San Tiago Dantas fez a melhor análise da correlação de forças pré-golpe

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Fernando G Trindade

Comentário ao post A estratégia de Dilma e a síndrome de Jango

Wanderley Guilherme fez excelente análise à época (não tinha 30 anos de idade), prevendo o golpe, em texto que já foi publicado neste blog (“Quem dará o golpe no Brasil”), desconheço a análise de Carlos Franklin (o Nassif deveria dar a indicação bibliográfica). Carlos Franklin (também bem jovem a época) salvo engano era da ‘esquerda do PCB’ e atuava com Francisco Julião nas Ligas Camponesas. Ambos tinham o marxismo como referência teórica central.

Mas na minha opinião quem fez na época a melhor avaliação da correlação de forças naquele momento pré-golpe foi Santiago Dantas, que era da esquerda não marxista (Santiago veio do integralismo para a esquerda reformista e era Deputado Federal do PTB à época). Aliás, hoje sabemos que Santiago estava certo também ao não aderir ao marxismo.

Infelizmente Santiago (o principal formulador da política externa independente e não-alinhada) não teve o seu nome aprovado pelo Congresso para Primeiro-Ministro (em 1961) e pior, não conseguiu concretizar a recomposição da base de apoio ao Governo na Frente Única que tentou articular (uma composição que ia do PSD ao PCB), já nos idos de janeiro de 1964. Sua proposta foi boicotada pela esquerda do PTB e pela direita do PSD.

Foi Ministro das Relações Exteriores no primeiro Gabinete parlamentarista (1961/1962) quando o Brasil reatou relações com a URSS e teve atuação memorável na Conferência da OEA em Punta del Leste, enfrentando os EUA e rejeitando a expulsão de Cuba da OEA.

Foi também Ministro da Fazenda na retomada do Presidencialismo, entre janeiro e junho de 1963.

Santiago também foi candidato a Vice-Governador de Minas na ‘dobradinha’ PSD/PTB, quando Tancredo foi candidato a Governador (1960) perdendo para Magalhães Pinto em eleição disputada. Lamentavelmente  JK não apoiou Tancredo de fato e estimulou candidato dissidente do PSD, o que terminou por contribuir para derrotar Tancredo. Se Tancredo tivesse ganho aquela eleição, a história de 64 teria sido outra.

Do que conheço da história e memória da época, não tenho dúvidas que quem  anteviu com maior correção a possibilidade do golpe militar reacionário e tentou evitar o pior foi Santiago Dantas (e também Tancredo Neves, que defendeu o governo de Jango até o fim). Santiago na época já estava bem doente em razão de um câncer de pulmão. Cassado morreu meses depois do golpe.

É preciso recordar a memória da Santiago Dantas, cujas lições espero que a nossa Presidenta Dilma estude e reflita.

Enfim, sem alianças com o centro político a esquerda será isolada e derrotada, neste País no qual a herança do modo de produção escravista colonial ainda está aí, para quem quiser ver e o conservadorismo tem a força que tem.

“A escravidão permanecerá por muito tempo como a caracaterística nacional do Brasil”, escreveu Joaquim Nabuco, outro grande brasileiro com quem temos muito a aprender, dez anos após a chamada Abolição.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. Disserta o articulista:

    Disserta o articulista: “Lamentavelmente  JK não apoiou Tancredo de fato e estimulou candidato dissidente do PSD, o que terminou por contribuir para derrotar Tancredo”.

    O dissidente do PSD a que se refere o articulista foi JOSÉ RIBEIRO PENA, filiado ao PR de AÉCIO CUNHA, pai de AÉCIO NEVES e genro de Tancredo.

    Como se vê, essa família CUNHA prima pela TRAIÇÃO: AÉCIO PAI trai o sogro Tancredo; AÉCIO FILHO trai a memória do avô Tancredo, ao descambar para  o lado dos golpistas da direita.

     

  2. Tancredo, o que apunhalou as Diretas-Já pelas costas.

    Se Tancredo tivesse sido eleito governador de Minas em 1960, a História seria outra. Conta outra, companheiro. Figueiredo confessou que Tancredo era seu candidato nas indiretas de 1984. Se Tancredo tivesse sido eleito governador em 1960, provavelmente seria o primeiro presidente civil eleito pela Ditadura, como afinal aconteceu. Ainda há pessoas sérias que acreditam em Aécio, Serra, FHC, Irmãos Marinho, Eliane Cantanhêde, Miriam Leitão e outros menos cotados.

  3. Calma galera !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

    “Enfim, sem alianças com o centro político a esquerda será isolada e derrotada, neste País no qual a herança do modo de produção escravista colonial ainda está aí, para quem quiser ver e o conservadorismo tem a força que tem.”

    Sábias palavras de Fernando Trindade, que merecem serem refletidas profundamente.

    Sempre digo que não devemos virar a mesa, como querem alguns desde que assumimos o governo com Lula, e os mais radicais, que pensavam assim,saíram do partido e formaram outras legendas, embora alguns ainda permaneçam!

    Temos que transigir, negociar, dialogar, sem perder nosso horizonte e nossa identidade, mesmo porquê, todos os ganhos sociais até agora conquistados, têm ainda que serem regulamentados, pois basta uma virada, e vai tudo pro brejo !!!!

    A  politica, segundo o grande Presidente Kennedy, é a arte de transigir, e isto Lula fez muito bem !!!

    Se agora, no segundo mandato de Dilma formos ficar nesta retórica, nesta cobrança radical, e nos dividindo, não sei o que nos espera, pois isto é tudo que nossos adversários, para não dizer inimigos, querem !!!!!!

    Por isto faço um apelo – tenham bastante calma, pois o momento o exige !!!!! 

     

     

  4. união, sempre evitando dar

    união, sempre evitando dar munição pra direita.

    reconhecer a força da direita é imprescindível

    para entendermos a história brasileira.

    senão como entender esse conluio tucano-capital-grande mídia

    golpista que dificilmente

    sofre qualquer rvés na sua hegemonia?

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