Além do vírus, as pandemias social, econômica e política, por Andre Motta Araujo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Muitas medidas tomadas são produtos do pânico nas populações e da fraqueza dos governos e não de estratégia mais elaborada visando a contrabalançar riscos, custos e benefícios.

Além do vírus, as pandemias social, econômica e política

por Andre Motta Araujo

O Século 21 deve se preparar para sua maior crise social, econômica e política durante e após o combate à epidemia do coronavírus. Os confinamentos vão afetar o equilíbrio emocional de milhões de habitantes do planeta, os sistemas econômicos dentro dos países e no conjunto da economia global com consequências sociais causadas pelo desemprego e ao final levando aos desdobramentos políticos no nível dos Países e na geopolítica mundial.

Muitas medidas tomadas são produtos do pânico nas populações e da fraqueza dos governos e não de estratégia mais elaborada visando a contrabalançar riscos, custos e benefícios. A maioria dos países do planeta é hoje liderada por políticos de ocasião, sem estatura, experiência ou cérebro para enfrentar uma crise conjunta dessa magnitude, onde se mesclam fatores sanitários, econômicos, psicológicos e sociais pouco antes operando em conjunto.

A mídia está magnificando a crise, não fazendo uma crucial comparação estatística: quantos morreram em 2019, antes da crise, em cada País.

No Brasil, por uma avaliação de continuidade estatística, em 2019 morreram 2.670.000 pessoas, só foram noticiados na mídia os FAMOSOS e os assassinados em crimes hediondos ou incomuns. Nos que morrem de morte natural só há o registro dos anúncios pagos de missa de 7º dia.

Agora parece que as únicas mortes no País são os atingidos pelo Coronavírus, ninguém mais morre de câncer, de gripe comum, de asma, de cirrose, de ataque cardíaco, só interessa os que morrem por Corona, esses são notícia, os outros não. Com isso alucinaram a população, os ruins da cabeça, os hipocondríacos, os cismados, os que acreditam em tarot, cartomante e astrologia, os depressivos, os revoltados, criando um CAOS SOCIAL na inquietação.

O convívio social é inerente à humanidade, é ele quem garante a sanidade mental das pessoas, é a rua, o bar, o clube, a balada, a praia, a academia.

Sem convívio social o homem enlouquece rapidamente, poucos tem estrutura mental para atravessar um confinamento longo, isolado entre paredes.

Já na economia a paralisação das atividades vai levar a uma mega depressão e para enfrentá-la os governos vão ter que emitir dinheiro a rodo, inflação à vista, todos os grandes sistemas de mercado e logística serão demolidos, parece que poucos estão se dando conta do pós-vírus.

A PANDEMIA SOCIAL

O confinamento da classe média nas casas, a perda de fonte de subsistência da classe pobre das comunidades que sobrevivem no setor de serviços, a maioria sem carteira assinada, nestes incluindo diaristas e faxineiras e a maioria de biqueiros e autônomos que  ganham dia a dia como guardadores de carros, manobristas, entregadores, camelôs, uberistas, por perdas provocadas pela crise sanitária, se essas condições se estenderem  por muito tempo, vão provocar  cataclismas que podem desaguar em saques, quebra-quebras, invasões de prédios,  por absoluta impossibilidade de sobrevivência dessas classes. Programas de apoio oficial não deverão ter a amplitude, o volume e a eficiência para superar as carências provocadas pela paralisação geral.

Nas classes mais altas, o confinamento provocará tensões óbvias porque o isolamento social NÃO é uma condição natural do ser humano e terá consequências psicológicas diretas sobre pessoas, casais, jovens, adolescentes e crianças, tudo com reflexo no ânimo dos quarentenados e suas expectativas de vida.

A PANDEMIA ECONÔMICA

A paralisação do setor de serviços, comércio, turismo, aviação, academias, restaurantes, shoppings, salões de beleza, o fechamento de fábricas e a interrupção das estruturas logísticas, com o imediato reflexo nas bolsas de valores vai causar uma desestruturação generalizada das economias, mais ainda do que em tempos de guerra. Para tentar aliviar esses descompassos governos tentarão abrir os cofres, quebrando regras de equilíbrio fiscal, a “abertura de cofres” se fará com emissão de moeda ou aumento da dívida pública, o que prenuncia um ciclo de inflação no mundo, a partir do dólar.

Na realidade, a desestruturação será maior do que em uma economia de guerra, já que nesta há no geral uma super organização nos sistemas de produção comandados pelo Estado e levando ao pleno emprego enquanto na atual crise não há um comando centralizado, a economia perdida no meio do caos.

Haverá necessidade de imensos recursos para a sobrevivência de empresas, pequenos negócios e comunidades de baixa renda, ao mesmo tempo em que as arrecadações da União, dos Estados e Municípios vão despencar, o desbalanço das finanças públicas vai liquidar com os orçamentos.

A PANDEMIA POLÍTICA

A crise sanitária trará reflexos políticos diretos. Governo serão testados na sua capacidade de organização e poucos se sairão bem, muitos não estão à altura de enfrentar uma crise dessas dimensões, há carência de lideranças experientes e testadas na maioria dos países emergentes, há uma liderança populista aventureira nos EUA e no Reino Unido. Os EUA queimaram as pontes para a liderança mundial, Trump é inimigo da cooperação internacional e não tem diálogo com grandes países, o que apaga a liderança global dos EUA nessa crise, cada País lutando como pode contra a epidemia.

Mais ainda, cada País tem peculiaridades geográficas, demográficas, sociais, sanitárias e econômicas, os modelos de enfrentamento da crise NÃO podem ser simplesmente copiados, o contorno espacial da Itália não é igual ao gigante Brasil, não basta fazer o mesmo, é preciso refletir, adaptar, não basta copiar.

Uma política de confinamento em um País com grandes COMUNIDADES DE HABITAÇÃO PRECÁRIA é inviável porque dez pessoas não podem ficar por dias e semanas trancadas em um quartinho, em um barraco, em lugares com pouca água, ventilação e espaço vital, tampouco é possível adotar as mesmas medidas de fechamento de comércio e serviços na metrópole internacional de São Paulo, valendo para cidades do interior com 10 ou 20 mil habitantes, como fez o governo de São Paulo, é  um absurdo completo, a POLÍTICA DE ISOLAMENTO deve ser modulada de acordo com o ambiente a ser isolado.

Há sérias dúvidas sobre a política de confinamento para um País das dimensões do Brasil, mesmo nos EUA não está sendo seguido em todo o País, dos 300 milhões de americanos, 70 milhões estão submetidos a esse tipo de política, os demais não. Há dúvidas legítimas sobre a eficácia dessa política de desmonte da sociedade, da educação, do comércio, dos serviços, pode ter efeitos até contrários no combate a essa epidemia.

O espaço de discussão de políticas de tão profundo desdobramento se faz na cúpula dos poderes, estamos em crise anterior nesse nível e agora decisões tem que ser tomadas sem um Estado Maior de inteligência superior e que conheça o País nas suas profundezas, as determinações fluem para baixo, na sociedade, onde oceanos de ignorância em todas as classes interpretam as determinações dentro de suas concepções de risco e capacidade de entendimento, alguns interpretam de forma primária e tosca, os que desfilam de máscara e fazem estoque de comida parecem ser considerável grupo assim como os que correm para hospitais sem necessidade, há mais hipocondríacos do que a vã filosofia pode imaginar.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. FAKE NEWS Oficial com CNPJ sempre funcionou. Neste país é a absoluta realidade nestes 90 anos de trágica história. A ‘Grande Imprensa’ tenta fazer parecer que é algo distante de sua realidade diária. Veja a dimensão que deram de suposto áudio vazado do dono da Prevent (é este o nome?) sobre superlotação das UTI’s dos hospitais? Uma semana para informarem a mentira ampliada por Canais de Comunicação. Querem fazer parecer que FAKE NEWS é algo projetado a partir de Internet. Neste mesmo Veículo, matéria noticia que na Italia, as mortes se concentram entre idosos com doenças graves tipicas da idade. Quem morre na Italia é a hipocrisia de Governos que pouco investiram na área da Saúde Pública e Assistência, principalmente aos Idosos. Semelhante à Espanha, talvez por conta de décadas de crise econômica e incompetência. Outros 50 países da Europa passam ao largo, sem grandes alterações hospitalares. Tal situação não foi explicada ainda pelo aspecto de Inverno rigoroso que termina ainda com temperaturas muito baixas tipicas do Hemisfério Norte. Época crítica para doenças pulmonares. Uma População nórdica acostumada a ambientes fechados e pouca circulação, diferentemente dos Povos dos trópicos e do Brasil em especial. Não teria sido isto justamente a arapuca onde estamos nos enfiando? Fora isto o momento político busca inflamar toda esta histeria. AMA novamente mostra que é um ponto fora da curva. É a exceção que deveria ser a regra no Brasil. Obrigado por abrir janelas e ampliar horizontes. abs.

    1. Já li e ouvi infectologistas falando dos riscos da propagação e aconselhando a ficar em casa. Vamos admitir que não estejam com a razão. Por que devemos considerar o que fala? Gostaria de saber baseado em que. Obrigado. S for no que apresentou, sinto muito.

  2. Pelo post do Andre o nassif tá confinado á 9toa. Concordo que a política de confinamento num país rico é muito diferente do que num país pobre. A midia comeca a mostrar o drama das favelas com barracos abrigando varias pessoas. Alias as favelas sao a imsgem perfeita do projeto que nossas elites fizeram com sucesso e continuidade. Agora qual o caminho a seguir? Era o de Johnson – deixar a população inglesa submetida ao vírus até ela adquirir imunidade natural a custas da morte dos mais frágeis ao vírus? A elite mundial com seus trilhoes não poderia entrar pra amenizar essa tragédia.

  3. André: “Há sérias dúvidas sobre a política de confinamento para um País das dimensões do Brasil, mesmo nos EUA não está sendo seguido em todo o País, dos 300 milhões de americanos, 70 milhões estão submetidos a esse tipo de política, os demais não. Há dúvidas legítimas sobre a eficácia dessa política de desmonte da sociedade, da educação, do comércio, dos serviços, pode ter efeitos até contrários no combate a essa epidemia.”
    Quem paga pra ver? Vamos pegar leve e torcer. E se não for a medida certa. Falar o quê? pecar por excesso ou por falta? Pedir desculpas porque morreram 30 e não tês milhões (só da doença). Você arriscaria?

  4. A ordem das pandemias reduz o volume da hecatombe. Essa ordem deveria ser:

    Além das pandemias social, econômica e política, a pandemia sanitária.

    Ou vc acha, AA, que antes do corona, o Brasil estava um mar de rosas?

  5. André, há meses vc defende a emissão de trilhão de reais, dizendo que não custaria inflação (quando causaria), agora, diante de uma mega depressão que pode se avizinhar, diz que a emissão de reais pelo BC causará inflação?! (não causará, como não causou em 2008 em diversos países). André, grande advogado!!

  6. Tudo é muito complexo e prevalece sobre tudo, o fato de que, ainda que falido o país e não falecido as pessoas, elas serão responsáveis pela retomada da economia. O confinamento não é tão enlouquecedor assim como acreditam, se assim fosse, quem entra em uma penitenciária só sairia louco e não é isso que acontece.
    Já até falaram aí (um tal de Roberto inJutus) que o coronavírus vai matar só uns 15% de velhinhos, só que 15% de velhinhos são nada mais nada menos que 3.814.650 seres humanos que mais contribuíram pelo crescimento do país e poderão contribuir ainda mais por sua sabedoria, experiência, e até mesmo com o dinheiro que merecidamente, recebem de aposentadoria, que será repassado para o sustento de seus filhos e netos.
    O confinamento é para reprimir a demanda nos hospitais. Achatar a curva que já é de conhecimento de todos que acompanha os noticiários. E sabe porque tem que achatar a curva? O Brasil tem no máximo 25.000 leitos de UTI. Já imaginou qual tragédia maior se todos os 3.814.650 velhinhos precisarem de uma UTI em um espaço de 7 dias? Vão morrer quase todos e mais os que vão morrer de AVC, diabete, ataque cardíaco… Mesmo que um cidadão morra de ataque cardíaco mas está infectado pelo coronavírus, a causa morte imediada é o COVID-19. Percebeu que morrerão 4milhões de pessoas em um espaço de no máximo 30 dias, nem crematório iria dar conta, seriam enterradas em vala comum. E os profissionais de saúde, já pensou como ficaria o psicológico de cada um? Sem contar que muitos iriam parar na vala comum.
    Agora, vamos pensar em uma demanda de 4milhões diluída em noventa dias. Ainda sim, vai ser desesperador mas, muitas vidas serão salvas.
    Depois, a economia tem gente que sabe conduzir. Economia não é a capacidade e perícia para juntar dinheiro, mas colocá-lo nas mãos do maior número de pessoas.

  7. “When will the world learn that a million men are of no importance compared with one man?”

    Henry David Thoreau

    Um bilhão de pessoas tem a mesma importância de uma única pessoa, ainda que essa pessoa seja idosa

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador