Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Economistas em tempos de crise, por Andre Motta Araujo

A confusão de capacidades que se faz no Brasil nos leva a ter microeconomistas, simples gestores de carteiras e de fundos, a serem considerados aptos a gerir políticas públicas, algo que exige outro perfil

Economistas em tempos de crise

por Andre Motta Araujo

É interessante a grande distinção entre o conceito de ” economista ” nos EUA e no Brasil. Nos Estados Unidos economista é visto como acadêmico ou macroeconomista que opera em instituições, think tanks, bancos multilaterais, Fundo Monetário, no Bureau de Pesquisa Econômica e nos Departamentos da Administração como Comércio, Labor, Escritório de Comércio Exterior (USTR), no Conselho de Assessores Econômicos, no Federal Reserve.

Todos os sete membros do Board são economistas acadêmicos de altas credenciais, nos doze Federal Reserve Banks se encontram ótimos economistas, em alguns, como o Fed de St.louis, publicam revistas de excelente qualidade,  mas é nas universidades onde mais se encontram os economistas que escrevem em jornais e revistas, é um nicho profissional especial onde não se inscrevem o que no Brasil se entende por “economista de mercado” que se encontram nas gestoras e corretoras.

Economista nos EUA é entendido como MACROECONOMISTA que trabalha com temas públicos e não finanças pessoais, operações especulativas, assessoria de investimentos, esses profissionais não são vistos como economistas.

No Brasil, os economistas de orientação pública começaram a aparecer no segundo Governo Vargas em pequena escala, o número cresceu no Governo JK, mas foi nos Governos Militares que os “economistas no governo” cresceram, aliás esse é título de um excelente livro sobre o tema, de autoria de Maria Rita Loureiro.

Os economistas chegaram no seu apogeu no Plano Real e desde então dominam o Banco Central e o anel de instituições em volta da área econômica do Governo.

O FORMULADOR E O GESTOR

Vimos a completa diferença entre o MACROECONOMISTA, preparado para tratar dos temas de políticas públicas e o MICROECONOMISTA, cujo foco são investimentos e o nível da empresa, este é o mais abundante no Brasil, o “economista de mercado”, gestor de fundos de investimentos e assessor de aplicadores, nada a ver com MACROECONOMISTA.

Feita essa distinção há outra fundamental para as questões de políticas públicas, há o macroeconomista FORMULADOR e há o GESTOR. Grandes pensadores podem não ser eficientes gestores, raramente há um nome que reúne as duas qualificações. Grandes formuladores foram ROBERTO CAMPOS E MARIO HENRIQUE SIMONSEN, não foram gestores tão eficientes, DELFIM NETO nos cargos da Fazenda e Planejamento reunia as duas qualificações, algo raro, SCHACHT na Alemanha também era formulador e gestor.

No Brasil um não economista, OSWALDO ARANHA foi formulador, gestor e operador político da economia, uma combinação mais rara ainda. Aranha criou dois Planos de reestruturação da dívida pública externa que foram um primor de engenhosidade, criou um Plano ultra heterodoxo de câmbio, o das Cinco Categorias de taxas, de uma criatividade única pela ousadia. Sua biografia, na área econômica, escrita por Mario Henrique Simonsen, é primorosa. Lembrando que Aranha também era diplomata, parlamentar, ativista revolucionário, orador e líder partidário. Um Aranha hoje nadaria de braçadas em meio à combinação de crises sanitária, política e econômica. Além disso, era um homem agradável, simpático e encantador.

Outro visionário sem ser economista foi Vargas, sua grande política de desenvolvimento do Brasil nos deu a Vale, a CSN, o BNDES, a PETROBRAS, a ELETROBRAS, claro que teve boa assessoria de nomes como Romulo de Almeida e Roberto Campos, mas o grande desenho era dele.

A confusão de capacidades que se faz no Brasil nos leva a ter microeconomistas, simples gestores de carteiras e de fundos, a serem considerados aptos a gerir políticas públicas, algo que exige outro perfil, outro cérebro, outra personalidade, um certo desprendimento pessoal. Lembro que homens com imensos poderes, como Roberto Campos e Delfim Neto, não se preocuparam com suas finanças pessoas, sempre levaram vidas austeras. Tive muito contato com Campos nas etapas finais da vida e conheci seu cotidiano nada fácil, ele vivendo no mesmo apartamento simples no Arpoador que já era sua casa antes de ser Ministro poderosíssimo, Delfim ativo até hoje, trabalha na sua consultoria na mesma casa, tem o mesmo sítio que já tinha há décadas, a mesma vida espartana, homens de Estado do mais alto nível com a cabeça voltada ao Brasil e não a si mesmos. Foram esses os grandes estadistas da economia brasileira que nos fizeram chegar até aqui como País de importância.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

5 Comentários

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  1. Vivemos 90 anos de AntiCapitalismo de Estado. E por que isto? Por que qualquer Liberdade Comercial ou Industrial, confrontaria o Estado Absolutista, Nos remetendo de volta à realidade anterior ao Golpe Civil Militar Ditatorial de 1930, ou seja Sociedade, Lideranças e Governos Republicanos, Liberais, Progressistas, Democráticos. Parece que depois disto não estivemos enterrados numa Ditadura Fascista Assassina associada entre Nazistas e Stalinistas?!! Quanto Pensamento Democrático?!! Um Dirigente da FIFA reafirmou um preconceito nacional. Que aqui só se anda pra frente, quando chutados na bunda. A Elite Paulista de Simonsen (que perde a Projeção Econômica do Brasil para Gudin), de Monteiro Lobato, obriga o Fascista juntamente com parceiro Nazista a se colocarem ao lado das Nações Livres e Democráticas na Grande Guerra. Com isto a conquista da volta da Industrialização Nacional abortada nos anos 30, com surgimento de CSN, Vale,… A mesma Elite Paulista que consegue que o Ditador reavalie o Projeto de Julio Prestes, deposto pelo Golpe Fascista, com ajuda do Engenheiro deste Governo Fernando de Sousa Costa, que já havia descoberto Petróleo no interior de São Paulo e redescubra o ‘primeiro segundo poço’ de Petróleo no Brasil, em terras baianas. Surge então a Petrobrás. O revisionismo histórico se incumbirá do restante. FHC na sua chegada à Presidência afirma termos chegado ao fim do Getulismo (ou Varguismo). Errou feio como foi sua Vida Política. Para contínua infelicidade do Brasil. O Getulismo começa a se encerrar com a volta de um Paulista à Presidência. Ainda o inicio de um projeto de liberdade numa estrutura caudilhista, donsebastianista. Mas uma mudança de rota, depois de 1 século de erros e tragédias. Nos voltamos de volta ao norte. A metamorfose reversa se inicia. Cabeça em rabo em cabeça novamente. O século que passou? Lamentar e aprender. “Liberdade, Liberdade…Abra as asas sobre Nós”

  2. Estamos em sintonia, André Araujo. Ontem falava com uma querida amiga jornalista o quão faz falta no Brasil homens de referência neste momento. Mulheres e homens humanistas, intelectuais, engajados, projetistas e com vião de Estado. Vejo poucos e desses poucos, não são ouvidos pela imprensa tradicional. Esse também é outro problema a ser resolvido no nosso Pais.

  3. Mas repara, caro André: mesmo com seus “macroeconomistas” – ou justamente por causa deles – os EUA estão afundando no lodo cada vez mais e levando junto as economias de países que aceitam o mando do dólar estadunidense. Esses “macroeconomistas” não impediram – pelo contrário, os mais célebre até ajudaram – a criar a tal de “crise” de 2008, o golpe do dólar privado contra estados nacionais democráticos, os ataques aos povos medio-orientais e a outros tantos países, quase todos os ocidentais. Falharam miseravelmente naquilo a que se propuseram: encaminhar políticas que promovessem prosperidade geral… ou não? Será que a proposta era a prosperidade concentrada? Se era essa, também estão falhando.

    Bem, seja qual for a proposta, estão falhando. Miseravelmente. Ou vai dizer que o mundo – ou pelo menos os EUA – estão mais prósperos agora, depois das constatações de Piketty?

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