No mínimo pode ter havido prevaricação por parte de Moro, por Djefferson Amadeus

Eis o dilema. Um dos dois mente. A pergunta é: quem? A história nos dirá. E ela não os perdoará. Porque este foi o fim de todos os moralistas: a vergonha!

No mínimo pode ter havido prevaricação por parte de Moro

por Djefferson Amadeus

Depois de ter usurpado a competência do Supremo Tribunal Federal ao levantar o sigilo das interceptações telefônicas entre a ex-Presidenta Dilma e Lula, revelando fato que tinha ciência em razão do cargo de Juiz e que, por isso, deveria guardar segredo (art. 325 do CP), bem como depois de sugerir ao procurador Delagnol que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrar agilidade em novas operações, dar conselhos estratégicos e pistas informais de investigação, conforme divulgados pelo site Intercept, Sérgio Moro parece ter incidido, mais uma vez, noutro(s) crime(s), mas aqui ater-me-ei apenas ao de prevaricação.

Isto porque, na televisão, para todo o Brasil, Sérgio Moro – ainda na condição de Ministro da Justiça –, afirmou que: “O Presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria uma pessoa de contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, colher informações e pudesse ter, aí, relatórios de inteligência, seja de diretor, seja de superintendência, e realmente não é o papel da polícia federal prestar este tipo de informações, porque as investigações têm de ser preservadas…”

E emendou: “O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no STF e que a troca também seria oportuna da Polícia Federal por esse motivo. Também não é uma razão que justifque a substituição e é até algo que gera uma grande preocupação.”

Ora vejam bem: o presidente Bolsonaro disse a ele, Ministro da Justiça, que gostaria de ter alguém da sua confiança como chefe da Polícia Federal para que este alguém, que têm informações (sigilosas) em razão do cargo, pudesse lhe passar tais informações… sigilosas.

Em bom português ele foi lá e disse: estou preocupado com uns inquéritos no STF; nomeie um amigo meu aí, porque eu quero ter acesso a esses relatórios sigilosos, TÁ OK?

E o Ministro da Justiça, Sérgio Moro (“herói brasileiro”) ficou inerte? Não deu voz de prisão, foi isso mesmo? Numa palavra: prevaricou!

Segundo o Presidente Bolsonaro, o interesse pessoal que poderia ter levado a prevaricação foi, em suas palavras, a proposição de Moro de aceitar a demissão do diretor da PF se fosse indicado ministro do STF.

Não sabemos quem está mentindo. Por isso, estamos diante daquilo que chamei de “dilema Morobozonarista”. Afinal, se Moro fala a verdade sobre Bolsonaro ter feitos estes pedidos, Bolsonaro praticou crime; se Bolsonaro diz a verdade sobre Moro ter pedido a indicação de Ministro do STF em troca do aceite sobre a mudança da chefia na Polícia Federal, Moro praticou crime.

Eis o dilema. Um dos dois mente. A pergunta é: quem? A história nos dirá. E ela não os perdoará. Porque este foi o fim de todos os moralistas: a vergonha!

A lição que fica para o mundo é a de que o lugar de todo herói, como dizia Warat, é sempre o lugar da canalhice, ou seja, o lugar de todos os cidadãos de bem.

Cidadãos de bem que elegeram Bolsonaram e idolatram Sérgio moro são os mesmos que saíram às ruas para agredir furtadores ou linchar o casal Nardone,  (quando não matá-los) porque, como bem lembra Calligaris, essa é a melhor maneira de esquecer que eles, “cidadãos de bem”, no dia anterior, sacudiram seu bebê para que ele parasse de chorar e só pararam porque o bebê… ficou pálido.

O mesmo, diga-se de passagem, pode ser dito em relação aos moralizadores raivosos que esbravejam com gays. No fundo, todos sabem — e eles também, embora não admitam — que, na verdade, tudo isso é fruto de suas tentações. Por isso, segundo Calligaris, “o apedrejador sempre quer apedrejar a sua própria tentação ou a sua “culpa.”

Daí lincha-se o furtador e com Bolsonaro e Moro pede-se… foto.. Por quê? Porque o falso moralizador, como diria Millôr, quando critica a corrupção, está apenas cuspindo no prato que queria (mas não conseguiu) comer. O problema é que, quando eles têm o poder da caneta, o resultado é o que se vive hoje: uma barbárie, na qual todos pagam pelos pecados dessa, “cidadã de bem”, que não se aguenta (Calligaris e Jacinto Coutinho).

Djefferson Amadeus é advogado, mestre em direito e hermenêutica filosófica pela Unesa, pós-graduado em filosofia pela PUC-Rio, pós-graduado em processo penal pela ABDCONS-RJ, membro da FEJUNN e do Movimento Negro Unificado (MNU).

Redação

3 Comentários

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  1. O ilustre articulista, advogado e com títulos mil (para que servem?), não sabe que Moro não poderia acusar o presidente sem absolutamente nenhuma prova, apenas relatando o que o presidente teria dito?

  2. Tudo o que o moro disser contra bolsonaro agora vai soar como simples churumela.
    Magoado e decepcionado, queixas do moro são mimimi , e bozo odeia mimimi.
    Moro ganhou um poderoso inimigo do qual não tem como se defender.

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