Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Vivandeiras de salão, por Rui Daher

Texto de ‘fricção’ confeccionado em organdi pelos jornalistas Rui Daher, Nestor Gruppo e Regularte Pestana, patrocinado pelas Estampas Eucalol com apoio dos baralhos “Dirigindo não Jogue”.

por Rui Daher

Redação. 11 horas da manhã. Pestana chega afobado e me chama de lado. Parece não querer que Nestor, em repouso sobre a branda primeira página da Folha de São Paulo, ouça nossa conversa.

Berro:

– Pestana, de novo não! Nunca!!! Pense nas consequências para o blog.

– Calma, chefe. Já expliquei e ele entendeu. Disse que aguarda. Muito bonzinho. Ofereci a ele uma recompensa.

Volto a gritar:

– E lá temos bala para isso, Pestana.

– Psiu! Menções a armas de fogo, brancas, cor verde-oliva, se inevitáveis, devem ser feitas em voz baixa. Se possível, sussurros. Disfarce-as, criemos códigos internos. Se a esposa for lavar roupa suja, por exemplo, diga a ela nunca se referir a “enfrentar um tanque”. Um deles sempre poderá estar na escuta.

Nestor, acordado pelo tom alto, entra na conversa:

– Quem está na escuta? O Fidélix?

– Não. A considerar o que o Pestana está falando, nem nós iremos escuta-lo.

– De novo?

– É o que estou ponderando. A entrevista com o Levy foi marcada para a tarde deste 7 de setembro. Aí chega o Pestana, de volta da cobertura da parada militar para o BRD, dizendo que tem alguém furioso conosco e quer vir aqui nos alertar do risco que estamos correndo.

– Ué, mas que mal pode haver em cobrir um desfile militar? Se fosse o da Coreia do Norte, vá lá, o Jair e o Feliciano poderiam estranhar.

– Taí um país que é melhor não citar mais. Eles têm implicância com o gordinho estranho. Cuba também é bom evitar.

– Só penso na compensação que você ofereceu ao Levy. Sabe bem que não temos nenhum poder de fogo.

– Olha aí. De novo. Ele pode chegar a qualquer momento e nos pegar falando em poder de fogo. Caluda, Rui. A coisa tá e vai ficar mais feia. Procure no dicionário o significado do termo vivandeira.

– Não preciso procurar, eu conheço, mas qual a compensação?

– No dia da entrevista, o Levy poderá trazer junto a 28.128.

– Um novo modelo de metralha, para substituir a AK-47, Kalashnikov?

– Vai brincando, Nestor, vai. É o número da Lívia Fidélix, filha do Levy e candidata nas eleições de outubro. Perdeu para deputada estadual, e vai agora de vereadora.

Vou ao Google.

– Bonitinha, hein? Poderá ser compensador mesmo. Ela defendeu o pai quando, num debate de candidatos a presidente, a Luciana Genro voou na goela dele.

– Lembro. Para se expressar contrário à união de pessoas do mesmo sexo ele disse que “aparelho excretor não reproduz”.

– E com razão, Nestor.

– Sim, se especificasse reproduzir o quê.

Como nossos leitores sabem, a Redação do BRD ocupa parte da edícula onde está o GGN. Nem sempre, principalmente em domingos e dias feriados, é possível ouvir o som da campainha. Daí as trovoadas que ameaçavam derrubar a velha porta de madeira.

– Porra, estou lá fora há meia hora tocando a campainha, esmurrando a porta, chutando a bunda daquela bosta de cachorro, e ninguém para me atender. Que merda é essa?

Pestana, já se cagando:

– A Redação do BRD, competente e impoluto doutor coronel Jandir. Deixe-me apresentar-lhe o nosso chefe.

– Não precisa. Sem perder tempo, direto ao assunto. Vampará aí com esses artiguinhos de esquerda, manifestações subversivas, insinuações de golpe, quebradeira da garotada, restaurante de refugiados palestinos, o cacete.

Mais uma vez, o Nestor vem para nos ferrar:

– Só o cacete, coronel? O siri pode? Vou avisar o Aldir, ó Jandir. 

Rui Daher

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