Transporte Rodoviário de Cargas: Brasil a reboque do mundo, por Paulo Gala e Fausto Oliveira

Brasil produzindo reboques pouco sofisticados para os caminhões europeus e norte-americanos altamente sofisticados.

Transporte Rodoviário de Cargas: Brasil a reboque do mundo

por Paulo Gala e Fausto Oliveira

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A 22ª edição do Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Cargas (Fenatran) em foi uma prova inconteste da distância tecnológica do Brasil em relação ao mundo desenvolvido. O setor automotivo é uma das maiores e mais sofisticadas indústrias do mundo. Não há país realmente pais desenvolvido sem ter participação consistente na produção de veículos e seus componentes (dentre os mais nobres: motores, transmissão e diferenciais; entre os menos nobres, as chamadas “autopeças”, como tanques, escapamento, discos de freio etc). A Fenatran mostrou com toda nitidez que o Brasil participa de maneira secundária desta indústria. Veja a lista de empresas produtoras de caminhões que expuseram na Fenatran 2019: Volkswagen (Alemanha), Mercedes-Benz (Alemanha), Scania (Suécia), Volvo (Suécia), Iveco (Itália), DAF (Holanda/EUA), Peugeot (França), JAC (China)

Poucas empresas são concentradoras de uma enorme fatia de um enorme mercado global que movimenta centenas de bilhões anualmente. Representando o Brasil, contudo, havia muitas empresas menores. Centenas de empresas nacionais fabricantes dos chamados “implementos rodoviários” se fizeram presentes à Fenatran. O que são os implementos? Caçambas, carretas, coletores de lixo, reboques. Em todos eles, a junção de tecnologias é reduzida. Portanto, o valor adicionado é menor, refletindo-se em menores divisas tanto para a empresa quanto para a economia nacional (quando se faz uma exportação).

Infelizmente, a realidade de muitos setores metal-mecânicos na indústria nacional bate no limite onde estão os implementos rodoviários. Uma junção de metalurgia, hidráulica e elétrica, a fim de fazer as chapas de aço se movimentarem sob o comando de uma instrumentação mais sofisticada. Como regra, esta instrumentação sofisticada não é produzida PELO país (embora as transnacionais aqui presentes as produzam NO país). O problema é grave pois sem uma base industrial metal-mecânica sofisticada é mais difícil manter (para não dizer aumentar) a base industrial nos demais setores. Se a oferta de máquinas e equipamentos no Brasil for inteiramente dominada por multinacionais, isso significará que toda a nossa infraestrutura e parque industrial serão ainda mais dependentes de bens de capital importados ou apenas maquilados aqui. Ou seja, nosso crescimento se tornaria um fator de aprofundamento do déficit financeiro e tecnológico. O retrato do que se viu na Fenatran vai exatamente neste caminho. Brasil produzindo reboques pouco sofisticados para os caminhões europeus e norte-americanos altamente sofisticados.

Já foi diferente

Nem sempre foi assim. A Fábrica Nacional de Motores (a popular Fenemê), criada em 1939 para produzir motores aeronáuticos, foi depois convertida em uma produtora de caminhões e automóveis. Mas graças ao presidente Eurico Gaspar Dutra, que sucedeu Getúlio Vargas, a Fenemê foi desmobilizada e em seguida acabou fagocitada pela italiana Isotta Fraschini. Mais tarde, por problemas financeiros nesta empresa, a Alfa Romeo concordou em transferis algumas tecnologias para a Fenemê, que assim viveu um período áureo em que produziu veículos pesados que chegaram a rodar. A nossa indústria automotiva nacional afinal não resistiu quando o governo militar a privatizou em 1968, vendendo-a numa negociação rumorosa à mesma Alfa Romeo (que na época era uma estatal italiana). Na Itália, a Fiat acabou comprando a Alfa Romeo e assim em 1977 a Fiat fechou a Fenemê. Tendo produzido cerca de 15 mil veículos no Brasil, a Fenemê foi substituída por uma inserção menor no segmento de transporte rodoviário de cargas. Uma em que nós ficamos com o reboque, e os desenvolvidos ficam com os motores.

Redação

4 Comentários

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  1. Sempre e sempre encontramos a figura grotesca do tal euricodutra no desmonte do nosso crédito de mais de 3 bilhões de dólares para com os estados unidos no final da segunda grande guerra. De lá para cá, vê-se, nada mudou na ideologia entreguista-negocista com que se formam os oficialescos tupiniquins: entregar, sempre e sempre, foi o discurso e a prática dos miliquentos.

  2. O atrazo do Brasil começa alguns passos antes: a predominância do transporte rodoviário. Um país como o nosso teria que dispor de um sistema logístico otimizado integrando cabotagem, portos, ferrovias, hidrovias, dutovias, estradas, armazéns, terminais multimodais, etc. Tudo em associação com uma política industrial e tecnologia nacional.
    Não será lotando nossas rodovias de traçado antiquado com treminhões a perder de vista, ainda que puxados por cavalos tecnologicamente avançados fabricados pelo Brasil, que conseguiremos eficiência, segurança, redução de custos e sustentabilidade.

  3. Até mesmo em carretos médio (os chamados trucks), onde poderíamos ser minimante mais engajados, o Brasil, pelo visto – pragmaticamente ou não – parece desprezar as suas potencialidades. No passado, por exemplo, tivemos uma Agrale potência gaúcha no setor, mas hoje em menor tamanho. Até um ex-todo poderoso ministro e ex-banqueiro, conhecido pela sua veste “mais desenvolvimentista” na equipe do plano Real, resolveu se engajar no setor, ao iniciar o engajamento no setor produtivo como representante de uma marca chinesa no Brasil.

  4. Ano Novo e continuamos a descobrir a RODA !!!!! “…Portanto, o valor adicionado é menor, refletindo-se em menores divisas tanto para a empresa quanto para a economia nacional…” Cachorro atrás do rabo. É sério que estamos decifrando o ANTICAPITALISMO DE ESTADO Ditatorial Caudilhista Absolutista Assassino Esquerdopata Fascista? Só levamos 9 décadas?! O 3.o maior Mercado de Caminhões no Mundo, fora nossas áreas de acesso na África, Ásia e Am. Latina, e não temos uma marca sequer de Caminhões? Ainda pagamos 3 vezes mais por Produto inferior que MultiNacionais Européias e NorteAmericanas oferecem em seus Países e Continente de origem? Isto sim que é Reserva de Mercado. Interessante que a maioria das Empresas de Implementos são basicamente e originalmente Brasileiras. Talvez este seja o real motivo de críticas. Nossa Doutrinação pelo AntiCapitalismo de Estado. Sozinho, o 4.o maior Mercado de Automóveis do planeta. E também não temos uma única marca nacional de automóveis.E por falar em AntiCapitalismo Caudilhista de Estado, quando Nossa s Industrias começaram a ser destruídas (como afirma a matéria)? Nas PRIVATARIAS ORIGINAIS dos Governos do fascista Getúlio Vargas, seguido pelo nazista Dutra e seu lacaio da República de Juiz de Fora, factóide do seu familiar Tancredo Neves, o “Paí” dos 50 anos em 5, Juscelino Kubscheck. Realmente 50 anos de Industrialização genuinamente brasileira, foram jogados no lixo em apenas 5 anos de seu Governo. O que poderia dar errado JK? Investimentos Estrangeiros a juros baixíssimos. Dinheiro barato dando ‘sopa’ pelo Mundo. É só fazer divida em dólar e dar o Estado, Empresas, Estatais e Território Brasileiros como Garantia. Abrir o Mercado atrasado, defasado mas ávido por novidades e tecnologia, para a chegada de Concorrência e Investimentos Internacionais que alavancará a Indústria Brasileira. O discurso não soa tão atual? Já ouviram falar das PRIVATARIAS de FHC? E agora com Paulo Guedes, achando que descobriu a pólvora? ‘Quem não conhece sua própria história, blá, blá, blá…..Pobre país rico. O problema é a industria brasileira de implementos tão defasada? Será que Nós entenderemos ou será preciso desenhar? Mas de muito fácil explicação.

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