Custos de produção na agropecuária e as vilanias de Ronaldo Caiado

 
Custos de produção na agropecuária 
 
Carta Capital
 
Apesar do uso maior de inovações, muitos agricultores dão mole ao azar, na forma de aplicações intensivas e comodistas de insumos tradicionais, caros e crescentemente cartelizados
 
Na última coluna fui incisivo quanto à situação ainda confortável da atividade agro. Acrescentei, porém, que ciclos positivos assim, passam por reversões.
 
Leio manchete de jornal: “Construção vive pior fase desde 92”. Alguém duvidou que esse momento chegaria? O mesmo com a venda de carros.
 
A queda dos preços das commodities agrícolas, nas Bolsas de Nova York e Chicago, há meses aqui prevista, se confirma e causa apreensão no campo. Em 12 meses, caíram quase 20%, em média, com destaques para algodão (28%) e soja (26%). Por outro lado, no mesmo período, o dólar valorizou 26%. Ajudará.
 
Embora não pretenda fazer da coluna antidepressivo e desestimular quem já vasculha a discoteca em busca dos clássicos de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), acho bom que assim o seja. Trata-se de um alerta.
 
Apesar do uso maior de inovações, muitos agricultores dão mole ao azar, na forma de aplicações intensivas e comodistas de insumos tradicionais, caros e crescentemente cartelizados.
 
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), o custo médio dos fatores diretos de produção da soja transgênica na região, deverá aumentar 6,5% para a safra 2015/16. Aí incluem-se sementes, fertilizantes, defensivos, operação de máquinas, mão de obra, assistência, transporte, armazenagem e impostos. Do total, 75% são representados pelos insumos.
 
Agrônomos, técnicos agrícolas, mesmo biólogos e ecólogos, sem rabo preso com lucros exigidos pela indústria, empregos e salários, têm pleno conhecimento de produtos e manejos alternativos capazes de reduzir tais custos.
 
Nem mesmo é necessário grande aparato tecnológico ou fenomenal descoberta. Existem disponíveis tecnologias que amenizam o impacto no bolso do produtor rural, mantendo o solo em condições ideais para absorção de nutrientes e resistência diante de estresses hídricos, pragas e doenças. De quebra, ajudam na preservação ambiental.
 
Não devo nem posso fazer aqui indicações comerciais. Também não é preciso. Constato-as por onde ando e vejo que são conhecidas da maioria das revendas, lojas agropecuárias e cooperativas que comercializam esses insumos.
 
Há, no entanto, uma vasta teia de interesses cruzados e obstáculos contrários a tais apropriações tecnológicas. Envolvem desde a aprovação do produto comercial no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), até o poder de divulgação e lobby dos fabricantes multinacionais, passando pelo acomodamento ou falta de pesquisa do agricultor.
 
Alie-se a isso o tratamento desfocado e sem recursos que as instituições oficiais de pesquisas dão a esses desenvolvimentos.
 
Os fabricantes desses produtos têm perfis de pequenos e médios. Apesar de utilizarem matérias-primas de baixo custo, a maioria extraída de materiais orgânicos e naturais, e processos de produção pouco complexos ou exigentes em maquinários, perdem o fôlego financeiro na hora de enfrentar os aparelhos regulatórios, de comercialização, distribuição e divulgação.
 
Outro custo inevitável é o de convencimento, desnecessário no caso das multinacionais. Doa-se o produto para testes, banca-se o apoio técnico do plantio à colheita, e reza-se para que tudo dê certo e a lavoura produza mais 10 sacos por hectare. Às vezes, nem assim.
 
Vivo de ver isso acontecer. O produtor até pode apostar mais uns poucos hectares no tratamento, mas o grosso continuará nas altas aplicações de agroquímicos. Caso vençam todos esses obstáculos, ainda assim faltará capital de giro para financiar os agricultores no período de safra, a exemplo do que fazem os fabricantes de agroquímicos.
 
É o golpe fatal, onde os agricultores bobeiam e só acordam quando a crise bate à porta.
 
“Política”, por Aristóteles
 
Não creio que os escritos do filósofo grego, que morreu na Atenas de 322 a.C. tenham interpretação política para o dito abaixo.
 
“Lula tem postura de bandido. E bandido frouxo! (…) Lula e sua turma foram pegos roubando a Petrobras e agora ameaça com a tropa MST do Stédile e do Rainha para promover a baderna”.
 
Talvez a observação fosse cabível em roda de amigos, numa churrascaria de Brasília, frequentada por políticos ricos e bregas embriagados pelo som berrante de dupla neo-sertaneja.
 
Baixarias assim, no entanto, hoje em dia, vão mais longe através do “qualquer nota” imbecil das redes sociais e seus replicantes. A elegância acima saiu do twitter de Ronaldo Caiado, líder do DEM no Senado.
 
Eleito deputado federal, por Goiás, em cinco legislaturas, tornou-se senador e líder do DEM, no último pleito eleitoral. Deve a longeva vida política à defesa intransigente de qualquer causa que beneficie o que a agropecuária e o agronegócio têm de pior.
 
Conte-se aí destruição de biomas, voto contra a PEC do trabalho escravo, apoio ao lobby dos fabricantes de agroquímicos, e seguidas críticas à agricultura familiar, assentamentos rurais e direitos indígenas.
 
Quando obra fora do seu penico, pensa como o execrável deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Assim que lançado o programa Mais Médicos, fez o corporativismo mais anticastrista do que o de egressos da Ilha para Miami.
 
É exemplo de como não devem ser vistos agropecuária e agronegócio. Radical, caolho, com baixo entendimento de atividade complexa nas   interações econômica e social, o ativismo político de Ronaldo Caiado contribui para que os ruralistas continuem tão malvistos pela sociedade brasileira.
 
Redação

5 Comentários

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  1. Ronaldo Caiado é a

    Ronaldo Caiado é a personalização do atrazo que é imposto ao Brasil por séculos…..além de médico medíocre, é fanfarrão, e ignorante……agora ungido ao senado terá campo fértil para continuar sua sanha de ódio e perseguição aos progressistas……

  2. caiado representa o atraso e

    caiado representa o atraso e acaba prejudicando a imagem do agronegócio

    por causa de suas atitudes inadmissíveis, retrógradas  e abomináveis…

  3. Um exemplo

    O Rui preferiu não entrar em exemplos específicos de produtos que funcionam, pois aí os porta-vozes das multis iriam cair de pau encima dele. Mas aqui vão só dois exemplos:

    1) A pendenga da aprovação da atual formulação da vacina anti-aftosa (oleosa) pelo Ministério da Agricultura, cuja tecnologia foi desenvolvida por um laboratório nacional, mas que só foi liberada depois que as multis desenvolveram a mesma tecnologia.

    2) O uso das folhas, torta ou óleo de neem (planta de origem indiana super bem adaptada ao Brasil) para controle de carrapatos e mosca do chifre, com excelentes resultados, baixíssimo custo, e impacto ambiental próximo de zero.

    As multis não deixam que pequenas empresas brasileiras registrem os produtos no Ministério da Agricultura e pressionam qualquer cooperativa que os estejam revendendo, para impedir que ocupem o mercado. E continuam vendendo seus produtos caríssimos, que intoxicam os animais e deixam resíduos para os consumidores, impactando negativamente o meio ambiente.

       De que forma as multis impedem que esses produtos sejam registrados no Ministério da Agricultura e ganhem mercado???

       Ganha um doce quem adivinhar.

    1. Sem dúvida, meu caro,

      Toda a razão. Poderia juntar aos seus exemplos, pelo menos, mais 50, nas áreas de saúde animal e vegetal, nutrição, etc. A propósito, no Globo Rural de hoje, na TV, foi tratado o tema dos custos de produção na agropecuária, infelizmente, apenas pelo lado da repercussão da alta do dólar. Nenhuma palavra sobre essas tecnologias nacionais, alternativas, que independem do dólar. Abraço.

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