Fernando Jorge versus Paulo Francis, por Jorge Alberto Benitz

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Fernando Jorge versus Paulo Francis

por Jorge Alberto Benitz

Fernando Jorge, no afã de denunciar Paulo Francis como plagiário no seu livro “Vida e Obra do Plagiário Paulo Francis”, Editora Geração, parte para o Vale Tudo, esquecendo até as regras mínimas de que é proibido dedo no olho, joelhada quando o outro lutador está com uma mão no chão, soco na nuca, etc…Em sua defesa poderia se arguir que ele avisa antecipadamente que sua critica não se pauta na objetividade, na imparcialidade. Dai que o resultado é uma desvitalização da critica ao tornar- se algo pessoal, um simulacro de uma briga de rua.

De outra parte, não se pode dizer que ele foi superficial. Ao contrário, seu trabalho de pesquisa é profundo. Profundo até dema is. Explico: Ao tentar demonstrar o plagio em Paulo Francis ele o rotula como plagiador devido ao uso de citações feitas por ele sem preocupação com nominar o criador, dando a entender que este se apropriou indevidamente de mesma. Como leitor de Paulo Francis, acho que ele até incorre frequentemente nesta pratica, porem, esta é uma coisa comum de ocorrer, principalmente, no jornalismo, onde não há um zelo igual ao existente na academia cujo rigor exige a nota explicativa a todo o momento em que a obra de alguem é citada. Ademais, como o próprio Fernando Jorge deveria saber, o jornalismo se pauta pela ligeireza e tal pecado, se pecado é, é um mal menor na área.

Outra faceta de sua critica que me chocou foi quando ele para “desvestir um santo” vestiu outros indevidamente de santo. Em vários momentos, ele para desconstruir Paulo Francis deu a condição de vestais ou jornalistas exemplares para companheiros jornalistas, provavelmente não desafetos, que de vestais e exemplares nada tem. Gente da pior espécie em termos de cultura e ética, com a única particularidade de não se chamarem Paulo Francis.

A despeito disso seu trabalho não é de todo ruim. Sua ira santa contra Paulo Francis é procedente quando vinda da indignação contra o racismo e a soberba de um jornalista que quando se bandeou para a direita pode enfim, dar vazão a todo um arsenal de preconceitos que até então pareciam represados. Para um bom observador, no entanto, estes preconceitos eram percebidos mesmo quando ele escrevia no Pasquim. Quando ele, ainda escrevendo para este jornal, dizia que intelectual não bebe cerveja, não gosta de carnaval e de futebol, ele, sub-repticiamente, já demonstrava seu horror ao brasileiro comum, ainda que se dissesse socialista trotskista e depois socialista fabiano. Quando virou a casaca pode enfim “soltar a franga”, i nclusive, criando um estilo de jornalismo iconoclasta, difamador, de direita que foi seguido por Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor, etc…. tanto no jornalismo falado, escrito e televisivo. Escrevi sobre isso em meu artigo publicado no Observatório da Imprensa.

Ao ir fundo na pesquisa, ele teve o mérito de trazer a tona os podres de Paulo Francis como o quanto ele era um “chutador” em cultura, como ele tratou mal por puro racismo ao motorista que depois lhe deu uma surra merecida; suas criticas sacanas, que visavam apenas atingir pessoalmente desafetos. O que não veio à tona foi às causas que o levaram a virar a casaca. Claro, seria difícil elucidar as razões da mudança ideológica para a direita visto que ele não deixou depoimentos explícitos acerca disso. Também, não serve como esclarecimento acerca da sua conversão ideológica o dito pelo biografo Daniel Pizza ao afirmar que a razão desta foi ele ter madurecido. Explicação pífia que depõe mais contra quem faz este tipo de avaliação que ao biografado. Portanto, o que faltou, considerando que o seu estudo foi profundo, é elucubrar, ainda que de modo tateante, estas causas, aproveitando o ter se debruçado tanto tempo sobre a vida do personagem tão exaustivamente investigado. Quando se deu esta transformação? A virada de casaca ideológica se deu quando ele começou a escrever na FSP ou quando foi para a Globo?

O que perpassa em todo o livro é que não há nada de valor nos escritos de Paulo Francis. Ouso discordar do autor. Embora ele mereça a pecha de usar erroneamente citações, trocando autores e muitas vezes se apropriando de ditos de outros, ele tinha durante o período do Pasquim, principalmente, um estilo demolidor, galhofeiro, iconoclasta e, por que não?, inovador. Estilo que derrubou muitos mitos caquéticos ainda existentes e reavivou deste modo o jornalismo por demais formalista e tradicional hegemônico até então. Seu estilo assumia e, ao mesmo tempo, era criador do espirito combativo e rebelde do jornal. Colocar isso para baixo do tapete não condiz com a ideia de analise séria da obra de Paulo Francis. Mesmo quando já de direita, ele ainda continuou dono de um estilo e de uma ideologia que podíamos cont estar, mas continuava marcante. Eu, por exemplo, gostaria que ele continuasse sendo um militante de esquerda ou, no mínimo, republicano. Acho que contribuiria muito se isso tivesse ocorrido. Ele, independente da ideologia, era um jornalista que sabia se comunicar. Foi um dos poucos que passou para a televisão sem perder consistência e carisma. Embora, quando virou a casaca, sua atuação e, principalmente, suas ideias fossem contestáveis ele continuava sabendo se comunicar com o seu publico, inclusive, levando para a direita muitos deles.

O quadro pintado por Fernando Jorge tem o mérito de se contrapor a uma quietude e reverencia, que às vezes nem muda é, em torno de Paulo Francis. Tem muita gente de esquerda, em especial, amigos dele, que procuram maquiar sua biografia se reportando ao período do Pasquim apenas e omitindo o seu “lado Dark” onde ele se torna o jornalista preferido da direita, frequentador como palestrante dos Institutos de Herdeiros, eufemisticamente chamados de Institutos Liberais, criador de um estilo que depois foi seguido por muitos “formadores de opinião” de direita com um latifúndio de tempo na imprensa escrita, falada e televisionada dos coronéis midiáticos.

O incrível e lamentável é que a crítica de Fernando Jorge não tem esta pegada. Sua crítica é sobre ele ser um plagiador. Daí pecar ao fazer uma crítica menor que não entra neste aspecto muito mais revelador e importante do papel de Paulo Francis no jornalismo brasileiro que é o de alguém que ao migrar para a direita levou junto um estilo iconoclasta, galhofeiro, difamador e inovador que se justificava na luta contra a ditadura e que depois virou escola, o Método Paulo Francis, como bem denominou Bernardo Kucinski em seu excelente artigo, este sim uma critica consistente e seria de Paulo Francis,  que leva este nome.

Método que redundou ao fim e ao cabo neste maniqueísmo ideológico de direita onde desfilam gerações de “formadores de opinião” a começar por Arnaldo Jabor, Diogo Mainardi e seguir degradando até ao ponto de resultar em Kim Kataguiri, Lobão, etc… Em síntese atendendo o mesmo primado no caso do jornalismo no vaticinado por Ulysses Guimarães para a política quando interrogado acerca da qualidade do legislativo brasileiro “ “se essa legislatura é ruim, espere a próxima”.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. O autor escreve com a bílis,

    O autor escreve com a bílis, muitas vezes é injusto, outras tantas quer demonstrar erudição (que não tem, diga-se), as vezes é desonesto e em muitos momentos é repetitivo e cansativo.

    No todo o livro é muito ruim, perfeitamente dispensável. O autor, na ânsia de destilar seu ódio contra Paulo Francis, se perde e acaba produzindo um livro inútil que poderia ter se tornado um clássico. Aliás, em entrevista, ele mesmo admitiu que usou o ódio para escrever o livro…

    Pra terminar o autor tem outros dois livros muito ruins: A Academia do Fardão e da Confusão e O Grande Líder.

    Nenhum vale a pena.

     

    1. Artigo Fernando Jorge versus Paulo Francis

      E isso que tento dizer com outras palavras mas você conseguiu com mais clareza quando diz ” O autor, na ânsia de destilar seu ódio contra Paulo Francis, se perde e acaba produzindo um livro inútil que poderia ter se tornado um clássico.”

      Obrigado pela leitura e pelo comentário

      abraços

      Jorge Alberto Benitz

  2. ‘Guia politicamente incorreto da direita brasileira”

    Só tenho que dar parabéns ao autor que soube muito bem captar o espírito do momento no Brasil.

    Sinceramente, só uma pessoa inteiramente sem visão criticaria o autor por escrever “com ódio”.

    A DIREITA ESTÁ REESCREVENDO A HISTÓRIA E A ESQUERDA CONTINUA “REPUBLICANA”. Livros como “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” ou os “Guias politicamente Incorretos” são um ataque frontal e desonesto à esquerda brasileira.

    O pior é que não existe necessidade de recorrer à “desonestidade” para desconstruir o discurso da direita… era só conta a história real que aconteceu. Uma análise do papel da Globo, dos bancos, dos empresários brasileiros, os grandes nomes da direita, os generais…nenhum deles resiste a uma rápida pesquisa… um bando de canalhas!

    Os autores de esquerda tem um árduo e duro processo pela frente: DESMONTAR TODA ESSA PSEUDO-IDEOLOGIA DE DIREITA QUE SE FORMOU NO PAÍS! Pessoas com Doutorado hoje em dia acreditam que Nazismo é de esquerda e que o liberalismo total é a solução de todos os problemas. Desconhecem completamente a formação do país e estão à mercê de teorias conspiratórias de Olavo de Carvalho.

    Nos próximos anos eu vejo como única saída a adoção de uma postura muito mais ofensiva da esquerda.

    1. Artigo Fernando Jorge versus Paulo Francis

      Caro rei! Concordo que é dificil escrever sem indignação nos dias de hoje, mas escrever motivado pelo ódio é outra coisa. Você entra no (des)espírito dos barbaros de direita que são melhores que nos neste quesito. 

      abraços

      Jorge Alberto Benitz

  3. De fato, o livro do Fernando

    De fato, o livro do Fernando Jorge é ruim, escrito com a bílis.

    Isso não isenta Paulo Francis de ser desmascarado como pseudointelectual.

    Não sei se ele é plagiário — alguém que se apropria de argumentos alheios como se fossem seus — mas a desonestidade intelectual com que tentava disfarçar sua ignorância sobre diversos assuntos — da história à ciência e a arte — é fato.

    Assim de memória me lembro de duas barrigas clássicas de Francis: uma em que discorria sobre a estética das mulheres do Jurássico (!) ao comentar umas peças arqueológicas de figuras feminias, e outra em que relatava que o almirante japonês Isoroku Yamamoto (morto em 1943) foi convidado ou compareceu à estreia do filme “Tora! Tora! Tora”, realizado em 1970.

    A “cultura” de Francis era aparentemente fundamentada em orelhas de livros que ele ou nunca leu, ou nunca entendeu.

    Seus dignos sucessores “intelectuais” são o Mainardi e o Merval Pereira.

    1. Artigo Fernando Jorge versus Paulo Francis

      Zephyr!

      Mais concordo que disconcordo contigo. Temos apenas discordancias de grau. Eu, diferente de ti, acho que ele tinha sacadas geniais,principamente, quando trabalhava no Pasquim.

       

      abraços

      Jorge Alberto benitz

  4. Fernando Jorge escreveu o

    Fernando Jorge escreveu o livro com raiva, sim. 

    E daí?

    Li o livro e a documentação sobre os plágios e as enganações do picareta Francis é muito bem exposta. 

    Francis nunca foi um intelectual, não escrevia bem e suas opiniões eram superficiais, de um leitor de orelha de livros. 

    Um picareta, em suma. Fez sucesso explorando o complexo de vira-lata dos brazucas.

    Para saber disso, não é preciso ler o livro do Fernando Jorge. 

    Ainda que o livro ajude, sim, a desmascarar o ex-comunista.

  5. Uma lembrança do Fernando Jorge

    Cruzei duas vezes na vida com o escritor Fernando Jorge. Coincidentemente em duas livrarias; uma na Barão de Itapetininga, centro de São Paulo, e outra num sebo próximo ao Largo 13, em Santo Amaro. Nessa oportunidade ousei abordá-lo e de forma amistosa tentei puxar conversa comentando ter lido seu livro “Cala a Boca Jornalista”. Ah, se arrependimento matasse!

    Devia estar especialmente mal humorado naquele dia pois repeliu-me sem cerimonias e inexplicável rispidez. Fiquei indignado com a grosseria mas não protestei. Afastei-me dele e fui ver livros noutro corredor da loja.

    Arrependido, imagino, Fernando Jorge seguiu-me, tocou no meu braço e perguntou-me sorrindo: e que livro mais de minha autoria você conhece? Disse-lhe francamente que ficara chateado e não estava mais afim de conversar. Entretanto, polidamente acrescentei que também lera sua catilinária sobre as citações e plagios de Paulo Francis.

    Agradeceu-me, desculpou-se e pediu meu nome e endereço. Anotou num cartão de visitas e alertou-me para aguardar uma surpresa que por certo aplacaria o mal estar daquele “desencontro”.

    Após umas 2 ou 3 semanas me bate à porta um agente dos correios. Entregou-me dois volumes grossos e cuidadosamente embalados. Tratavam das biografias de Santos Dumont e Paulo Setúbal. Para completar continham dedicatórias muito simpáticas: “Para o ócio inteligente e cultura do meu amigo….”….. o meu nome, a data e a assinatura caprichada e bonita do Fernando Jorge.

    Esses livros repousam há anos e anos na minha estante. Não envelhecem. Só amarelam lentamente.

     

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    1. Artigo Fernando Jorge versus Paulo Francis

      Wilson Cajurú. Gracias pela leitura e pelo depoimento. Este tipo de contato com alguem que você espera que no minimo seja cordial marca qualquer um. Mesmo que depois ele tente “limpar a barra” fica dificil se desvencilhar daquela primeira impressão, como você bem demonstra.

      Sobre a obra dele só conheço esta que escrevi sobre. O Nirlando Beirão disse na CartaCapital que o livro sobre Santos Dumont é uma boa biografia. Como não é um desafeto acho que o estilo foi outro. 

      abraços

      Jorge Alberto Benitz

  6. Artigo Fernando Jorge versus Paulo Francis

    Marcos K! Obrigado pela leitura e pelo comentario. E tentei dizer isso que você conseguiu com outras palavras “O autor, na ânsia de destilar seu ódio contra Paulo Francis, se perde e acaba produzindo um livro inútil que poderia ter se tornado um clássico.”

     

    abraços

    Jorge Alberto Benitz

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