As chances de segundo turno, por Marcos Coimbra

Sugerido por Támara Baranov

Aécio Neves e Eduardo Campos têm mais espaço para crescer do que José Serra e Marina Silva. Com eles, a chance de dois turnos fica maior

Por Marcos Coimbra

Da Carta Capital

Dilma

Na última pesquisa do Ibope, a presidenta Dilma chegou a 43%

Há cerca de três meses, os analistas da oposição mal continham seu entusiasmo. Ao olhar as pesquisas disponíveis em junho e julho, alegremente prognosticavam dificuldades para Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2014.

No ápice da fantasia, chegaram a prognosticar: a presidenta era “carta fora do baralho”. Que nunca se recuperaria do desgaste das manifestações e marchava para a derrota inexorável.

Os porta-vozes oposicionistas afobaram-se e decretaram prematuramente o fracasso de uma candidatura petista. Não foi a primeira vez. Em 2001, para nove entre dez, Lula jamais venceria, pois o “povo brasileiro” nunca aceitaria um presidente da República como ele.  Em 2005, pontificavam que o “mensalão” havia destroçado as chances da reeleição. Em 2009, apostavam no “erro” de Lula ao indicar Dilma Rousseff. Ela “não ia pegar”, afirmavam, e terminaria atrás de José Serra.

Não foi diferente neste ano. De tanto torcer pelo insucesso da presidenta, falaram bobagens. Agora, são obrigados a dar meia-volta. Com base nas pesquisas de novembro e dezembro, resta-lhes fazer contas para calcular a probabilidade de um segundo turno.

A partir da avaliação dos números atuais, o cenário mais provável é aquele no qual a vantagem da petista é maior. Perante o tucano Aécio Neves e o pessebista Eduardo Campos, ela teria votos suficientes para resolver a disputa no primeiro turno.

Daí o desejo quase unânime dos antigovernistas de que os dois tenham “bom senso” e cedam as vagas aos pesos-pesados de seus partidos. Não há pesquisa publicada sem o comentário de que, com José Serra e Marina Silva, a eleição ficaria mais competitiva e a possibilidade de um segundo turno aumentaria.

Apesar de parecer lógico, o raciocínio está errado. Marina e Serra são nomes mais conhecidos e, portanto, largam melhor. Mas não significa serem eles os candidatos que mais longe podem chegar. Ao contrário, sua performance de hoje está perto do “teto”, o máximo que poderiam alcançar na urna.

Aécio e Campos ainda têm espaço para crescer, mesmo que seus índices atuais tenham ultrapassado o “piso”. Com eles, a chance de um segundo turno, na verdade, é maior.

É uma hipótese admissível de acordo com os resultados dos levantamentos deste momento. O que não significa ser verdadeiro o pressuposto de que um segundo turno seria complicado para Dilma. Quem disse?

Na última pesquisa do Ibope, a presidenta chega a 43%. Aécio e Campos somam 21%, ante 36% de brancos, nulos e indecisos. Estes, em nenhum cenário, ficam abaixo de 27%. Ou seja, nem sequer quando se apresentam os nomes de Marina e Serra cai a menos de um quarto a proporção do eleitorado que não quer ou não consegue escolher um candidato. Em outras palavras: há 75% do eleitorado a ser distribuído entre quem vai disputar a eleição. Caso se aceite esta premissa, a chance de segundo turno aumentaria se o agregado, Aécio Neves e Campos, passasse de 37%. Não é impossível.

Se os prováveis nanicos (“encorajados” por tucanos e simpatizantes de Campos) alcançarem de 3 a 4 pontos porcentuais, se o mineiro e o pernambucano crescerem 6 pontos cada um, em média, teríamos o segundo turno. É uma probabilidade pequena (pois implica a queda de Dilma, que nada indica ser provável), mas existente.

Só quem pouco conhece a política brasileira acreditaria, no entanto, que, nesse hipotético segundo turno, haveria transferência integral dos votos dos candidatos derrotados para o oposicionista remanescente.

Se Campos não fosse para o segundo turno, apenas uma parcela de seus eleitores ficaria com o PSDB. Especialmente no Nordeste, onde seu desempenho tenderia a ser melhor, muitos optariam por Dilma, pelo apoio de Lula e por não restar um nordestino no páreo. Quanto aos verdes de Marina, somente a minoria é tucana em segunda opção.

Algo semelhante aconteceria se Aécio naufragasse no primeiro turno. Em Minas Gerais, onde teria parte expressiva da votação, muitos de seus eleitores admitem perfeitamente votar no PT. Não tivemos o “lulécio” (a combinação de votos em Lula e Aécio), em 2006, e o “dilmasia” (de Dilma com Anastasia), em 2010?

O segundo turno não é a hipótese mais provável, mas possível. Para as oposições, contudo, o problema é que ele não alteraria o favoritismo de Dilma.

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Redação

11 Comentários

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  1. Parece que será isso mesmo.

    Parece que será isso mesmo. Uma situação semelhante a 2010, mas sem mudanças.

    Seria interessante começar a falar dos estados, não?

    1. Boa ideia.No RS, acho que o

      Boa ideia.

      No RS, acho que o Tarso infelizmente não leva. Até agora não reelegemos nenhum governador e não parece que começará em 2014.

      A Ana Amélia tem a vantagem de ser oriunda do grupo de mídia RBS…o que implica em ser um rosto bem conhecido da população apesar de “novata” na política (o que pode ser vantagem em função do clima “apartidário” das manifestações recentes)…fora o fato “curioso” de já ter tido por aqui governador eleito que foi funcionário do grupo, então está longe de ser novidade jornalista na política gaúcha. 

      Além disso, ela tem bom trânsito no meio ruralista e o seu partido, PP, é forte no interior. E num eventual segundo turno, a tendência é quase todo mundo contra o Tarso, que não deve ter seus aliados tradicionais apoiando na largada.

      PDT vai de candidato próprio até por exigência do seu candidato ao Senado (também jornalista da RBS) que não concorreria se o partido desse apoio ao Tarso.

      PSB precisa de palanque para o Campos.

      E o PC do B…é de suspeitar que faça composição com a Ana Amélia, para retribuir o apoio que a Manuela recebeu na eleição para a prefeitura de Porto Alegre.

      Creio que o mais “emocionante” aqui vai ser a disputa pela vaga do Senado. O Simon segue indeciso se vai para mais uma ou passa o bastão, seja pela idade avançada como, quem sabe, para evitar uma derrota possível e mesmo provável, o que pode parecer impensável para quem não acompanha o cenário do RS. O jornalista que citei anteriormente, Lasier Martins, tem potencial e popularidade para destronar o “paladino do Mampituba para cima”. E não é claro quem o PT vai lançar, se é que tem um nome capaz de vencer contra esses 2.

      E se tem algo que pode fazer diferença para o Tarso é um vice de peso, como o que estaria buscando, o ex-senador Zambiasi do PTB, também jornalista do grupo RBS, com um perfil mais popular que a Ana Amélia e muito mais conhecido.

      Algumas fontes:

      http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=513913

      http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/politica/noticia/2013/12/pesquisa-methodus-ana-amelia-lidera-intencoes-de-voto-ao-governo-do-estado-4355171.html

      http://noticias.band.uol.com.br/cidades/rs/noticia/100000649238/Lasier-Martins-aparece-como-favorito-a-vaga-de-senador.html

      P.S.: O pessoal de SC poderia me informar se aí também rola essa migração de jornalistas do mesmo grupo de mídia para a política?

      1. Bom resumo.
        E, para não dizer

        Bom resumo.

        E, para não dizer que não falei das flores…

        Ana Amélia ou Tarso falam de medidas contra homofobia?

        Fazem declarações a respeito de LGBTs de modo geral? Prometem combate em escolas ou junto ao funcionalismo público?

        A lei do RS antihomofobia existe mas nunca foi regulamentada com multas e tal. Será?

        Quem seus amigos e conhecidos LGBT preferem?

        Pode parecer gozação eu estar falando disso, mas não é.

        LGBTs são estimados em 5%, quer seja no Texas, no Paquistão ou no Rio Grande do Sul…

        O estado tem boa reputação como inclusivo e Genro não vi criticado (muito elogiado também não)

        Em decisões apertadas, como as recentes dos EUA e França, LGBTs podem ajudar a decidir.

        E, por último, os colegas aqui querem que LGBTs se mobilizem politicamente, então tá, mobilização feita!

        x-x-x-x-x-x-x

        Não vou falar sob esses parâmetros para as eleições de SP. Soaria subversivo aqui… 😉

        1. O governo Tarso já tem um

          O governo Tarso já tem um trabalho claro nessa área, mesmo que num ritmo que não agrade totalmente o movimento LGBT. E não me parece que vai recuar ou pisar no freio.

          Já a Ana Amélia parece ter posições simpáticas ao movimento e já chegou ao ponto de repudiar o colega de partido, Bolsonaro, mas está dentro de um partido claramente conservador. Do tipo que vira a cara para a Manuela porque ela é comuna e tem saudade da Arena, então não acho que vai ser dali que vai sair confronto com o status quo.  

          Lembrando ainda que o RS tem suas peculiaridades “culturais”…

          http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2008/10/gays-em-ctgs-para-historiador-tradicionalismo-se-reproduz-fazendo-uso-da-intolerancia-2243584.html

          http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/noticia/2008/10/tradicionalistas-criticam-influencia-gay-nos-ctgs-2241296.html

          http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI52130-EI306,00-Capitao+Gay+e+agredido+em+desfile+farroupilha+no+RS.html

          Quem precisa dos evangélicos quanto tem algo nessa linha? Infelizmente ouso dizer que botar o assunto na campanha majoritária com algum destaque é suicídio político por aqui.

          1. Esse segundo link

            Esse segundo link (tradicionalistas…) merecia ser post de tão engraçado.

            Mas em 2008 até Obama e Marina Silva eram contra o Casamento Gay.

            Não evoluiu nada nestes 5 anos?

            (E, amigos petistas, por que Dilma é a única pré-candidata que ainda não se declarou a favor do Casamento Gay?)

          2. E desde quando

            E desde quando tradicionalismo, que é em essência um conservadorismo, combina com evolução?

            E é ainda pior por seu caráter de “reconstrução” da história e mitologia local, permitindo que se avance com a visão de mundo defendida, que é sacramentada pelo poder público e pela mídia do Estado.

            Não sei como acabou a história, mas faz alguns anos que rolou uma grande polêmica aqui no RS porque um cara quis entrar de brinco (que ja era socialmente aceito na sociedade “moderna”) num CTG.

            Esse pessoal defende a noção de família tradicional com mais ênfase que os religiosos até. São uma minoria, mas uma minoria barulhenta e que gostaria de ser uma maioria.

            Se tiver tempo, dá uma lida na Carta de Princípios, que segue igual desde 1961, eu ia colar aqui só os objetivos mais notáveis, mas achei difícil escolher entre tanta “pérola”:

            http://www.mtg.org.br/site/pag_cartadeprincipios.php

             

             

             

          3. Obrigado por comentar.Olha,

            Obrigado por comentar.

            Olha, se o ritmo não é o ideal, pelo menos Tarso Genro é o campeão (entre os petistas) de menções positivas nisso de pauta LGBT.

            Não por acaso é dos governadores do PT o melhor avaliado nas pesquisas com o público geral. E compare-se nisso com Agnelo.

            Alguns podem achar que é coincidência, mas não é. Só que como provar isso? Só com pesquisas qualitativas.

            Bom, pelo quadro que você pinta, o caminho será se algum candidato alternativo ganhar a simpatia de LGBTs e ajudar a empurrar para 2º turno.

             

          4. Uma coisa que eu gostaria de

            Uma coisa que eu gostaria de ver é alguma pesquisa mostrando o comportamento político dos LGBTs (e simpatizantes da causa). Ainda não está claro para mim quão determinante é o tema nas escolhas eleitorais.

      2. Ao Ed Doer

        Há anos que o Rio Grande do Sul é ingovernável, fruto da penúria nas contas públicas, visto que a quase totalidade do orçamento público está comprometido com juros da dívida e os gastos correntes. Discute-se muito a escolha para o governo, mas se olvida que o eventual ocupante somente terá discricionaridade sobre 3/4 % das receitas para investir. No mais, não passará de um “delegado” de Brasília, se tanto. 

         

        Tanto isto é verdade que desde Triches, cada um dos ocupantes do Piratini tem pior avaliação que se antecessor. Cada um deles”morre” politicamente após seu período de gestão. Tarso morrerá e chegará a vez da Ana Amélia. Como zangões, após o ápice, o cimo, morrem, O que é o Brito, o que é o Rigotto, o que é a Yeda?

         

        Quanto à influência da RBS, é somente a influência de um órgão de comunicação sobre uma população que se pensa ser diferenciada e que é apenas conservadora e medíocre. 

  2. Preparem o guarda-chuva!

    Bom, eu vou trabalhando aqui com meus botões com um quase certo segundo turno, até porque, sabemos que o pigão não vai dar descanso durante a copa. Todo e qualquer minimo problema que ocorra, sera colocado nas costas da presidente Dilma.  

    E num segundo turno, o ressentido de Pernambuco (parece que ha um batalhão desses), vai coligar seu PSB com o PSDB de Aécio ai, o mais esdruxulo, é que teremos um segundo turno mais movimentado que o primeiro. Não que Eduardo Campos, Marina, Aécio e o pig vão conseguir virar em cima do PT, não acredito numa vitoria dessa coligação para 2014, mas que sera bem movimentado, com dossiês voando em todas as direções, sera.

  3. Precisam contar com o total

    Precisam contar com o total desprendimento do Aécio e do Dudu, (que é inverídico, se fossem altruistas não estavam nessa briga de foice pra serem candidatos).

    Um terá que derrubar o outro para poder chegar num 2º turno. E aí o bicho pega.

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