Xadrez dos desgastes sucessivos de Bolsonaro, por Luis Nassif

Peça 1 – a crise do BNDES

Crise no BNDES está apenas começando, o quadro permanente do banco resolveu resistir ao desmonte, há lideranças fortes e, principalmente, a governança do banco, impedindo as aventuras do grupo de amigos de Eduardo Bolsonaro que se apossou do banco. O primeiro que decidiu atropelar as normas do banco sentiu os riscos de ser denunciado e pediu licença. O jogo deve esquentar nos próximos meses.

Peça 2 – a crise do Itamarati

O Itamarati está prestes a convalidar a maior gafe da história diplomática do país: o Brasil abrir mão do status de nação emergente na OMC (Organização Mundial do Comércio).

O status diferenciado dá uma série de vantagens aos países em desenvolvimento, cerca de 40 países, dos 164 membros da OMC. Eles podem recorrer à “cláusula de habilitação”, que permite vantagens nas negociações comerciais com outros países.

Uma delas é o Acordo Sobre Salvaguardas no qual os países em desenvolvimento podem ser isentos das salvaguardas aplicadas por parceiros comerciais. No Acordo de Agricultura, permite-se porcentagem maior de apoio à produção, sem as limitações normais da OMC. Com todo seu potencial econômico, a China tem status de país em desenvolvimento e não pretende abrir mão disso.

O Itamarati está esquivo em admitir se o país abriu mão do status de emergente na OMC. A promessa foi feito a Donald Trump pelo inacreditável Jair Bolsonaro, em troca da possibilidade de fazer declarações ao pé do ouvido do presidente americano e da falsa promessa de apoiar a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), uma entrada que implica um conjunto de compromissos adicionais, limitando ainda mais as políticas de autodefesa econômica.

Se o acordo for aprovado, a diplomacia brasileira terá caído no conto do vigário de um vigarista notório, Trump, conhecido mundialmente, no campo dos negócios, pelas vigarices e quebra de compromissos. E a defesa do Brasil ficou nas mãos de um perfeito imbecil latino-americano, Bolsonaro e família.  Haverá prejuízos de monta para as exportações, como mostramos no artigo sobre os impactos para a soja brasileira do acordo China-Estados Unidos. Esses prejuízos serão ampliados com o comprometimento do acordo com a União Europeia, em razão da irresponsabilidade ambiental do governo.

Peça 3 – a briga no círculo bolsonarista

Explodiu uma mega briga dentro do círculo bolsonarista, no PSL, nas tropas das redes sociais, os olavetes e os lavajatistas, disputando dinheiro e cargos pelo caminho.

É curiosa a expansão dos olavetes. Na matéria do Crusoé sobre as milícias digitais, descobre-se que um dos financiadores é Otavio Fakhoury, filho do Oscar Fakhoury, já falecido, presidente do Banco Mercantil de Descontos, da familia Zarzur. Zarzur pelo lado materno, Oscar estava na presidência do banco, quando foi liquidado pelo Banco Central por irregularidades nas operações de ARO (Adiantamento de Receitas Orçamentárias), montada com estados e municípios. Dora, viúva de Oscar, tornou-se evangélica fanática quando o marido ainda era vivo. Mas chama a atenção de amigos que Otávio tenha se transformado em financiador de uma turma da pesada.

De qualquer modo, esse esfacelamento da aliança está produzindo ruídos diários na base bolsonarista, dificultando ainda mais alianças políticas no Congresso.

Peça 4 – a rebelião dos sargentos

Em todos os momentos da história, a intervenção das Forças Armadas se dava no momento em que a politização chegava nos sargentos.

As manifestações dos sargentos da Polícia Militar, saudando o “mito” Bolsonaro, o aumento da letalidade, as investidas de PMs sobre vereadora do PT, tudo isso converge para um protagonismo cada vez mais letal e explícito das Polícias Militares – que poderá chegar às bases do Exército.

Esse quadro tende a se agravar, colocando alguns condimentos a mais no caldeirão do diabo do bolsonarismo.

Peça 5 – os avanços nas investigações

O conjunto de desgastes apontados nas peças anteriores precisam ser vistas no conjunto. Nenhum deles individualmente derruba Bolsonaro. É a soma deles, o desgaste progressivo da popularidade de Bolsonaro que será a espoleta a deflagrar sua saída do governo.

Lentamente, avançam as investigações sobre os Bolsonaro e sobre a morte de Marielle Franco. Aliás, a retaliação da EBC contra o editor que permitiu alguns segundos de imagem de Marielle, mostram que o caso é um nervo exposto, que bate diretamente nos Bolsonaros.

Há duas hipóteses para a decisão do general do exército Luiz Carlos Pereira Gomes, presidente da EBC, em proibir a veiculação da imagem de Marielle.

A hipótese central é que pretende poupar os assassinos. Mas se o caso estivesse restrito às milícias e ao baixo clero político do Rio de Janeiro, haveria motivo para medidas drásticas de censura? É evidente que não. O general procura preservar pessoas muito mais influentes.

A descoberta de que os primeiros vídeos identificando os assassinos foram descartadas pela Polícia Civil mostra o avanço das investigações.

Na hora em que o desgaste de Bolsonaro estiver mais aceso, há um conjunto enorme de fatos a justificar o impeachment, não meras jogadas contábeis, mas crimes políticos da mais alta gravidade.

 

Luis Nassif

14 Comentários

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  1. Há total acerto na análise do quadro geral e dois erros de interpretação no varejo.
    Conheço com alguma profundidade o funcionamento do BNDES, sua cultura corporativa e seus “lideres”. De onde nada se espera nada vem. Boa parte do corpo técnico de há muito comprou a historinha do mercado, private is good, public is bad, but us. Tem horror de Lula, Dilma e do PT, marchou com o resto dos coxinhas pelo golpe, pelo fora Dilma, fora PT e por Lula preso. Estão dormindo na cama que arrumaram. Exatamente o mesmo aplica-se aos oficiais de chancelaria no Itamarati. Tive contato com alguns em embaixadas brasileiras quando, em negócios no exterior, busquei ajuda para resolver questões burocráticas, como por exemplo, conseguir um visto de trabalho para um engenheiro chinês de uma empresa parceira ou para tentar marcar uma agenda com uma autoridade francesa. A arrogância e a polida falta de interesse marcaram o comportamento de todos. São uns almofadinhas, se é que esse termos ainda é usado. Estão pagando pelo pecados.
    No que se refere ao BNDES, ao contrário de mim quem, aqui mesmo no GGN, postei diversos comentários defendendo o Banco e sua integridade, nunca tiveram o hombridade, a decência de vir a público fazer o mesmo. Inclusive, na defesa dos colegas humilhados naquela conhecida investida sem pé-nem-cabeça sobre o corpo funcional do BNDES.
    Considero-os uns canalhas, por ação ou omissão. As exceções que houver, servem como de praxe, para confirmar a regra.

  2. ……LA VAI O BRASIL DESCENDO A LADEIRA – i : o nosso país sendo transformado num grande esgoto a céu aberto : o Haiti é aqui…

    1- Petroleiras fazem festa no leilão do pre sal

    2- O óleo que poluiu as praias do Nordeste é da Shell

    3- Embraer sendo transferida para os EUA prepara demissões de milhares de trabalhadores : mais Uber na praça…

    http://www.instagram.com/spin.mensario3

  3. Resultado: crise generalizada com perdas generalizadas.
    E, ano passado, quando se tentava avisar, não tinha Cristo que fizesse as pessoas entenderem o perigo de eleger o Capitão.
    Agora o resultado taí. A burrice tem um preço. No caso do Brasil, talvez irreversível… Mas é o retrato de um país que odeia os livros e ama a ignorância mais do que tudo na vida….

  4. Acontece que a parte das investigações, alem de estarem lentas demais, vem sofrendo muitos reveses.
    Se a justiça em todos os níveis cumprissem o que lhes ordena a constituição, o fim deste governo já teria ocorrido.
    Eu só vejo uma única saída para o fim deste governo, e uma forma muito dolorida para todos principalmente para os menos favorecidos que foram quem elegeu Bolsonsro.
    Só deteorização, econômica e social além da segurança pública, não dando nenhuma garantia a população e concomitantemente o crescimento do poder das milícias.
    quando tudo isto ocorrer e desembocar numa guerra civil. Fora disto não temos saída.

  5. Ontem à noite num programa sobre politica na France 5 (C Politique), em que se abordava a questão do meio ambiente e do desflorestamento na região amazônica, eles mostraram uma reportagem em Rondônia sobre o combate da população indigena à invasão dos fazendeiros e, em seguida, foram à um programa de radio em que o apresentador afirma que não ha nada de mais com essas queimadas e pergunta ao publico o que eles acham do presidente da França (o qual ele não sabe o nome e alguém da produção diz a ele) de intrometer-se na questão das queimadas e da Amazônia. Foi um festival de abobrinhas. Enfim, um filosofo presente na mesa de debates disse que infelizmente não seria mais possivel não dizer a realidades: Bolsonaro é um estupido, tem um turba que o segue e é mal intencionado. Jamais havia ouvido alguém na França chamar um presidente brasileiro de estupido.

  6. -> Há duas hipóteses para a decisão do general do exército Luiz Carlos Pereira Gomes, presidente da EBC, em proibir a veiculação da imagem de Marielle.

    repito: não importa nossa idade, não importa quem temos sido, não importa nossa expectativa, a vida de cada um de nós só vai adquirir seu pleno sentido a partir de agora.

    Bolsonaro não vai cair de maduro. vai apodrecer de pé. e junto com ele, todos nós iremos sucumbir na degradação de tudo aquilo que poderíamos vir a ser, mas nos recusamos a assumir como nosso destino.

    Bolsonaro não é apenas Biolsonaro. Bolsonaro é a OBAN rediviva em pleno Palácio do Planalto. o pacto diabólico entre o grande empresariado e os Porões da Ditadura.

    não há do que se assombrar. nenhuma surpresa. sempre foi assim na História do Brasil. somente nós, nosotros, podemos alterar este curso maldito.

    sabe aquele futuro que combinamos? a história não era prá ter sido esta…

    precisamos descarnar fibra por fibra cada um das ilusões. até chegarmos em nossa ossatura pura. só nos livrando de toda carne, já cadáver, vamos readquirir um novo corpo.

    para o Brasil, só restam duas alternativas:

    – ou explode como o Equador;

    – ou se suicida: um suicídio em vida, sem a morte.

    façam sua escolha…
    .

    1. pela covardia e bundamolismo não cometeremos suicídio nem faremos revolução. Somos covardes demais para os dois casos.
      Creio que morreremos de inanição ou “desídia moral”.

      1. -> Somos covardes demais para os dois casos.

        caro cara-pálida,

        não somos um povo de frouxos. ao contrário, nossa História é repleta de sublevações e insurreições.

        muitas vezes estas chegam até a ser expurgada da historiografia oficial. como a Revolta de Carrancas e o maior quilombo brasileiro, o do Campo Grande (maior do que Palmares). ambos ocorridos no Sul de Minas.

        frouxas tem sido nossas lideranças:

        – Getúlio preferiu dar um tiro no próprio peito;
        – Jango fugiu sem nunca ter lutado, nem em 1961 e muito menos em 1964, para acabar morrendo de desgosto;
        – Dilma desceu espontaneamente a rampa da Planalto;
        – Lula se entregou voluntariamente.

        veja como se os equatorianos dependessem apenas do “progressista” Rafael Correa jamais teriam se levantado, mas ao menos este teve a integridade do exílio político e de convocar o povo às ruas.
        .

  7. O problema não está restrito ao Brasil.
    Nosso país é só uma peça neste quebra-cabeças onde parece pouco importar as atitudes dos governantes de plantão desde que os verdadeiros poderosos do mundo ganhem.
    O problema, que essa gente parece não entender, é que essa política acumulativo está rapidamente nos encaminhando para a idade média e colocando-nos, juntamente com eles, frente-a-frente com uma peste negra de resultados devastadores para a humanidade.

  8. Tanto cá como lá a elite trabalha fortemente para manter o status quo e o povaréu no cabresto…

    Vejam que delícia….os ig-nobeis preferiram nomear teóricos sobre a fome em detrimento de quem realmente trabalha para minimizar a fome no mundo….ig-nobeis, por muito tempo, um senhor extraordinário, chamado Betinho, estava zanzando por aí, colocando em prática o que esses míseros teóricos colocaram em palavras…….sobrou Lula ….vão esperar que ele escreva um livro….de mil paginas, pra informar que a fome é uma coisa ruim???

  9. Bolsonaro e alguns ministros abestados do seu desgoverno têm a função principal de, internamente, distrair a sociedade. O mais urgente, urgentíssimo mesmo, é impedir o banqueiro especulador Paulo Guedes de dilapidar o patrimônio público, assalto que não terá volta. A retirada dos direitos dos trabalhadores, outro lado do crime contra o país, poderá ser revertida em governo futuro.

  10. Nassif,
    Esta quadrilha ainda está onde está, ou seja, existe um sério erro quando se permite que verdadeiros energúmenos tomem inúmeras atitudes inteiramente absurdas, atitudes sem pé nem cabeça que atingem diretamente a milhões de brasileiros.
    A reforma trabalhista e a tal da reforma da Previdência são dois excelentes exemplos de como se prejudicar milhões de forma rápida enquanto se livra a cara do andar de cima, uma vergonha.
    Os da quadrilha são o estereótipo daqueles que passam o dia bebendo uma cerveja no boteco da esquina, de bermuda e sandália havaiana no pé e, vez por outra, pendurando a conta junto ao seu joaquim prá pagar no dia em que receberem o salário ou a grana do próximo biscate. Gente excessivamente rasteira, ao ponto de conseguirem criar caso com o Papa Francisco.

  11. A dúvida é se com este aparelhamento abrangente do Executivo, além de apoio bobolar, digo popular de bozzominions e anti-petistas, bancada ruralista, bancada evangélica, bancada da bala / miliciana, policiais, procuradores e juízes político-corruptos-bandidos, miRdia (mesmo a Globo e a Folha têm Bolsonaro como inimigo pessoal, mas apoiam a politica econômica arrasa-BraZil do seu poste Ipiranga) e militares.
    Como bem dito acima, um crime farsesco contábil foi suficiente para uma fácil derrubada golpista de uma presidente RE (eu disse RE) eleita democraticamente.
    Os crimes de (ir)responsabilidade do mitosco presidente adolinquente já são tantos em tão pouco tempo (diplomacia, meio ambiente, Itaipu, apoio miliciano, prconceitos inconstitucionais, disseminações fakes e irresponsáveis em redes sociais, fraudes eleitorais etc.) que fico perplexo de não haver nada para cassar seu mandato.
    Melhor a vergonha de derrubar 2 presidentes seguidos do que não sobrar Brasil para ter vergonha.
    A outra ponta da dúvida é se, comendo pelas bordas, preparam um golpe “cívil-militar”.
    Lembrando que em 64, o apoio popular medido (mas não o publicado) era contra.

    PS: Recebi hoje por Wsapp um vídeo medíocre-estarrecedor de um “Hino à Bolsonaro” que me lembrou o culto à Hitler e não à Alemanha, nos anos 1930/40.
    “Heil Bozzo”?
    Só resta torcer por “”Salve a gente brasileira!

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