Sérgio Fleury e a Irmandade, reduto dos torturadores da ditadura que até hoje se reúne e espalha medo, por Luis Nassif

Até pouco tempo atrás, a Irmandade continuava ativa, reunindo-se no Rio de Janeiro

No primeiro artigo (leia aqui), poupei o nome da namorada do delegado Sérgio Paranhos Fleury. Depois, pesquisando, descobri que a relação entre ambos é exposta na biografia do delegado, escrita pelo jornalista Percival de Souza. 

A namorada era Leonora, advogada, anarquista e irmã do jornalista Raimundo Pereira. Na correspondência entre ambos, entregue por Leonora a Percival, percebe-se um Fleury romântico. Fica-se sabendo, também, que a relação entre ambos foi de 1976 até a morte do delegado, em 1979.

Outro depoimento fundamental foi do ex-policial Cláudio Guerra, torturador, que depois se arrependeu e se tornou-se pastor evangélico. Sua esposa foi assassinada, possivelmente por represália, quando começou a narrar episódios do período.

Por trás do seu assassinato – e possivelmente do de Fleury – estava a temida “Irmandade” – um grupo composto pelos piores assassinos da ditadura, que arrecadavam as propinas de empresários para garantir seu futuro, quando terminasse a ditadura.

Guerra foi ouvido pelo vereador Gilberto Natalini, que foi ao Espírito Santo para colher seu depoimento. Guerra narrou a chacina da Lapa, na qual foram executadas todas as lideranças do PCB. E trouxe informações relevantes sobre a “Irmandade”.

“Sobre as quantias recebidas pela Irmandade, Guerra disse que “recebia por determinadas operações bônus em dinheiro”. As arrecadações, ele afirmou, vinham do Banco Mercantil do Estado de São Paulo e empresas como a Ultragás e a Folha de SP. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury”, observou. De acordo com ele, a Irmandade garantiu que até hoje antigos membros tivessem uma boa situação financeira”.

No depoimento, Guerra admitiu ter feito pelo menos três execuções em São Paulo, a pedido do SNI (Serviço Nacional de Investigações). 

“Claudio Guerra falou de Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que,  segundo ele, “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a Irmandade (entidade que financiava a atividade dos militares)”, acusou. Guerra também confirmou que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976″.

Até pouco tempo atrás, a Irmandade continuava ativa, reunindo-se na Igreja Santa Cruz dos Militares, no Rio de Janeiro. Um de seus membros, Major Curió, indagado pela juíza Solange Salgado – que tocava o caso do Araguaia – sobre a Irmandade, foi taxativo:

  • Não falo nada, porque se eu falar, morro eu e morre a senhora.
Luis Nassif

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  1. Sergio Fleury era um aprendiz, se comparado a Filinto Muller, torturador feroz e assassino frio, chefe da polícia do Rio de Janeiro, indicado e sustentado por Getúlio Vargas, o Pai dos Pobres, desde 1932 até 1945.

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