Como financiar o combate ao coronavirus? 10 observações, por Pedro Rossi

Para o pessoal que aponta a Conta Única do Tesouro como nossa solução (tem R$1,2 tri -16% do PIB), isso é questão jurídica/contábil.

Como financiar o combate ao coronavirus? 10 observações.

por Pedro Rossi

  1. Primeiro é preciso largar o dogmatismo fiscal e rasgar a fantasia neoliberal. Temos que esquecer aquele papo de que não tem dinheiro, de que o Estado está falido. Por que isso é mito/mentira. Tem dinheiro.
  2. Não há restrições financeiras para o gasto público, além das regras instituídas. O governo gasta, depois o Banco Central avalia a base monetária/meta de juros e recolhe $ em troca de dívida. O governo não precisa de dinheiro prévio, nem de taxar pra depois gastar.
  3. Não faz sentido achar que tem que tirar de alguém para poder gastar. Não precisa tirar do policial e do professor, não precisa cortar 25% do salário de funcionários públicos. Isso só vai atrapalhar a recuperação econômica no pós-crise sanitária. A PEC Emergencial é estúpida.
  4. Quem ganha e quem perde? Qualquer gasto público é redistributivo. Se o Estado garantir renda para o mais pobres, $ para a saúde e para que o sistema econômico não colapse, uns ganham mais do que outros. Mas, ao evitar um caos social, a sociedade como um todo sai ganhando.
  5. O que vai acontecer se a dívida publica subir 10% do PIB, um caos social? Não, isso vai acontecer se o governo não gastar agora.
  6. O aumento de dívida NÃO precisa ser revertido em seguida. Alias, o padrão do comportamento das dívidas soberanas mostram: dívida pública não se paga, se rola. A tentativa de reduzir dívida em seguida da crise sanitária por meio de um forte ajuste fiscal seria trágica.
  7. Além de rasgar a fantasia neoliberal, devemos largar os mitos cultivados pela a esquerda. A dívida pública não é um problema moral. Não há limite mágico para a dívida publica. Dar calote na dívida em moeda nacional não faz nenhum sentido.
  8. NÃO FAZ SENTIDO VENDER AS RESERVAS CAMBIAIS ! Não precisa vender dólar para financiar gastos em reais, isso mantem a dívida líquida constante e aumenta a vulnerabilidade externa. Se for usar, que financie importação de medicamentos ou empresas endividadas em dólar.
  9. Quem acha que serão dois meses de aumento de gastos e depois voltamos para austeridade fiscal, tá enganado. O custo social disso seria enorme. Dívida publica se estabiliza com crescimento. Enquanto houve desemprego e capacidade ociosa, a política fiscal pode ajudar.
  10. Essa crise vai mudar paradigmas em termos de política fiscal. A realidade é tao chocante que as pessoas abandonam os dogmas. As ideias monetaristas foram por terra depois da crise de 2008/09. Agora é a vez definitiva dos dogmas fiscais.

OBS: Para o pessoal que aponta a Conta Única do Tesouro como nossa solução (tem R$1,2 tri -16% do PIB), isso é questão jurídica/contábil. Retirando as regras fiscais do caminho usa-se a conta unica. Retirando a proibição do BC financiar o TN, não há limites para o gasto público

Pedro Rossi (IE/Unicamp)

Redação

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A chamada esquerda “radical” ja deveria estar defendendo a moratória e a estatização do setor financeiro, e deixar a esquerda “reformista” defendendo a macroeconomia keynesiana. O debate publico ficaria muito menos desequilibrado.

    Seria imprescindível também escalar quadros qualificados para o debate, para desmoralizar as boçalidades de mercado, de um modo geral, e os boçais ricos, um por um. O momento de cindir a aliança entre o estamento financeiro e o empresariado é este. Jamais terão outra oportunidade. Esperar que eles e seus representantes políticos com charutos e conhaques concluam “well, está na hora de trazer de volta o Estado pro jogo” é fazer força pra se enganar.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador