Por que a Rússia, população 146 milhões de habitantes, tem menos casos de coronavírus que Luxemburgo?

O número de casos confirmados de coronavírus russo é surpreendentemente baixo, apesar da Rússia compartilhar uma longa fronteira com a China e registrar seu primeiro caso em janeiro.

Russian President Vladimir Putin chairs a Security Council meeting in Moscow, Russia, Friday, March 13, 2020. Agreements with Turkey on the situation in Idlib, stock markets and the coronavirus epidemic were discussed at the meeting, according to Kremlin spokesman Dmitry Peskov. (Alexei Nikolsky, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP)

Jornal GGN – O presidente russo Vladimir Putin, disse nesta semana que seu país conseguiu impedir a disseminação em massa de coronavírus – e que a situação estava “sob controle”, graças a medidas precoces e agressivas para impedir que mais pessoas sofram da doença. Este é o tema de extensa reportagem de Mary Ilyushina, da CNN.

A Rússia tem coronavírus sob controle? Segundo informações divulgadas pelas autoridades russas, a estratégia de Putin parece ter funcionado. O número de casos confirmados de coronavírus russo é surpreendentemente baixo, apesar da Rússia compartilhar uma longa fronteira com a China e registrar seu primeiro caso em janeiro.

Os números estão aumentando, mas a Rússia – um país de 146 milhões de pessoas – tem menos casos confirmados que o Luxemburgo, com apenas 253 pessoas infectadas. Luxemburgo, por outro lado, tem uma população de apenas 628.000 habitantes, de acordo com o CIA World Factbook, e no sábado havia registrado 670 casos de coronavírus com oito mortes.

As medidas de resposta antecipada da Rússia – como o fechamento de sua fronteira de 2.600 milhas com a China em 30 de janeiro e a criação de zonas de quarentena – podem ter contribuído para o atraso de um surto total, dizem alguns especialistas.

Segundo a Dra. Melita Vujnovic, representante da Organização Mundial de Saúde na Rússia, o país entendeu muito bem a recomendação da OMS quanto à necessidade de teste, e começou a realizá-los no final de janeiro. Além disso, a Rússia tomou um conjunto mais amplo de medidas, além dos testes.

“Testes e identificação de casos, rastreamento de contatos, isolamento, essas são todas as medidas que a OMS propõe e recomenda, e estavam em vigor o tempo todo”, disse ela. “E o distanciamento social é o segundo componente que também começou relativamente cedo”.

Na outra ponta, os Estados Unidos só aceleraram os testes no início de março, enquanto a Rússia diz que vem testando em massa desde o início de fevereiro, inclusive nos aeroportos, concentrando-se em viajantes do Irã, China e Coréia do Sul.

Isso não significa que o país saiu ileso. A Rússia não começou a testar imediatamente aqueles que chegavam da Itália e outros países da União Europeia, limitando seus controles. A maioria dos casos relatados na Rússia foram trazidos da Itália, segundo as autoridades de saúde.

Mesmo assim, a Rússia enfrenta o ceticismo público, legado de seu passado soviético. Os russos levantaram questões referentes ao fraco histórico de transparência de seu país, como no caso de Chernobyl em 1986 e o fracasso do país na epidemia de HIV/Aids na década de 1980.

Ao ceticismo, as autoridades agiram rapidamente para combater o que consideram desinformação. No início de março, o Serviço de Segurança Federal da Rússia, que monitora a internet, se mobilizou para derrubar um post viral que dizia ser 20 mil o número de casos no país e que o governo estaria encobrindo. Ato contínuo, os usuários do Facebook e Instagram na Rússia começaram a ver alertas de conscientização sobre coronavírus com links para o site oficial de saúde.

Outras notícias, como escassez de equipamentos de proteção, passaram a alimentar o ceticismo. Além de dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de testes da Rússia, que depende de um único laboratório.

Mas a OMS no país, no entanto, informou à CNN que recebeu as especificações para os kits de teste e o laboratório foi colocado na lista de instituições aprovadas dentre as usadas para confirmar o coronavírus.

O próprio Putin abordou as preocupações com as estatísticas na última quarta-feira, dizendo que o governo pode não ter uma visão completa, mas não está encobrindo os números.

“A questão é a seguinte: as autoridades podem não possuir a informação completa, porque as pessoas a) às vezes não a denunciam, b) elas próprias não sabem que estão doentes e o período latente é muito longo”, disse ele em uma reunião televisionada. “Mas tudo o que é emitido … pelo Ministério da Saúde são todas informações objetivas”.

Nesta semana, os números aumentaram, com a Rússia adicionando de 30 a 50 casos por dia, e a contagem provavelmente continuará sua trajetória ascendente à medida que a Rússia expande seus testes. No entanto, o representante local da OMS diz que a Rússia ainda está relativamente bem, pois o país acompanha casos com ligações epidemiológicas a viagens ou transmissão familiar. Na manhã de sábado, o Rospotrebnadzor divulgou um número potencialmente mais preocupante do que o número de casos confirmados – 36.540 pessoas estão sendo monitoradas para um possível coronavírus.

Enquanto isso, o governo passou a impor medidas mais amplas, cancelando eventos públicos e fechando as fronteiras da Rússia para estrangeiros, com algumas exceções. Mas a política, como sempre, continua sob Putin: o presidente assinou um decreto agendando um referendo nacional sobre emendas constitucionais que o levaria ao poder até 2036 em 22 de abril. As autoridades prometeram monitorar os desenvolvimentos dos coronavírus, mas até agora não mudaram a data.

Redação

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