Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Brasil, um estranho país, por Rui Daher

por Rui Daher

da CartaCapita

Na coluna anterior, procurei ampliar o conceito de agricultura familiar para além da batida exclusivista de que ela é importante apenas por ser responsável em mais de 70% da produção de alimentos para o mercado interno. Verdade, mas não só. Ela é alta agregadora de valor, faz parte do agronegócio e é excelente aparelho de inserção social. Quem ainda não foi atrás desse trio elétrico já morreu. 

Da mesma forma, alertei que nos sacos de maldades que carregam os economistas neoliberais, hoje no governo ilegítimo, há pesadas intenções de deixá-la à mercê do mercado sem as garantias que precisa para sobreviver. Acrescentei que se não mudasse de ideia, voltaria ao assunto. Não mudei.

A agropecuária brasileira, especialmente a agricultura empresarial, se liquidada no futuro, o será pelas armas externas de destruição e não pelo cartaz que tem junto a quem manda no País.

Tomou espaço na política e na mídia, vantagens na legislação, avançou em tecnologia, e foi bafejada pela sorte achada num biscoitinho chinês. Só não vai melhor pois quem aqui pensa infraestrutura é desmiolado e quer todas as vantagens que venham do investimento público. Do lado dos agricultores, eles morrem de pena dos fabricantes de agroquímicos e enchem-lhes os bolsos de dinheiro.

No abastecimento interno, no entanto, não precisaremos da ajuda de ninguém. Nós mesmos faremos o serviço. Aliás, a hidra golpista já reservou uma de suas cabeças para o setor. Exemplos, a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e, recentemente, a reordenação de verbas para favorecer o agronegócio empresarial.

A agricultura familiar e a produtividade em assentamentos precisam de cuidados para produzir e se reproduzir. Abandoná-las a um planeta regrado pelos mercado financeiro e concentração de riqueza é condená-las à morte. Inclua-se aí grandes contingentes de humanos.

Previsões apontam para que as áreas de arroz e feijão aumentarão quase nada, prenúncio que pautará o Jornal Nacional, da TV Globo, no ano que vem. William e Renata arregalarão olhos e sobrancelhas para os preços desses produtos. Isto se, até lá, o povo ainda mantiver a estranha mania de comer.

Caso é, impolutos patos-amarelos, porta-vozes e economistas-chefes, que depois de a globalização proporcionar, entre 1980 e 2005, crescimento de 120% na renda real média mundial, os mais lúcidos analistas econômicos do planeta a veem empacada ou em retrocesso. Desde 2008, vivemos o período mais longo de estagnação, desde a Segunda Guerra Mundial.

Pior. Mesmo o período positivo ocorreu de forma assimétrica, colaborando pouco para diminuir a desigualdade. Agora, quando se acentua a falta de oportunidades de produção e trabalhos industriais e agrícolas, as crises se sucederão mais graves. Acreditar que o mercado financeiro e os juros estratosféricos nos salvarão é o mesmo que esperar resultados da rodada Doha, acordos multilaterais e diminuição do protecionismo.

Ah, esqueci. Tanta a tolice das elites brasileiras, que nas manifestações de gordas e disformes coxas pedia-se Donald Trump para nos salvar. O governo usurpador acredita conhecer aparelhos e ferramentas capazes de atender produção e trabalho. São os palhaços do ajuste.

Em minhas conversas com empresários do setor produtivo é comum escutar: “Quem é o louco que irá investir em produção e comércio com essa taxa de juros. Eu hein? Demito, corto o cafezinho, terceirizo mão de obra, e mando pau na Tesouraria”. Também louco, vêm-me à cabeça palavras em desuso como cassino e overnight.

Peço ajuda. Martin Wolf, editor de economia do Financial Times: “Promover o avanço da globalização exige políticas internas e externas diferentes das do passado”. Larry Summers chama a atual fase da economia de “estagnação secular”. Paul Krugman, de “economia diabética”, dinheiro mundial barato e crescimento japonês. Joseph Stiglitz avisa que “as grandes corporações estão sentadas em centenas de trilhões de dólares”. 

Em um mundo assim, nada mais inteligente do que matarmos a agricultura familiar. Estranho País, este.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

12 Comentários

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  1.  No noticiario de sempre seja

     No noticiario de sempre seja em qualquer linha de atuação, o governo somente atuou fornecendo credito para os amigos, acabou com o preço minimo, desvinculou o Proagro e acabou com a tecnologia da Embrapa, e não foi o governo atual, são 13 anos de PT, cade o estoque regulador do governo federal? Cade o leilão da BMF para regularizar a oferta de generos de primeira necessidade. Os partidos de esquerda são especialistas em criticar os adversarios e esconder os descalabros e mal feitos, transferindo a responsabilidade para terceiros. Acricultura familiar não é doar terra para fazer chacrinhas para passar o final de semana com amigos. Praticar preços justos regular o mercado, trabalhar com previsões factiveis é obrigação do governo. Comparar um pais desta forma é algo sem embasamento em fatos.

     

  2. Agenda

    no próximo encontro, lá no bunker palestino, me lembre de conversarmos sobre agricultura familiar. preciso de ao menos meia hora da sua paciência. 

  3. Eu não ser publicado, não

    Eu não ser publicado, não afeta nada.

    O meu comentário não acrescentaria UMA pessoa a mais dos 95 porcento que são contra Lula.

    Agora, a não publicação vai em sentido contrário em tudo que vc apregoa,Nassa.

    Que triste !

    ps: Como posso participar de um blog que só aceita comentários pró que o blogueiro pensa ?

    Não há contraponto ?

    Então não é blog.

    É seita falangista.

  4. E quem comparou?

    Só acho estranho. Já escrevi trocentas vezes: agricultura familiar é tudo o que você citou. É pouco, mas mesmo o pouco querem tirar

    1. e quem….

      Caro sr. Rui, não sejamos nem tão inocentes nem nossas conversas tão rasas que ignoremos uma política de Estado, inflada na mídia por uma grande parcela do poder politico contra nossa agropecuária extensiva. Seus defeitos são os mesmos da agricultura familiar (por exemplo a produção de uvas ou figos na região de Jundiai/Louveira), a sobrevivência econômica. Só que as acusações pelos seus defeitos, como citei, sempre foram muito maiores e mais expostos que aquelas a respeito das suas qualidades. O Brasil peca por politicas de governo, de Estado, que se misturam com politicas de ideologia ou de partido. O maior fator de alteração econômica, mas principalmente social a partir do norte do PR, MT e MG, por todo interior do Brasil foi a agropecuária, que será entregue de graça em boa parcela, por exemplo a uma Bayer, que não vem nem um pouco preocupada com esta confusão ideologica que temos aqui (irá carregar o que puder). Abs.

  5. Se é Bayer é bom?

    Ô Rui, dê-nos (gostou?) sua opinião sobre a aquisição da Monsanto pela Bayer, anaslistas internacionais classifica como um casamento no inferno, agricultores brasileiros estão ressabiados. 

    Dizem que agora a junção das empresas é responsável ´por 25% de tudo que se produz em termos de produtos quimicos voltados para a agricultura, sendo que em algumas regiões esse índice é até maior.

    E aí, se é bayer é bom? Ou não?

    1. se é….

      Caro sr. Rui, como antecipou, a Bayer barrando os chineses. Países usando do comércio para fazer politica e proteger seus interesses. Pena que ente tantas limitações e atrasos, este seja mais um dos defeitos brasileiros. Como é defeituosa e míope esta nova visão entre agronegócio e agricultura familiar. Tudo é agropecuária. Tudo é Brasil. Tudo é brasileiro. Uma das maiores vantagens que temos frente ao mundo. Se consumidores das sobras das transnacionais estrangeiras, não por vontade de agricultores, mas por absoluta falta de vontade nacional em mostrar alternativas. Ficaremos neste circulo vicioso de acusações, enquanto o mundo vem  agora com quatro mãos, querendo inclusive nosso território? (Não vejo governos, nem mídia nos países onde estão as matrizes destas, acusando-as de destruir o mundo e envenenar o planeta, Por que será?)  Nossa desinformação é gigantesca, somente comparável ao fogo-amigo nos sabotando com tiros nas costas. Trabalho escravo tão condenado e propagandeado na agropecuária, sabemos ser maior nas cidades e obras públicas. Trabalho infantil e subempregos ou falta de garantias trabalhistas, idem. Poluição de rios e solos, extremamente mais graves em áreas industriais e urbanas. A Bayer é um grande exemplo. Quer outro? A Shell, que esta montando escritório na ante-sala do Min. Serra. Mais uma? Segundo o IBGE tem mais indígenas no estado de São Paulo que no Pará. Não me lembro de dona Marina, Funai e Ibama inflados por cameras e dinheiro de Ongs internacionais, parando a av. Paulista e mostrando que o crime contra estes povos é excepcionalmente  maior nas portas das nossas casas que no meio das florestas longinquas. Porque será? Este politica e propaganda contra nós mesmos e nossas atividades, que concorrem de igual para igual com o resto do mundo, esta favorecendo a quem? A nós brasileiros? Duvido. Sabotando a nós mesmos não chegaremos a lugar algum. Corrijamos erros e nos defendamos, porque ninguém mais neste mundo fará isto por nós. Abs.

    2. Ô Edivaldo,

      assunto já tratado em colunas anteriores, pois essas aquisições entre os fabricantes de agroquímicos estão cada vez mais frequentes. Mas logo comenta-lo-ei (gostou?). Abraço

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