50 dias de COVID-19 no Brasil: o pior da crise sanitária está por vir, por Greiner Costa

Dada a entrada do vírus no Brasil por pessoas de alta renda, o espalhamento do vírus inicialmente se deu pontualmente e em setores de menor concentração populacional, o que reduziu o impacto do espalhamento inicial.

Agência Brasil

50 dias de COVID-19 no Brasil: o pior da crise sanitária está por vir

por Greiner Costa

As informações a seguir foram organizadas após a atualização oficial de 21/04, 18:30.

O quadro a seguir demonstra que nos últimos 15 dias a taxa média de crescimento diário de casos confirmados de COVI-19 é de 8,9% (estava em 16% em 10/04), um crescimento que não pode ser informado como exponencial. Como temos visto no noticiário. Ainda não é.

Os gráficos abaixo confirmam esse nível de crescimento relativamente moderado tomando como base de análise o número de casos confirmados nos últimos 50 dias no Brasil.

Algumas hipóteses sobre o que poderá ocorrer até o final de maio no Brasil podem ser apontadas, a partir dos inúmeros indícios, estudos e notícias veiculadas recentemente nos portais de informação sobre a evolução da doença em outros países e especificidades locais:

  1. A primeira constatação: dada a entrada do vírus no Brasil por pessoas de alta renda, o espalhamento do vírus inicialmente se deu pontualmente e em setores de menor concentração populacional, o que reduziu o impacto do espalhamento inicial;
  2. Esse fato somado à implementação precoce de medidas de contenção em grandes cidades, verifica-se que as curvas de crescimento da doença não são acentuadas;
  3. É evidente, no entanto, a enorme subnotificação tanto de óbitos como de casos confirmados de contaminação;
  4. A subnotificação tem origem também evidente no atraso nos resultados dos testes, que além disso seguem sendo feitos em pequeno número, dos mais baixos índices de testagem se comparado aos demais países;
  5. A não realização de testes e o atraso em resultados configuram o principal gargalo que produz subnotificação e prejudica as estatísticas oficiais atuais no Brasil;
  6. Segue sendo noticiada a aquisição e recebimento de testes mais rápidos no Brasil sem que se tenha até o momento evolução relevante no quadro efetivado de testes diários;
  7. É, portanto, esperado que em algum momento milhares de confirmações de casos de contaminação e também centenas de óbitos venham a ser incluídos nas estatísticas como causados por Covid19, devido a resultados de testes em atraso;
  8. Mais grave, está crescendo os casos confirmados e óbitos que começam a ser registrados em periferias de grandes cidades, onde há maior população concentrada, regiões com pobreza, infraestrutura habitacional e sanitária precárias, onde as condições para isolamento social efetivo são muitas vezes impraticáveis – favelas, cortiços, habitações multi-familiares, ocupações etc.;
  9. Se tornou fato nos últimos dias a superlotação de hospitais em grandes cidades e ameaça de colapso em sistemas locais de saúde por superlotação e falta de vagas em UTIs;
  10. O problema do espalhamento do vírus para regiões de maior contingente populacional que está aumentando se soma como fator de agravamento às campanhas realmente criminosas em redes sociais, carreatas insanas e pronunciamentos do próprio Presidente, boicotando as regras de prevenção contra o COVID-19 no Brasil;
  11. Nos últimos dias é constatado a redução perigosa do distanciamento social com mais pessoas saindo de casa e se aglomerando por diversos motivos, configurando efetivo relaxamento nas condições de cuidado e prevenção nas cidades;
  12. Os três fatores apontados acima (redução progressiva da sub-notificação, aumento da transmissão comunitária em regiões de pobreza e maior concentração populacional; e o relaxamento do isolamento social) devem produzir uma inflexão nos números relativos a casos confirmados de contaminação pelo vírus;
  13. Com o intervalo de alguns dias, o mesmo pode-se esperar venha a ocorrer com o volume de internações de casos graves e aumento expressivo do número de mortes;
  14. Esse quadro provável de ampliação de casos de contaminação e sua confirmação clínica até a 1ª quinzena de maio, aponta para a necessidade de extensão das políticas oficiais de isolamento e provável ampliação das restrições;
  15. E para a ampliação da batalha da comunicação produzida por grupos políticos e setores empresarias retrógrados;
  16. Em paralelo, como observação de caráter positivo, está ocorrendo a montagem de estruturas de apoio para fazer frente ao agravamento da crise que ainda não se apresentou de forma generalizada, o que tende a criar melhores condições de tratamento e oferta de leitos e infraestrutura em UTIs;
  17. Esse fato positivo é resultado de iniciativas e planejamento de governos estaduais e prefeituras principalmente, em menor medida também do ministério da saúde;
  18. Não obstante, é esperado que pelo grande contingente populacional no Brasil, em especial regiões metropolitanas das maiores cidades, as estruturas mesmo ampliadas em grande medida recentemente, não serão suficientes para a demanda por UTIs e respiradores, de forma que um número significativo de óbitos pode ser esperado até o final de maio;
  19. Como pode ser observado em outros países, quando o ápice de casos e óbitos é atingido em algumas semanas os casos começam a se estabilizar, o que no Brasil apontaria para o final de maio, desde que mantido o isolamento social.

 

Obs. finais:

  1. Fato surpreendente, a crise sanitária está produzindo uma crise institucional no país, dado o comportamento irascível, irresponsável, golpista contra a democracia, do Presidente;
  2. O que pode seguir conflitando com a eventual necessidade de novas etapas de isolamento serem efetivadas no país devido a repiques nas contaminações pelo vírus;
  3. São necessárias agora propostas objetivas para fazer frente às consequências econômicas da crise, com perspectiva de gravíssima recessão e depressão, exigindo a implantação de estratégias de sobrevivência para o capitalismo e para a sociedade, fundadas em políticas de renda mínima de cidadania e taxação regressiva de fortunas e lucros;
  4. Necessários igualmente estudos, ainda mais complexos, apontando para mudanças estruturais na forma como a sociedade poderá se reorganizar, sendo reduzida a aceitação das “leis” da economia de mercado, tornadas clássicas e de “pensamento único” na mídia e, de forma hegemônica, em universidades e centros de pesquisa, públicos e empresarias;
  5. Finalmente um sonho possível de transformação ainda mais substancial na forma como vivemos em sociedade com reflexos sobre a cultura consumista, competitiva, não cooperativa, individualista, visões de mundo e comportamentais mandatárias em sociedades capitalistas para o estabelecimento e construção de outras formas fundadas em solidariedade, sustentabilidade efetiva em todos os sentidos, proteção mútua e cooperação total.

 

Esse pode ser um mundo que está hoje em gestação. Globalmente. Pode ser.

Caso os segmentos sociais que defendem e lutam pela humanidade, pela civilização contra a barbárie capitalista, os agrupamentos e movimentos democráticos mobilizados em nossa sociedade não se apresentarem de forma coordenada e integrada para essa batalha, mais uma vez o capitalismo financeiro globalizado poderá mudar tudo para não mudar o essencial. Nesse caso, a civilização perderá mais uma oportunidade.

Greiner Costa

 

Redação

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