Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Da China ao Brasil, as crises magnificadas ou anunciadas, por Rui Daher

Bolsa de Xangai

Por Rui Daher

Antes de reproduzir neste GGN, a minha coluna em CartaCapital, neste 13/03/2016, expresso um desejo: quero um PT pra chamar de meu, como o que me iluminou desde a sua fundação em fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo.

Coluna na Carta Capital

Crises quando magnificadas ou insistentemente anunciadas vêm como pragas egípcias. Folhas, telas cotidianas e economistas por elas ouvidos foram informados que é disto que o povo gosta.

Em certos setores da economia até entendo. O mau e velho jogo de comprar na baixa e vender na alta é excitante. Apostar em cavalos e cassinos também. Servem àqueles da nota só: aumentar os juros e cortar custos desempregando trabalhadores. 

China

Desde 1978, com mudanças econômicas promovidas por Deng Xiaoping, a China cresceu em taxas aceleradas, acima dos dois dígitos. Em alguns anos passou de 15%.  Entre 2004 e 2011, a economia hegemônica já no bambeio, o crescimento real do PIB chinês foi, em média, de 10% ao ano.

Analistas começaram a dizer que tal evolução não era saudável e poderia levar a economia chinesa ao desastre. O Partido Comunista Chinês (PCC) concordou e começou a tomar medidas para o pouso.

Passou-se, então, a discutir se ele seria suave ou forçado, algo como as penas de um cisne e um lutador de sumô. De 2012 a 2014, desacelerou para o alvo indicado, média de 7,5% ao ano, fim da era dois dígitos.

Não faz um mês, anunciado o crescimento de 6,9% para o PIB chinês, em 2015, economistas-demônios soltaram o clássico: “O Menor Crescimento em 25 Anos”. Céus e bolsas mundiais caíram. A manada focou uma só direção e estropiou as cercas da economia no planeta.

Os mais idosos lembrarão de um centroavante de Corinthians, Santos e América do México, o Zague. Muito rápido, sua característica era baixar a cabeça e disparar com a bola. Não confirmo, mas há quem diga que, em certo jogo, sem perceber, não parou, atravessou a linha de fundo, e varou o alambrado do Pacaembu. É como fluem as análises econômicas no Brasil.

Querem ver? Em pouco mais de um mês, vocês brincaram o Carnaval e aprenderam o que é condução coercitiva e tiro-no-pé, certo?

Vamos ao The Wall Street Journal, 07 de março: “Commodities dão impulso a uma nova alta nos mercados emergentes”.  Mais: “China deixa de lado reforma e opta por PIB”.

Notícias boas para países desgraçadamente exportadores de commodities, em especial agrícolas, bem em todos os cantos do Brasil. Etanol e boi? Sim, basta a lupa: o primeiro foi prejudicado pela política do governo e uma larica de açúcar; o segundo queixa-se do custo dos insumos dolarizados, embora em fevereiro tenha exportado 14% a mais do que em 2015. Em dólares.

Embora, hoje em dia, a China seja um dos países mais estudados no planeta, deixa a impressão de ser cada vez menos entendida, sobretudo quando vistos apenas aspectos e índices econométricos.

Pensem no maior navio do mundo já construído, o “Prelude”. Flutua com gás natural liquefeito da Shell. Seu casco tem comprimento maior do que a altura do Empire State Building (NYC).

Caso ele precise mudar o sentido de sua viagem levará algum tempo, certo? Mais: e se a decisão só for tomada depois de uma assembleia de tripulantes? Provável estar encalhado no Piscinão de Ramos.

Dá-se o mesmo com a economia chinesa. É paquidérmica, mas como o “Prelude” sua transição é demorada, tem comando centralizado e não ouve ninguém.

Palhinha: A ChemChina iniciará, em 23 de março, a oferta pública para aquisição da totalidade das ações da Syngenta. Nem tão paquidérmica assim.

Brasil

Em artigo para o Jornal GGN, de Luís Nassif, escrevi o seguinte: “Entre 2002, último ano do governo FHC, e 2010, final do mandato de Lula, o PIB nominal brasileiro cresceu a uma taxa de 4,23% ao ano. Foi de R$ 1,491 trilhão para R$ 3,887 trilhões, um aumento de 160%. Nos três anos seguintes, com Dilma Rousseff, chegou a R$ 5,316 trilhões, quando desacelerou e entrou em crise”.

Não menti. São números reais, apenas não admitidos pelos editores das Organizações Globo. Outras publicações, também rasteiras, seguem a mesma cartilha. Em vão. Influem aos já influenciados e são inermes a quem pensa.

Assim como reconheço vários equívocos na política econômica praticada no primeiro governo Dilma, alerto que o planeta vive uma crise de crescimento desprovida de horizonte palpável e que a comparação da debacle brasileira atual se faz com os extraordinários índices atingidos até 2012.

Por que, então, o desespero? Acertem aí a carroça. Tivemos uma eleição.

Agro

Lembram-se de quando íamos nos ferrar por que a China iria importar menos soja do Brasil? Hoje: “A China aumenta as importações de soja e o Brasil é o país mais favorecido”.

“Milho safrinha? Ninguém vai plantar”. Hoje: “Demanda explode e faz preço disparar”.

Recessão em 2015, né? Sem dúvida (-3,8%). Deve ter sido culpa da agropecuária que só cresceu 1,8%. Atenção campesinos, caboclos, sertanejos e ruralistas, vamos trabalhar mais. As instituições financeiras precisam de vocês!

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

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  1. “…foram informados que é disto que o povo gosta”

    Rui, Excelente Artigo.

    Os Indicadores Econômicos já começam a melhorar (Inflação, por exemplo).

    Se é Verdade que o Lava-Jato roubou 1,5% do PIB, e a Estiagem/Energia e Câmbio aceleraram a Inflação, então, com o final destes fatores, a Economia não será tão ruim em 2016 e 2017.

    Só um Reparo, a Esquerda Escreve de forma muito Rebuscada.

    Isso para um País de Analfabetos (de todos os Tipos) é fatal para a Esquerda.

    E, quando se escreve de forma clara, como o Artigo de hoje do Nassif (“dia D”) é para dar o tal “Tiro no Pé” da própria Esquerda.

    A Direita Orgástica Comemora que a Dilma está “Isolada, tanto pela Base como pelo PT”.

    Usando uma palavra do citado Artigo do Nassif, se a Dilma cair será um “Case” Mundial.

    Onde o Partido da Presidenta (PT), e os Jornalistas Progressistas, lhe deram o Tiro de Misericórdia.

    Afinal, para um País sem uma Oposição Decente, alguém tinha que fazer o Serviço Sujo…

  2. Faço meu o texto do comentário de Wong

     

    Rui Daher,

    Antes lembro de agradecer sua resposta, mencionado o disco de Edu Lobo e Betânia ao qual eu não havia dado atenção, ao meu comentário junto ao seu post “”Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho”, por Rui Daher” de domingo, 14/02/2016 às 09:29, aqui no blog de Luis Nassif e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.jornalggn.com.br/blog/rui-daher/alguem-me-avisou-pra-pisar-nesse-chao-devagarinho-por-rui-daher

    E em relação a este post seu post “Da China ao Brasil, as crises magnificadas ou anunciadas, por Rui Daher” de domingo, 13/03/2016 às 11:42, aqui no blog de Luis Nassif, além de fazer meu o comentário de Wong, observaria que o pior vai ser quando se descobrir que até aquilo que muitos consideram erro do primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff, como é tratada pelos economistas e analistas econômicos a política do primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff em relação ao Etanol – não é o seu caso porque você diz de modo apropriado de que o etanol “foi prejudicado pela política do governo” sem, portanto, dizer que a política econômica em relação ao Etanol estivesse errada – resulta da política mais acertada que o governo poderia tomar à época.

    Mencionei a política do Etanol porque Luis Nassif é um grande crítico da política adotada para o Etanol pelo primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff, esquecendo que o governo teve previamente a intenção de fazer uma desvalorização competitiva do real que daria mais fôlego ao setor exportador, e foi contido nessa política pela seca no Oeste americano que pressionou os preços das commodities no Brasil e essa pressão repercutia na inflação, e ao mesmo tempo o governo não podia criar benefícios específicos para o Etanol uma vez que a produção de cana de açúcar no Brasil utiliza as melhores terras e qualquer benefício específico acaba repercutindo na produção e nos preços das outras produções de alimentos pressionado de modo abusivo a inflação.

    E se você buscar informações sobre a realidade brasileira na nossa mídia, nem sempre será conduzido para o porto seguro da informação precisa e clara.

    O Eduardo Guimarães fez um post que até avança bastante no entendimento, ou talvez devesse dizer na falta de entendimento, das manifestações de junho de 2013, mas um pouco porque foi texto escrito no calor dos acontecimentos recentes e outro pouco porque ele faz um texto mais de crítica a esquerda que teria desencadeado aquelas manifestações sem entrar, portanto, no entendimento das manifestações em si e um tanto porque ele acertadamente reconhece a dificuldade de compreensão daquelas manifestações ele não consegue apresentar dois pontos importantes que eu considero em relação as manifestações, quais sejam, as causas daquelas manifestações e as consequências. O título do post é “A crise política que custou 20 centavos, por Eduardo Guimarães”, e embora eu não tenha conseguido ter acesso, o endereço é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-crise-politica-que-custou-20-centavos-por-eduardo-guimaraes

    Mais recente, Luis Nassif no post “Lava Jato: tudo começou em junho de 2013” de quarta-feira, 09/03/2016 às 00:45, trata das manifestações de março de 2013. No post você vai ver algumas informações que já eram sabidas, mas que não foram divulgadas, como a que a campanha contra a PEC 37 foi uma campanha de marketing. Eu, em princípio era contra a PEC 37, pois não via como não vejo razão para podar a atuação do Ministério Público, mas considerava que era uma questão a ser mais discutida, até porque eu nem sabia se a PEC 37 iria podar o poder do Ministério Público. E o que eu apontava de equivocado nas manifestações de junho de 2013 era o nível precário de informação que se tinha sobre qualquer assunto em discussão. Enfim ainda que eu apoiasse o uso do marketing no combate a PEC 37, duvido se a maioria dos que empunhavam os cartazes sabia o que significava aqueles cartazes com a mensagem contra a PEC 37. O post “Lava Jato: tudo começou em junho de 2013” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-tudo-comecou-em-junho-de-2013

    Pois bem, atrelar as manifestações de junho de 2013 com aquilo que foi o grande combustível para ela, ou seja, o julgamento da Ação Penal 470, não vai aparecer no texto de Luis Nassif. E o interessante que se faz uma campanha muito grande contra o comportamento do Judiciário tanto na operação do Lava Jato como no julgamento da Ação Penal 470, e, no entanto, ninguém percebe que muito provavelmente foram as manifestações de junho de 2013 que repercutiram na queda de investimento que ocorreu no terceiro trimestre de 2013. Não há nada no texto de Luis Nassif que fale sobre isso.

    Para você ter ideia do que ocorreu no terceiro trimestre de 2013 vou trazer os dados da taxa de crescimento dos investimentos a partir do 4º trimestre de 2012, quando se compara um trimestre com o trimestre imediatamente anterior (Mas considerados de modo dessazonalizados). E a obtenção de cada taxa de variação do PIB (crescimento ou decrescimento) será com base na informação que consta da última vez que o dado sobre a taxa de crescimento do investimento no trimestre aparece no relatório das Contas Trimestrais do IBGE. Assim, os dados sobre investimento no quarto trimestre de 2012, comparado com o terceiro trimestre de 2012 aparecem pela última vez no Relatório das Contas Trimestrais do terceiro trimestre de 2013, e assim sucessivamente, para os dados do primeiro, segundo e terceiro trimestre de 2013. Transportando, os dados são os seguintes:

    3º Trim   4º Trim   1º Trim   2º Trim   3º Trim   4º Trim

    2012        2012       2013       2013      2013       2013

                      1,8           3,9           3,4        – 1,7

    Essas taxas dessazonalizadas não servem para comparação precisa, pois os trimestres quando não dessazonalizados têm tamanho diferentes, mas os dados servem para dimensionar com razoável precisão uma tendência. Assim vou reproduzir os dados acima primeiro apresentando as taxas de variação do PIB trimestral mas anualizando as taxas e segundo, utilizando a taxa acima do comparativo de um trimestre com o trimestre imediatamente anterior, porem fazendo uma comparação do total de investimento no trimestre mas a partir de uma base 100.

    3º Trim     4º Trim    1º Trim      2º Trim     3º Trim     4º Trim

    2012          2012        2013         2013        2013        2013

                       7,4%       16,5%      14,3%     – 6,6%     

    100           101,8       105,8        109,4        107,5

    Tudo indicava que o PIB dos investimentos iria para um patamar de 112, mas infelizmente há uma queda para 107, 5. Enfim a retomada do crescimento dos investimentos que o governo conseguiu apoiado em uma política posta em prática nos dois primeiros anos do primeiro governo da presidenta Dilma Rousseff, sofreu um baque que a inviabilizou e deixou o governo sem alternativa a não ser insistir mais na mesma política para ver se conseguia dar tração aos investimentos. Infelizmente a insistência não trouxe resultados e dai em diante o governo não conseguiu mais acertar os rumos da economia. Agora pergunto, onde você poderá ter visto esse problema sendo apontado em qualquer artigo escrito por economistas ou analistas econômicos?

    Talvez por razões estatísticas a economia ainda tenha queda no primeiro trimestre de 2016, mas está tudo indicando uma retomada da economia a partir do segundo trimestre. Dada a realidade mundial será uma retomada lenta, mas já não há nenhuma manifestação como as de junho de 2013 e, portanto, não há o que temer na recuperação. Até porque o fator principal para a recuperação é a desvalorização do real que aumenta as exportações e abre espaço para a produção nacional substituir a importação e a presidenta Dilma Rousseff diferentemente de todos os presidentes que tivemos desde tempos imemoriais está comprometida com a desvalorização e sabe o quanto de injusta para os mais pobres é a desvalorização e, portanto é preciso que uma política assim seja acompanhada por medidas de defesa dos interesses das classes menos favorecidas. Com a recuperação se verá também que não é a operação Lava Jato que estanca a economia brasileira.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 13/03/2016

  3. Estranuamente, o Globo Rural

    Estranuamente, o Globo Rural de hoje foi todo êle prá baixo; medo dos coxinhas rurais cancelarem viagem a São Paulo. 

  4. os artigos do rui são sempre

    os artigos do rui são sempre bons porque tèm ótimas

    explicações sobre um monte de coisas interessantes…

    sempre um bom texto para curtir…

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