lógica sobre o qual eu gostaria de comentar.

Ele começa muito interessante já pelo título. Sem dúvida, como já discutimos aqui há algum tempo, estaremos entre 2014 e 2018 assistindo à troca de guarda da política nacional, pelo menos no nível federal. É interessante notarmos os parágrafos do início do texto:

Aécio Neves tem 53 anos e será eleito hoje presidente nacional do PSDB. Deve ser candidato ao Planalto no ano que vem. Os outros dois postulantes de oposição mais competitivos são Marina Silva, 55, e Eduardo Campos, 47. Disputarão contra Dilma Rousseff, 65.”

Pela primeira vez desde a volta do país à democracia o campo da oposição será preenchido, em grande parte, por pessoas de uma geração pós-ditadura militar.”

Não é a primeira troca de guarda a que assisto. A primeira que me lembro, foram os políticos da Era Vargas – Tancredo, Brizola, Ulisses, Miguel Arraes, Prestes, João Amazonas. Jango, Lacerda e Juscelino morreram antes.

Agora os políticos da resistência à Ditadura – Montoro, Covas, FHC, José Serra, Dilma, só para ficarmos nos mais óbvios. ACM e Bornhausen no campo oposto também.

Dirceu e Genoíno não trocaram a guarda, foram alijados.

Lula, na minha memória, vem depois. É da Geração de 78.

Claro que a história de vida desses personagens faz diferença para quem quer imaginar como será a política pós-Lula, nosso divisor de águas pós-redemocratização.

Ocorre que Fernando não aprofunda a análise, ao contrário, lá pelo meio do texto faz uma associação indevida, em minha opinião, entre juventude e renovação:

“No ano que vem, caberá aos candidatos de oposição usar o discurso da renovação. É uma estratégia arriscada. Só pode ser usada com moderação e equilíbrio. Uma enquete publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico” mostra que há algum espaço a ser explorado..”

Refere aqui ao apelo da renovação como argumento eleitoral e faz analogia com o início do texto onde mostra que só candidatos na casa dos 50 anos, jovens em termos da política brasileira, concorrem contra Dilma, 65 anos.

Ora, renovação não significa obrigatoriamente trocar o mais velho pelo mais novo. Até porque, hoje, na imprensa militam meninos com ideias tão reacionárias que parecem senhores vestutos do partido conservador do Império.

No que se apoia Fernando Rodrigues para essa sugestão? Em uma pesquisa com a plutocracia nacional.

“O levantamento foi realizado com 97 presidentes das 200 maiores empresas brasileiras. Apesar de 68% deles acharem que Dilma Rousseff será a reeleita, só 12% a apontam como a candidata predileta. O preferido dos empresários é Aécio Neves (66%). Eduardo Campos (11%) quase empata com Dilma.”

Mas, se 97 presidentes das 200 maiores brasileiras votassem no PT, seria porque ele – o PT, teria trocado suas cores para azul e amarelo e FCH estaria usando uma camiseta vermelha com uma estrela no peito.

Bom, por essa pesquisa, Dilma terá em 2014 176 votos a menos – os 88% dos presidentes de grandes empresas que jamais votaram nela mesmo. Mas já que eles – os empresários, julgam que ela será reeleita, não lhe faltará a necessária contribuição desse setor endinheirado. É só ler a pesquisa com algum pragmatismo.

A seguir Fernando deixa-se levar pelo ato falho.

“O sentimento geral talvez pudesse ser traduzido assim: “Seria bom mudar. Só que Dilma Rousseff vai mesmo ganhar. Paciência”. As pesquisas de opinião hoje dão a petista como vencedora no primeiro turno em qualquer cenário.”.

O “sentimento geral” de quem? Quem acha que “seria bom mudar”?

97 presidentes de empresas brasileiras, ainda que as maiores, podem formar um sentimento geral?

Quem seriam os outros que, nas pesquisas de opinião, hoje dão a petista como vencedora no primeiro turno em qualquer cenário?

Ora, pela lógica, os 99,999999 …% da população que não são presidentes das maiores empresas brasileiras.

Enfim, conforma-se Fernando Rodrigues:

“Com o país estável e Dilma popular, resta à oposição convencer o eleitorado da necessidade de renovação. É difícil, quase impossível. Mas é um dos únicos discursos disponíveis.”

Se é necessário convencer o eleitorado da necessidade de renovação, então o campo da oposição se fechou de vez. Quem personificará esse um dos únicos discursos disponíveis?

Aécio? Não apresentou nos seus 4 anos de Senado nenhuma proposta. Sua atuação até agora se baseia na tática do “besouro rola-bosta”.

Eduardo Campos? Nosso “bebê-Johnson”. Todo branquinho e bonitinho, um sorriso de pérolas sem jaça encimado por belos olhos azuis. Seu discurso? “É possível fazer mais”. O quê e como ainda não nos informou.

E Marina Silva? O discurso ecológico vai aos poucos ficando para trás e cada vez mais se aproxima do perfil da bispa evangélica neo-pentecostal. Todo meu respeito aos evangélicos neo-pentecostais e ao significativo trabalho social que fazem nas perifeiras de São Paulo e pelo Brasil profundo afora. Mas, não é desse grupo social que se espera propostas de renovação.

O erro de Fernando Rodrigues, de cima de toda a minha presunção de apontar erros em alguém que não seja eu, foi considerar juventude como significado de renovação.

Renovação se faz com ideias e propostas, não com idade.

E só são encampadas pelo eleitorado quando o modelo atual está vencido e não responde mais aos anseios da população.

Um estudo comparativo dos anos FHC e movimento de renovação ocorrido ao seu final, só comparável ao fim da ditadura, com os anos Lula-Dilma nos ajudaria muito a entender a postura realista dos presidentes das grandes empresas brasileiras que não vêem “renovação” em futuro próximo.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/fernandorodrigues/2013/05/1280816-troca-geracional-na-oposicao.shtml

Troca geracional na oposição

BRASÍLIA – Aécio Neves tem 53 anos e será eleito hoje presidente nacional do PSDB. Deve ser candidato ao Planalto no ano que vem. Os outros dois postulantes de oposição mais competitivos são Marina Silva, 55, e Eduardo Campos, 47. Disputarão contra Dilma Rousseff, 65.

Pela primeira vez desde a volta do país à democracia o campo da oposição será preenchido, em grande parte, por pessoas de uma geração pós-ditadura militar.

Idade não é determinante para ganhar ou perder uma eleição. Apenas ajuda a compor o quadro geral. Em 1989, na primeira disputa direta pelo Planalto na atual fase democrática do país, havia um desejo de renovação no eleitorado. Não por acaso, os dois primeiros colocados foram Fernando Collor, então com 40 anos, e Luiz Inácio Lula da Silva, de 44 anos. Ulysses Guimarães era um candidato experiente, mas aos 73 anos amargou um modesto sétimo lugar.

No ano que vem, caberá aos candidatos de oposição usar o discurso da renovação. É uma estratégia arriscada. Só pode ser usada com moderação e equilíbrio. Uma enquete publicada ontem pelo jornal “Valor Econômico” mostra que há algum espaço a ser explorado.

O levantamento foi realizado com 97 presidentes das 200 maiores empresas brasileiras. Apesar de 68% deles acharem que Dilma Rousseff será a reeleita, só 12% a apontam como a candidata predileta. O preferido dos empresários é Aécio Neves (66%). Eduardo Campos (11%) quase empata com Dilma.

O sentimento geral talvez pudesse ser traduzido assim: “Seria bom mudar. Só que Dilma Rousseff vai mesmo ganhar. Paciência”. As pesquisas de opinião hoje dão a petista como vencedora no primeiro turno em qualquer cenário.

Com o país estável e Dilma popular, resta à oposição convencer o eleitorado da necessidade de renovação. É difícil, quase impossível. Mas é um dos únicos discursos disponíveis.

Fernando Rodrigues é repórter em Brasília. Na Folha, foi editor de “Economia” (hoje “Mercado”), correspondente em Nova York, Washington e Tóquio. Recebeu quatro Prêmios Esso (1997, 2002, 2003 e 2006). Escreve quartas e sábados na versão impressa Página A2.

Redação

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