Saulo e Paulo Guedes: a pandemia testando falsas verdades
por Albertino Ribeiro
No início do ano, neste importante jornal, escrevi dois artigos sobre o pensamento de Paulo Guedes. Um tratava do seu solipsismo econômico e o outro discorria sobre sua dissonância cognitiva.
A escola de Chicago, onde Guedes estudou, postula que não existe desemprego involuntário (solipsismo). Por outro lado, mesmo considerando ineficiente a injeção de dinheiro na economia, ele teve que liberar dinheiro do FGTS e PIS PASEP para aquecer a atividade econômica (dissonância cognitiva).
Com a pandemia e suas consequências desnudando as fragilidades da economia mundial, as crenças do ministro estão sendo testadas e os pensamentos que comandam sua mente podem levá-lo a um surto esquizofrênico.
O coronavírus mostra, de forma mais devastadora do que a crise financeira de 2008, que o mercado não é perfeito e muito menos imune às crises. O livre fluxo de capitais não consegue trazer a economia de volta à homeostase (equilíbrio) sem a “loucura” da intervenção do estado.
Nesse momento em casa, o isolamento social do ministro serve a duas coisas: a primeira tem a saúde física como objetivo; a segunda o protege do mundo real que está destruindo a utopia de um lugar onde mãos invisíveis organizam as relações econômicas e sociais.
Utilizando o imaginário bíblico que hoje faz parte do espírito que tomou conta da política brasileira, diríamos que Paulo, antes das eleições, era Saulo.
Saulo, que significa desejado, era a esperança do mercado que o via como salvação da economia brasileira. Contudo, depois de ter um encontro com a luz da verdade que está fora da caverna escura de Chicago, esse Saulo “caiu do seu cavalo” e virou simplesmente Paulo cujo significado é pequeno.
As teorias de Paulo ficaram, assim como ele, pequenas demais diante de uma pandemia que exige um pensamento além dos modelos cartesianos do liberalismo do século XVIII.
Albertino Ribeiro – Jornalista e Bacharel em Economia
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