Secretário de Direitos Humanos do Rio, pastor Ezequiel acredita em cura gay

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Jornal GGN – Pastor Ezequiel Teixeira, secretário de Direitos Humanos, não se contém ao responder as críticas de Cláudio Nascimento, coordenador do Rio Sem Homofobia, que afirma a incompatibilidade política e ideológica dos dois. Ezequiel diz que, apesar de acreditar plenamente na cura gay, como na cura do câncer e na cura da Aids, garante que não tem nenhuma intenção de adotar programas na Secretaria a favor da “cura”. O pastor atribui o fechamento de centros de assistência à população LGBT à crise no estado, mas diz que irá continuar com projeto Rio Sem Homofobia.

De O Globo

Secretário de Direitos Humanos do Rio diz acreditar na cura gay

Por Rafael Galdo

RIO – Em meio à crise financeira que atinge o estado, o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, pastor Ezequiel Teixeira, abre o verbo para atacar uma das principais bandeiras da própria pasta. Em entrevista para explicar as razões do fechamento de quatro centros de assistência à população LGBT e da suspensão do serviço de teleatendimento, ele discorre sobre sua posição contra o casamento homoafetivo. Afirma ainda acreditar na cura gay — o pastor compara a homossexualidade a doenças como Aids e câncer. E fala de suas posições como se respondesse à surpresa que elas causam nas pessoas pelo fato de ele ocupar o cargo de secretário da área. Considerado um sucesso desde que foi desenvolvido a partir de 2007, o projeto Rio Sem Homofobia, que está praticamente sem funcionar e já demitiu 78 pessoas desde janeiro, é subordinado à sua pasta.

— Poxa, o senhor crê na cura? Eu creio, plenamente. Eu não creio só na cura gay, não. Creio na cura do câncer, na cura da Aids… Sabe por quê? Porque eu sou fruto de um milagre de Deus também — compara o secretário, para, depois de ser questionado, rechaçar que considere a homossexualidade uma doença. — Mas creio que todo mundo pode receber uma transformação, uma mudança.

‘Os incomodados que se mudem’

Apesar da forma contundente com que fala sobre o assunto, ele nega que o fato de ser um dos fundadores da igreja evangélica Projeto Nova Vida e que seus valores religiosos influenciem suas ações na pasta. Deputado federal filiado ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), Ezequiel garante não ter a intenção de adotar na secretaria qualquer tipo de programa para a “cura gay”. Afirma que dará continuidade ao Rio Sem Homofobia e que tomará decisões de acordo com as orientações do governo estadual. Para ele, não há qualquer constrangimento pelo fato de ocupar a secretaria que tem, em seu guarda-chuva, a principal política LGBT do estado. Mas, ao responder a críticas feitas anteontem pelo coordenador do Rio Sem Homofobia, Claudio Nascimento, sobe o tom.

— Os incomodados que se mudem. Eu estou aqui e bem. Quem é o secretário? Se está desconforme com o secretário, o que vou fazer? Eu não o poderia ter exonerado? Eu exonerei várias pessoas… Estou tentando caminhar — afirma, antes de destacar que, ao ser escolhido para o cargo, suas posições pessoais já eram conhecidas. — Fui eleito com essas convicções. Fui convidado para estar aqui. E todos que me chamaram sabiam das minhas convicções. Até porque eu tenho convicção, mas respeito todos os outros que não têm a mesma que a minha.

O secretário diz também se sentir vítima de intolerância, por ser identificado apenas por sua trajetória como pastor. Ele chega a lembrar que “intolerância é crime no Brasil”. Anteontem, diante do fechamento dos quatro centros de Cidadania LGBT do estado e da interrupção do Disque Cidadania LGBT, Claudio Nascimento tinha apontado uma incompatibilidade política e ideológica entre o secretário e os objetivos do Rio Sem Homofobia.

Ezequiel atribui a interrupção dos serviços à crise no estado. Segundo ele, são cerca de 230 funcionários terceirizados da secretaria com salários atrasados, 78 deles do Rio Sem Homofobia, que ainda não receberam os pagamentos de setembro a dezembro, além do 13º. De acordo com o pastor, a situação deve começar a se regularizar a partir do fim deste mês.

Ainda não há prazo, porém, para a renovação do contrato com a Uerj pelo qual era feito, até o fim do ano passado, o pagamento dos técnicos do programa de combate à homofobia. O secretário afirma que um parecer da Procuradoria Geral do Estado apontou erros no documento, que foi reformulado e enviado para avaliação da reitoria da universidade.

Para 2016, Ezequiel prevê um cenário de dificuldades na secretaria, com redução do orçamento (de R$ 625 milhões ano passado para R$ 466 milhões). O Rio Sem Homofobia, porém, diz Ezequiel, terá mais recursos (de R$ 2,4 milhões para R$ 4,38 milhões). Ele ainda levanta suspeita de mau gerenciamento do dinheiro público no programa. E questiona, por exemplo, gastos de R$ 228 mil, ano passado, para a realização de uma cerimônia coletiva de casamento homoafetivo.

Declarações que provocaram a reação de Nascimento. Segundo o coordenador, ele segue no programa por um compromisso assumido com o governador Luiz Fernando Pezão. E diz que “os incomodados nem sempre devem se mudar, porque é necessário ficar para que algo mude”.

— A frase (do secretário) só mostra a dificuldade dele de lidar com as diferenças e contradições — afirma, rebatendo também a acusação de má gestão. — A cortina caiu. Isso só demonstra que, na verdade, ele estava esperando o momento para fazer esse tipo de luta política com golpe abaixo da cintura. Ao fazer esse ataque, o leão mostra os dentes.

Ao justificar suas ressalvas a Ezequiel na secretaria, Nascimento diz que leva em conta suas posições enquanto deputado.

— Ele se utilizou da atuação legislativa para impor valores religiosos.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

8 Comentários

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  1. Mirem-se no exemplo dos EUA.

    Foi com o trabalho paciente e árduo de militancia na sociedade civil que o movimento LGBT conseguiu ao longo de quase 4 décadas mudar a sociedade americana, onde hoje a maioria é a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo. E acabou por conquistar a vitória no Supremo daquele país sem pedir licença para nenhum governante. Sem esse trabalho de militancia na sociedade civil e autonomia do movimento diante de governos, O Rio sem homofobia e outras inciativas conquistadas pelo movimento – e não cedidas pelo governante de ocasião – acabam e a sociedade pouco se importa.

  2. Pezão exonera Ezequiel Teixeira, o pastor-secretário que diz …

    Pezão exonera Ezequiel Teixeira, o pastor-secretário que diz acreditar na ‘cura gay’
     

    Por: Berenice Seara e Fabiana Paiva 

    do Extra

    O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) acaba de exonerar o pastor Ezequiel Teixeira (PMB) da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos.

     

    Em seu lugar, será nomeado o atual secretário de Governo, o ex-presidente da Assembleia Legislativa Paulo Melo (PMDB). No lugar de Melo, entra o atual chefe de Gabinete de Pezão, Affonso Monnerat.

    Em dois meses à frente da pasta, Ezequiel deixou suas convicções religiosas prevalecerem. Esvaziou o programa Rio Homofobia e fechou quatro centros de assistência à população LGBT.

    Em entrevista publicada pelo jornal O Globo desta quarta-feira (17), Ezequiel disse acreditar na “cura gay” e subiu o tom ao responder críticas feitas pelo coordenador do Rio sem Homofobia, Claudio Nascimento.

    Ezequiel afirmou que os incomodados deviam se mudar, e se defendeu lembrando que “havia sido convidado” para estar à frente da pasta. E aqueles que o chamaram “sabiam se suas convicções”.

    Diante da repercussão da reportagem, o governador lamentou as declarações do seu secretário. Pezão disse ser “totalmente contrário às posições de Ezequiel”.

    O deputado federal, fundador da igreja evangélica Projeto Nova Vida, havia sido nomeado para a pasta no último dia 15 de dezembro, no lugar da economista Teresa Cosentino.

     

    Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/extra-extra/pezao-exonera-ezequiel-teixeira-pastor-secretario-que-diz-acreditar-na-cura-gay-18692236.html#ixzz40T3rNLvw

  3. quem acredita em cura gay?
    Não conheço ninguém intelegente que acredite numa sandice destas. É desconhecer completamente a natureza humana.

    As pessoas tem o direito de acreditarem no que quizerem mas deveriam parar de impor suas posições religiosas principalmente na esfera publica.

    No fundo essa gente pousa de democrata mas não o é.

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