A evolução dos vinhos brasileiros

Sugerido por Cláudio José

Do Jornal do Brasil

Rio, 11 de novembro de 2013: O Vinho Brasileiro cada vez melhor

Por Reinaldo Paes Barreto

O Brasil já conheceu a aristocracia do açúcar, os barões do café e da soja — está vendo agora prosperar a era dos CEOs do vinho.

Proprietários, da família ou executivos, contratados pelas vinícolas brasileiras.

Tudo a ver: dos ciclos produtivos que mudaram a economia do nosso país para melhor, nesses últimos vinte e poucos anos, um deles foi o negócio do vinho brasileiro. 

E nem por acaso, negócio vem do latim: negar o ócio! 

Porque a heróica legião de “oriundi” que deixou o Trentino, a Toscana, o Veneto e o Bergamo, por volta de 1870, para produzir o “fermentado da uva” na serra gaúcha, trabalhou muito para chegarmos a este estágio.

Parênteses: além da parreira, plantavam árvores frutíferas, como a da tangerina, por isso o gaúcho chama essa fruta de bergamota!

 

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Chovia “cats and dogs” (os telhados ingleses são íngrimes para a neve e o granizo não os derrubarem, mas quando chove muito rolam lá de cima gatos e cachorros…) e a nossa simpática Yoná Adler nos aguardava para almoço no Aprazível, em Santa Teresa. 

Pela casa, o atencioso Pedro Hermeto, proprietário (filho da Ana), sommelier e um bom RP.

Do lado convidados, o Ricardo Farias, presidente da ABS-Rio; o Romeu Valadares, jornalista de Niterói e do mundo; o Schiffini e a mulher, Cecília; a Yoná, a Marianne (ambas Mistral) e eu.

E, do lado “de lá”, a proprietária e diretora comercial da Vallontano (uma metáfora da expressão “piano, piano si va lontano”), a simpática e competente gaúcha Ana Paula Valduga.

Abrimos os trabalhos com dois “intranquilos”: o Vallontano Espumante Brut, uma agradável assemblage de Chardonnay e Pinot Noir, com teor alcóolico de 12% (o que é cada vez mais raro — e ótimo) e o Rosé Brut, um 100% Pinot Noir. Ambos escoltaram umas beringelas marinadas e o ceviche.

Brinquei que um é para o Natal (o rosé) e o outro para o Réveillon.

O primeiro prato foi um escondidinho de camarão com purê de aipim organico, harmonizado pelo Vallontano Chardonnay 2013, um branco vivo, sem excessos de fruta nem madeira. Muito bom. Repito: sem aquelas “manteigas” do chardonezões!
E, para comparar, o Vallontano Tempranillo Rosé 2013 — que, a meu ver, tem que crescer um pouco, ainda.

Depois, com o principal — uma paleta de cordeiro assada lentamente, com canjiquinha mineira — “enfrentamos” o Vallontano Reserva – Cabernet Sauvignon 2008. Uvas: 100% Cabernet Sauvignon, teor alcóolico: 12,5% . Também muito bom: equilibrado, bom de nariz e boca. 

E, com a sobremesa (manga maravilha) o Vallontano Espumante Moscatel : uvas Moscatel 100%, teor alcóolico: 8,2%. A “cara”do verãozão que vem aí.

Todos a preços palatáveis — de R$ 43,00 a R$ 59,00.

Esses vinhos são produzidos no Vale dos Vinhedos, RGS, em uma pequena empresa — os franceses chamam de “garagiste” — pelo incansável Luiz Henrique Zanini, com paixão e esmero.

Recomendo, sobretudo, o espumante brut, o Valontando Chardonnay 2013 e o Cabernet Sauvignon 2008, ambos distribuidos pela Mistral. É presente de Natal e Dia de Reis juntos!

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A vinha chegou ao Brasil trazida por Martin Afonso de Souza, em 1532. Agricultores, mestres de engenho e até alguns fidalgos, começaram então a cultivá-la, visando a produção da fruta e do vinho. Dentre eles, Brás Cubas, que muitos pensam ser apenas o personagem de Machado de Assis mas que um nobre português. Ao pisar aqui, se fixou no litoral paulista e lá, numa aldeota, aonde fundou a nossa primeira Casa de Misericórdia que, como a de Lisboa, era chamada de Casa dos Santos — daí o nome que acabou por batizar a cidade: Santos.

Duzentos anos depois, com a descoberta do ouro em terras das Geraes, de Goiás e do Mato Grosso, São Paulo passou a ser um corredor de mineradores (Bandeirantes e Pioneiros) e essas terras cultivadas foram completamente abandonadas. 
Só mais de cem anos depois, lá por volta de 1850, começou a verdadeira produção de vinho no Brasil, com a chegada da primeira leva de imigrantes alemães ao Rio Grande do Sul. Mas essa produção só ganhou escala uns vinte anos mais tarde, por volta de 1870, com a vinda de muitas famílias italianas, provenientes de regiões tradicionalmente ligadas ao vinho, com o Trentino, a Toscana, o Vêneto e Bérgamo (por isso é que gaúcho chama tangerina de bergamota, porque além da parreira eles plantavam árvores frutíferas). 

Eram unidos e trabalhadores. 

Mas o mundo gira e a lusitana roda…

Alceu Dalla Mole, que assumiu em 2012 a presidência do Instituto Brasileiro do Vinho – IBAVIN – com o desafio de promover a democratização do consumo do vinho e a sustentabilidade da cadeia produtiva, em entrevista à “bíblia” que é a Revista Baco na sua edição especialíssima — Vinhos do Brasil, de julho 2013, com versão em inglês, se diz otimista.

“Estamos dando continuidade ao trabalho iniciado em 2008 de reposicionar da marca “Vinhos do Brasil” conclui Dalla Mole.

E os produtores, enólogos e distribuidores festejam as atuais conquistas do mundo vitivinícola brasileiro. Segundo o Marcelo Copello — veterano batalhador, diretor editorial da Baco, autor de livros sobre vinho e blogueiro , a produção nacional em 2012, bateu os 300.000.000 (trezentos milhões) de litros!

E incorporou estados como Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Paraná ao mapa produtivo — ao lado, evidentemente, de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, redesenhando o mapa da vinha plantada no país.

E por conta disso, continua Copello, o Brasil já mostra boa presença no mercado internacional. É o décimo nono país em área cultivada e o décimo quarto em produção, em um mundo de cerca de duzentos estados nacionais. 

Ou seja, primeiro: o Brasil detém uma das mais avançadas tecnologias de toda a América Latina; segundo, embora o consumo ande à volta dos 2,2 litros ano/por habitante, não é exagero imaginar que podemos chegar a 5 litros ano de consumo per capita, como afirma o Sérgio Queiroz, diretor executivo dessa publicação, num futuro bem próximo; terceiro, nunca se investiu tanto “em vinho”, em divulgação, publicidade e mídia em geral, incluindo blogs, sites e redes sociais, abordando todo o universo desse precioso líquido. A ponto de já ocuparmos uma posição expressiva como exportadores.

Em Londres, mês passado, encontrei num gastropub de Wimbledon — The Lawn Bistro — um Cabernet com Shiraz, Vinibrasil, da nossa querida Petrolina na carta de vinhos!

E este ano até o Papa Francisco provou um vinho … paulista.

Já não se fazem mais argentinos como antigamente…

Redação

3 Comentários

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  1. preço palatável?

    Creio que os vinhos brasileiros estejam melhorando, mas não tenho certeza pois faz tempo que não os provo. Mas dai dizer que um vinho entre 47 e 59 reais possui preço palatável ai já é demais. Comparemos os preços de um vinho com qualidade razoável, como disse o comentarista, que ficaria, em Portugal, por exemplo, em torno de 10 euros- Vinha Grande, Casa Ferreirinha(30 reais). O que será que o faz o vinho no Brasil custar caro? Impostos? Não creio que seja tanto, há algo errado nessa política de preços dos produtores brasileiros. Nessa toada, não vão conseguir conquistar o público brasileiro, pois entre um vinho como La Linda, em torno de 35 reais e um desses do mesmo calibre e qualidade em torno de 50 reais, o nacionalismo vai por água abaixo.

    1. “O que será que o faz o vinho

      “O que será que o faz o vinho no Brasil custar caro? Impostos?”:

      Nao, a possibilidade de “cairem do ceu” um monte de “incentivos” para a exportacao.  Essa eh a razao que vinhos brasileiros custam MUITO mais barato no exterior do que no Brasil.  Era assim com os sapatos mineiros tambem, de couro, carissimos no Brasil antes de serem exportados  Hoje ja nao sei mais mas me disseram ha uns 8 anos atraz que a industria da sapatagem foi arrazada por barbeiragem governamental.  Porque eu compraria um sapato brasileiro de 50 dolares quando so tive um par de sapatos na minha vida que custou um absurdo 55 dolares, por exemplo?  Era um tenis Wilson, indigo blue, como vou resistir?

      Quanto aos vinhos, o ultimo vinho brasileiro que achei casualmente (pois quem esta intencionalmente procurando alguma coisa acha tudo do Brasil) eu notei aqui no blog (com um “eu vi o futuro!”) porque estava a 4 dolares a garrafa, e nao era ruim de maneira nenhuma -note se, nao bom, mas nao era ruim.

      Quanto ao Brasil, francamente:  eu nunca tomaria vinho la.  Meu dinheiro nao eh capim.

    2. Concordo contigo em número,

      Concordo contigo em número, genero e grau. E digo mais, 10 euros já é muito! A partir de 4 euros já se encontram vinhos bastante razoáveis em Portugal. Acho ridículo, mau gosto mesmo, um Salton Desejo (desejo de que?) custar R$ 60 e picos. Com esses aproximados vinte euros compra-se um prá lá de clássico Pera-Manca branco, vinho que se levado a um juntar para o qual foste convidado, vão te tratar feito lorde (ou louco, por gastar tanto numa única garrafa). Essa coisa de tentar igualar vinhos nacionais aos estrangeiros pela margem de preço é simplesmente ridícula. Ridícula!

      Em tempo, e verdade seja dita, faz em terras tupiniquins ótimos, senão excelentes espumantes. Inclusive alguns bem em conta.

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